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Publicado a: 04/06/2018

Sequin: “Born Backwards simboliza a vontade e a urgência de ser fiel a mim própria“

Publicado a: 04/06/2018

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTOS] Direitos Reservados

Maio foi o mês escolhido para o lançamento de um novo capítulo discográfico de Sequin. Born Backwards é o título do segundo álbum do projecto a solo de Ana Miró.

Editado pela Leitura Tropical, o novo longa-duração de Sequin chega quatro anos depois do seu antecessor, Penelope. Se o disco de estreia foi produzido com a ajuda de Moullinex, da Discotexas, Born Backwards bebe do mesmo sítio. Desta feita, Xinobi ficou responsável pela produção.

No intervalo entre discos, Sequin aproveitou para lançar Edenem 2016, que teve ainda direito a uma segunda vida numa versão remisturada. Ana Miró, que na altura tinha lançado Penelope, foi um dos talentos no feminino que o Rimas e Batidas convidou para actuar no seu primeiro festival em nome próprio.

Em conversa com o Rimas e Batidas, a artista, que é natural do Alentejo, faz um balanço do seu percurso individual e aborda o caminho percorrido até Born Backwards.

 



Trabalhaste com os Heats e o Jibóia até te encontrares a solo no projecto Sequin. O que te levou a seguir um rumo mais solitário?

Por um lado, a vontade de querer fazer música ao meu gosto. Quando trabalhas em conjunto com outras pessoas, acabas sempre por te reajustares ao gosto de todos e fazer música que ressoe à personalidade de cada membro envolvido no projecto. Eu comecei a sentir uma grande vontade de seguir os meus gostos e fazer algo sem depender de mais ninguém. Uma das grandes inspirações para seguir este caminho solitário foi mesmo o Óscar Silva, aka Jibóia. Ele lançou-se a solo e eu senti que era algo a que me queria sujeitar e ver no que resultava.

Tu tocas, escreves, cantas. Há por ai um certo sabor a self-made na tua música e no teu trajecto. Viste isso como uma vantagem, uma necessidade ou um misto de ambos?

É sempre um misto de ambos mas ainda tenho alguma dificuldade em reconhecer o self-made como uma vantagem. Talvez porque às tantas se torne demasiado difícil de gerir… Tudo começou por uma questão de necessidade, eu precisava de fazer música, e na altura que comecei a compor para Sequin não consegui encontrar mais pessoas que quisessem seguir esse percurso comigo. E o que é facto é que eu já tinha trabalhado em banda e é muito complicado gerir tempos e vontades de várias pessoas. Então não esperei por ninguém, decidi iniciar o percurso a solo.

É um posto no qual vemos mais homens do que mulheres, mas, nos últimos anos e cada vez mais, têm surgido exemplos de grande qualidade no feminino. Sentes que o paradigma está a mudar? 

O paradigma está mudar, sem dúvida, mas ainda há um grande caminho a percorrer. Para mim, o mais importante, para além do género de quem compõe ou cria, é mesmo a qualidade e a genuinidade daquilo que é criado, seja por quem for. Acho que hoje em dia vivemos num mundo habituado a um consumismo veloz e, às vezes, a qualidade e a originalidade tornam-se obsoletas, tanto para os artistas, que sofrem com a pressão constante de terem de criar algo novo a toda a hora, talvez com receio de serem esquecidos, como para o público que acaba por não digerir o que sai cá para fora porque está demasiado apegado à novidade fugaz.

Tu lançaste o teu segundo disco no arranque de Maio. Deste lado, parece que estás a fazer tudo certo. Porquê o Born Backwards e de que forma é que essa expressão pode caracterizar o álbum?

Born Backwards porque eu senti que este trabalho cristalizava o nascimento de algo novo dentro do projecto. Penso o meu percurso em Sequin — até chegar a este álbum — como uma espécie de retrocesso. Não no mau sentido, mais numa perspectiva de olhar para trás e rebuscar a ideia inicial do projecto. Neste álbum exponho a minha luta com as expectativas e as dificuldades que senti ao longo dos últimos anos para continuar a criar e fazer da música a minha vida. Para mim, Born Backwards simboliza a vontade e a urgência de ser fiel a mim própria.

