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Publicado a: 17/07/2018

Se o palco estiver a arder, culpem o Travis Scott

Publicado a: 17/07/2018

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] rayscorruptedmind

Contra tudo e contra todos. É assim que nos sentimos quando corremos atrás de um sonho, daqueles difíceis de alcançar. Os apoios escasseiam e cabe a cada um de nós, na maior e mais solitária das reflexões, colocar todos os argumentos na balança e partir para a decisão final. Nem sempre é fácil ajuizar os nossos próprios passos perante tamanha pressão, ao contrário da rapidez com que nos conseguimos colocar na pele de alguém que idolatramos enquanto recordamos o seu percurso — “miúdos, não tentem isto em casa!” devia vir rotulado em cada biografia que encontramos nas prateleiras de vendas. Um tiro no pé pode ser suficientemente profundo para andar coxo a vida toda.

Podemos enumerar os ingredientes a ter em conta na equação que ajuda a calcular a probabilidade para se ser bem sucedido na indústria musical. “Talento” será sempre a base para a fórmula e, às vezes, é o suficiente para que se possa abrir uma porta. Em época de redes sociais e ferramentas ou plataformas digitais, o “networking” é praticamente obrigatório, com vista a promover a arte de forma directa com alguém já no meio do circuito que possa desbloquear aquele impasse que separa um hit local de um tema globalmente viral. A “audácia” é também outro método de desbloqueio — o saltar por cima de uma barreira imposta por algo que nos rodeia e que nos prende a uma espécie de zona de conforto.

 



Travis Scott reúne todos estes elementos e destaca-se como um dos principais rostos de uma nova geração de artistas. Jacques Webster cresceu em Houston, Texas, no seio de uma família com ligações à arte do som. O que poderia parecer natural foi, na verdade, difícil para Travis. Os pais não viam com bons olhos que o filho envergasse por uma carreira no hip hop e foram vários os conflitos domésticos durante os seus primeiros passos. A irreverência levou-o a usar por diversas vezes o dinheiro dos seus progenitores para impulsionar o início da sua carreira. As batidas produzidas no quarto através do Fruity Loops voavam consigo até Nova Iorque ou Los Angeles, na tentativa de as fazer chegar aos ouvidos de gente com créditos firmados no circuito. Desse networking nasceram relações profissionais com Kanye West e T.I., os dois pesos-pesados que lhe ofereceram os primeiros dois contratos. Em 2013, com apenas 21 anos, Jacques Webster lançava a sua primeira mixtape a solo, Owl Pharaoh, pela Grand Hustle Records, selo fundado pelo veterano rapper de Atlanta, e era convidado por Yeezy a juntar-se ao seu luxuoso plantel da Very GOOD Beats.

Porém, é como produtor que “La Flame”, uma das suas alcunhas, causou as primeiras boas impressões junto dos “grandes”. Depois de estabelecida a ligação à GOOD Music, seguiram-se contribuições para álbuns como Cruel Summer, Yeezus, Hall Of Fame, Love In The Future ou até mesmo Magna Carta… Holy Grail. Meio mundo rendeu-se aos dotes de Travis Scott, mesmo com o diamante ainda por lapidar e a apalpar o primeiro troço de terreno com o lançamento de Days Before Rodeo, uma prequela para aquele que iria ser o seu disco de estreia. Rodeo saiu em Setembro de 2015 e confirmou todo o potencial que lhe era depositado. Travis assumiu a produção executiva do seu próprio álbum que teve hits à escala planetária, como são os casos de “Antidote”, “Nightcrawler” ou “3500”. Rodeo foi uma entrada a pés juntos, que recolheu críticas positivas e abriu caminho para o terceiro lugar na concorrida tabela da Billboard 200.

Apesar de ter dividido recentemente um disco com Quavo, dos Migos, Birds in the Trap Sing McKnight continua a ser a obra a solo mais fresca de Travis Scott, da qual provêm, muito provavelmente, grande parte do material que o rapper e produtor traz na sua bagagem até Lisboa, onde se apresenta ao vivo já no dia 20 de Julho, no âmbito do Super Bock Super Rock. A Grand Hustle Records, de T.I., continua a ser a parceira do artista de Houston nas edições, que viu Birds in the Trap Sing McKnight subir até à primeira posição da Billboard 200.

No segundo álbum, Travis Scott viu-se “armadilhado” pelo lado burocrático da indústria discográfica: os seus representantes atrasaram a publicação de todos os conteúdos de Birds in the Trap Sing McKnight. Apesar do sucesso comercial, este é o LP com menor grau de input criativo por parte de “Cactus Jack”. Além de ter aberto mão de quase todos os deveres enquanto produtor, o disco é moldado pelas contribuições dos convidados. BITTSM é, na prática, um projecto que compila talentos, em detrimento de servir como montra para o virtuosismo que Travis Scott transporta. É de salientar que a elite do hip hop norte-americano (e não só) percebe e apoia o artista de Houston. Não dá para dizer que não a um projecto que junta Kendrick Lamar, Andre 3000, Kid Cudi, Quavo, Young Thug, The Weeknd, James Blake, Boi-1da, Cardo, Murda Beatz ou Hit-Boy no seu alinhamento.

A forma como utiliza o auto-tune — “bebe” dos ídolos Kid Cudi e Kanye West –, o trap psicadélico e as explosivas e incendiárias performances ao vivo são três pontos fulcrais para entender o artista que, apesar do seu historial (os seus discos nunca têm lançamentos “normais”), poderá estar prestes a revelar Astroworld, um dos projectos mais antecipados nos últimos dois anos.

 


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