[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Hélder White
O segundo dia do Super Bock Super Rock começou com uma viagem ao passado e os Massive Attack foram os responsáveis por nos conduzir até lá. Os acontecimentos que têm abalado o mundo – esta semana com foco em Nice, França e Istambul, Turquia – não deixam que a música dos Massive Attack perca actualidade e continue a servir como pano de fundo perfeito para um futuro que se adivinha caótico.
A imersão total é uma constante na música gravada em estúdio pelos Massive Attack e ao vivo podemos ver um reflexo perfeito disso mesmo. As imagens por trás da banda que os acompanha – que nunca deixa de ser incrível ao longo do concerto – são uma complexa teia de informação que complementa na perfeição o som do grupo – que vai do canto sussurrado de “3D” e “Daddy G” à incrível voz de Deborah Miller.
Sem deixarem de ser actuais, a viagem foi marcada pelas canções antigas de clássicos como Protection, Mezannine ou Blue Lines, mantendo uma juventude duradoura em canções como “Unfinished Simpathy” – a faixa que fechou o concerto -, “Inertia Creeps” ou “Risingson”. A década de 90 marcou a carreira dos Massive Attack e teve o destaque merecido no alinhamento da noite.
Voltemos à informação. Os Massive Attack são perspicazes na forma como comunicam com o público e utilizaram o ecrã atrás deles para pegarem em títulos da imprensa portuguesa, onde podemos ver nomes como Luciana Abreu ou Cristiano Ronaldo entre os escolhidos, para mostrarem um pouco do que preenche o nosso dia-a-dia em termos de informação. Depois dos títulos, a intervenção social com os ecrãs a espelharem o famoso “Je Suis” com o nome das mais variadas cidades à sua frente. Os Massive Attack estão em missão humanitária de forma permanente.
A surpresa da noite ficou por conta dos Young Fathers. O conjunto de Edimburgo, Escócia, não é totalmente desconhecido – ganhou o Mercury Prize com o seu álbum de estreia Dead – e a audiência teve uma reacção esfuziante, demonstrando que os Massive Attack não têm só talento para criar música. A música de Young Fathers é difícil de explicar: tribal, pop e efusiva são as melhores palavras para o que se ouviu nas duas canções originais do grupo e nas outras duas que entram no último EP da banda de Bristol.
Sem puxarem muito pela máquina – que está muito bem oleada, diga-se -, os Massive Attack foram monstro libertador a mostrar o porquê de Bristol ter sido um dos pólos mais relevantes da música que virou o milénio e deram um dos melhores concertos destes primeiros dois dias.