Alteraste algum dos teus métodos de produção/criação para chegar ao resultado destes 11 temas? Houve para aí algum software ou máquina nova que te tirasse o sono?

Confesso que não tenho nenhum método de produção/criação. Estou sempre a experimentar coisas novas e isso influencia a forma como cada música acaba por ser composta. Como ainda estou a iniciar-me nos meandros da produção, confesso que me distraio bastante com o Ableton Live. É um programa super completo, e não me ajuda a compor, porque acabo por vaguear, experimentar imensos sons e efeitos. Então, para este álbum utilizei como ferramenta de composição o Garage Band, porque é mais básico e fazia com que me focasse mais na música, na harmonia, do que nos pormenores. Só depois de ter tudo alinhavado a nível melódico e lírico é que passei para o Live e comecei a estruturar a produção das músicas.

 



Já tinhas trabalhado com o Moullinex e agora recorreste ao Xinobi, também da Discotexas, para te produzir o novo álbum. Explica-me um pouco desse processo. Ele também fez parte da criação ou continuas a ser tu que compões tudo sozinha e lhe apresentas um produto, ao qual ele apenas acrescenta alguns condimentos para adocicar a coisa?

Conheci o Bruno (Xinobi) quando gravei o EP de Jibóia, Badlav, e adorei trabalhar com ele. Senti-me muito à vontade e descobri que tínhamos muitos gostos em comum. Entretanto, ele convidou-me para tocar em Xinobi live, e aí tive a oportunidade de partilhar as experiências ao vivo. Acho que vibramos muito na mesma frequência. Quando tive de decidir quem iria produzir o novo trabalho foi quase natural escolhê-lo a ele. Tive sorte: alinhou! As músicas no Born Backwards são todas da minha autoria, excepto a “Loveless”, que abre o disco.

Aprendeste alguma coisa em especial com o Xinobi? Lembras-te de alguma história que tenha acontecido em estúdio e que te tenha marcado ou impressionado pela positiva?

Adorei trabalhar com ele, aprendi muito e fiquei super satisfeita com o resultado final. Aliás, não esperava outra coisa. Aconteceram muitas coisas em estúdio, tivemos um ano a trabalhar neste álbum, experimentámos muita coisa. O Bruno é um lobo solitário, ele gosta de fazer a magia dele a sós, e eu contrariei um pouco isso, porque me dava imenso gozo estar presente e também porque me fascina o método de produção dele, super meticuloso. Aquilo que mais me marcou foi a capacidade de trabalharmos quase sem falar. Houve vezes em que o Bruno até se esquecia que eu também estava no estúdio. Ficávamos a ouvir vezes e vezes sem conta poucos segundos de uma música, até ele acertar naquilo que a música pedia, e eu ia ouvindo e seguindo a lógica dele. Ele chegava ao sitio perfeito e eu quase não precisava de falar com ele, dar a minha opinião, era muito intuitivo. Ele conhece muito bem a minha música e sabíamos bem como queríamos que as músicas soassem. Só quando fazíamos pausas é que conversávamos, às vezes durante horas. Ouvíamos outras músicas para desanuviar e víamos vídeos no YouTube. Foi muito engraçado e produtivo.

Já tinhas experienciado o trabalho com o Bruno em “All Over Again”, embora tivesse sido ele a assumir a composição do tema. Como é que te sentiste a interpretar a música escrita por ele e o que destacas da tua passagem pelo Festival da Canção 2018?

Interpretar músicas do Bruno é algo muito prazeroso para mim, por isso, quando ele me convidou não hesitei e disse que alinhava em concorrer. O melhor da minha passagem pelo Festival foi sem dúvida poder continuar a trabalhar com o Bruno e as pessoas incríveis que tive o prazer de conhecer e partilhar experiências e histórias durante os ensaios e a semi-final. De resto, confesso que não é a minha praia, é todo um ambiente muito distante do público e daquilo que eu costumo fazer. Foi bom como experiência, mas acho que não voltava a repetir. Prefiro mesmo estar cara-a-cara com o público e não com um júri.

 


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