pub

Publicado a: 25/05/2017

Rejjie Snow: a americanização de um irlandês

Publicado a: 25/05/2017

[TEXTO] Diogo Santos [FOTO] Direitos Reservados

Não é de hoje a ligação meio umbilical entre a Irlanda e os Estados Unidos da América. Para lá das cadeias de comida rápida, aqui a conexão transatlântica tem anos e anos de partilha cultural. É, para atalhar, mais ou menos o mesmo tipo de ligação que faz com que o Tony Carreira encha tudo o que é pavilhão de Lourdes para cima. Alexander Anyaegbunam (Rejjie Snow, para os amigos), filho de pai nigeriano e mãe irlandesa com raiz jamaicana é, e mesmo que não quisesse, um ser multicultural. Nasceu em 1993, no início da onda de investimento privado que transformou a Irlanda – crescimento económico a rondar os 10%; criação de um sistema de ensino gratuito que ajudou a formar uma geração de malta produtiva, etc. O que veio a seguir, lá para 2008… nós por cá ainda hoje o sentimos.

 



Em 1998 já cantava, talvez canções dos Queen, a banda preferida do pai. E não fossem as bandas sonoras de videojogos como Grand Theft Auto ou Tony Hawk’s Pro Skater e, se calhar, Rejjie teria sido um cantor popular. Afinal, Alexander Anyaegbunam era grande fã de George Michael. E a história incrível de quando o Pharrell deu a mão ao pequeno Alex de 12 anos para ele cantar a Rockstar em palco com os N.E.R.D.? Entre os 16 e os 22 anos, andou pelos Estados Unidos da América com uma bolsa de atleta para jogar futebol (e estudar)… Andou pelo estado da Florida e pela cidade de Los Angeles. “Desisti depois de ter feito upload de uma música para o YouTube e de ver a malta a curtir”, explica em entrevista à revista The Fader. E regressa à Irlanda para atacar com seriedade a carreira artística. Edita o EP Rejovich, em 2013 – só a capa do disco deverá chegar para se perceber alguns dos conflitos que habitavam a cabeça do adolescente que, na fase de botar corpo, apanhou com a #Irlandabem, os Estados Unidos da América e a #Irlandamal. Provocativo, talvez arrogante e ingénuo. Certo é que Rejjie deixou uma marca imediata ao ombrear com Kanye West e outros pelos ouvidos e cliques na Internet. E é impossível não associar o estilo e o flow da estreia de Rejjie com o que andava Tyler, The Creator a fazer naquela altura.

Com umas coisas espalhadas pelo YouTube, Rejjie conseguiu chamar a atenção da editora de Elton John, a Rocket Music. Depois, lá rubricou com a Kaya Kaya, de Londres, com quem lançou Rejovich. E no CV também constam as aberturas para concertos de Kendrick Lamar e DOOM. E até de Madonna, contacto a reter caso Rejjie precise de um quarto em Lisboa. Em 2016 assinou com a 300 Entertainment – uma espécie de academia do Seixal ou de Alcochete. É também o selo de Young Thug e de outros tantos jovens promissores. “O Rejjie é de uma nova geração de miúdos que não quer só fazer música e escrever canções. Esta nova geração tem uma mensagem e, para ser sincero, acho que têm mesmo coisas importantes para dizer. Não só é vital para a indústria como é vital para a cultura”, disse Lyor Cohen, CEO da 300.

 



O disco de estreia está bem encaminhado, terá o título Dear Annie e as mãos do produtor Rahki (Kendrick Lamar, Syd the Kid, Eminem, 50Cent…). Consta que, entre outras coisas, tem como inspiração uma ex-namorada. Embora a Annie seja somente uma figura fictícia. Claro, também já deverão ter reparado na mixtape The Moon and You, lançada gratuitamente no site de Rejjie aqui há uns dias.

Quantos rappers europeus conseguiram penetrar na máquina norte-americana de fazer artistas? Para Alex, talvez existam dois problemas: “o sotaque e as temáticas”, aspectos que o artista Rejjie Snow contornou sem fazer pisca-pisca. O irlandês parece querer manter-se fiel à cultura das ruas de Dublin, onde muitas vezes arriscou levar com o bastão da polícia que o queria impedir de grafitar paredes. Deste lado, fica complicado não reparar na dissonância. Tudo passa quando se carrega no play. É só música, mesmo que seja americanizada e feita em Dublin.

 


pub

Últimos da categoria: Ensaios

RBTV

Últimos artigos