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Publicado a: 04/11/2017

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[TEXTO] Moisés Regalado

Que se diga o óbvio sem pudor: There’s Really A Wolf é, mais que a afirmação, uma formalidade. Uma maneira de Russ se fixar na indústria enquanto percorre o caminho de sempre, single após single (que vai reciclando em vídeo de acordo com os números). Assim prova a recente e inédita colaboração com Scott Storch – inédita porque Russ, que não se cansa de o dizer, produz, grava, mistura e masteriza toda a sua música. Daí nasceram quatro novas faixas que somaram milhões de streams em poucos dias.

Mas porquê uma formalidade? Porque Russ, ainda que focado no seu método de trabalho, do qual parece não abdicar, quer ser número dois, atrás de Drake, para que depois lhe suceda. Assim afirmou em várias entrevistas anteriores ao álbum, no qual reforça a ideia dizendo, “Everyone scared to be number one/Fuck it, I’ll do it myself”. É essa oportunidade de figurar no meio que a Columbia lhe oferece, permitido-lhe compor uma obra convencional, feita à sua imagem, a partir de algumas faixas soltas que já tinham sucesso considerável.

 



Claro que podia ter editado de forma independente, mas a diferença estará na liberdade assegurada pela editora, que ao mesmo tempo lhe agiganta a estrutura e a promoção. É por isso que o seu nome continua a esgotar salas sem “abrir” concertos de terceiros, e é por isso que a fasquia se eleva dentro dos mesmos moldes, como prova a corrida aos bilhetes que esgotou o Coliseu dos Recreios em pouco mais de 24 horas. Só que There’s Really A Wolf também é uma afirmação genuína.

É recorrente ouvir o artista falar da batalha que travou sozinho durante os últimos anos. Foi durante esse período, em que lançou um tema por semana, quase sem feedback, que moldou a sua sonoridade. Daí que este primeiro registo major soe, antes de mais, a música caseira feita profissionalmente. Fale-se nos beats, que recuperam pianos supostamente caídos em desuso e que já não pareciam legítimos desde o auge do indie rap, ou nas back vocals, mais de acordo com o aconchego de uma masterização caseira do que com a cirurgia do estúdio.

O disco começa e acaba com “straight bars“, para que não haja dúvidas quanto às suas capacidades como rapper. E Russ é, no rap como em todos os aspectos da música que faz, simples mas completo. O conjunto representa uma verdadeira unidade, construída em torno de uma ideia distinta de música, ao contrário do que pode parecer, e bem resolvida no que diz respeito a referências. Faz rap e r&b mas, ao contrário da fórmula mais comum, não é frequente vê-lo utilizar a estética trap como veículo para juntar os géneros. Também porque não abdica da forte presença dos samples, a que dá vida sem a subtileza com que se ouvem na bass music.

Aquele que foi o ponto de partida para a oficialização do álbum é, ao mesmo tempo, o seu ponto mais alto. “Cherry Hill“, quarta música do alinhamento, representa o que There’s Really A Wolf ainda não é e o que Russ pode vir a ser. Trata-se de uma canção de outro nível, sem possibilidade de catálogo ou perspectiva de barreiras. O início deste trajecto, bem como a sua concretização em álbum, prova os pontos de vista de Russ e prepara os ouvintes para a continuação da surpresa. Sem que haja mais nada a provar, nem o posto de Drake será o limite.

 


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