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Publicado a: 12/10/2015

Regresso ao passado no RAP Talks com Rui Miguel Abreu e NBC

Publicado a: 12/10/2015

[TEXTO/FOTOS] CATARINA CRAVEIRO

 

É o primeiro dia da série de três palestras idealizadas por Marta Borges e pela Fundação Cultural Arte à Parte. Pôr toda a gente a falar de um assunto que se sente essencialmente confortável a ser escutado foi corajoso – a sala cheia mostrou que há público que valoriza a teorização do movimento hip hop. A noite foi marcada por duas novidades, o lançamento do novo álbum de NBC em 2016 e a promessa enigmática de voltarmos a ouvir falar do álbum Beats Vol 1: Amor, de Sam The Kid.

Rui Miguel Abreu e NBC comandaram as hostes, teorizando em cima da prática. Eles que curiosamente têm sido companheiros nesta jornada da consolidação do rap, desde o dia, há 15 anos atrás, em que NBC aproveitou o facto de se terem cruzado no Lux para oferecer ao jornalista uma cópia do primeiro álbum do grupo que tinha com o irmão Black Mastah, Filhos d’1 Deus Menor.

Desde os tempos em que um qualquer telejornal português apresentou uma peça em que mostrava o Break Dance como uma nova loucura nascida nas ruas de Nova Iorque até à actual explosão do rap em Portugal, muita coisa mudou. Passou de uma ilha deserta, de um círculo fechado onde todos se conheciam para o género musical mais popular entre os jovens.


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Sentado no sofá das atenções, Rui Miguel Abreu tem ar de adolescente destemido movido pela música e a cadência de palavras de quem já anda nestas andanças há muitos anos. Colaborador da Blitz e mentor do projecto Rimas e Batidas, tanto esta casa como o programa de autor na Antena 3, tem andado de mão dada com o rap desde 1989, altura em que colocou as primeiras considerações sobre este género num artigo que retratava o envolvimento político e social do grupo americano Public Enemy. Mais do que uma forma de liberdade de expressão, RMA vê no hip hop uma ponte valiosa para a abertura de mentalidades, já que oferece uma educação contínua e constante e de alguma forma conseguiu reconciliar a música portuguesa com a sua língua mãe.

Fascinado pelo poder transformativo do rap, a audiência segue o seu fio de raciocínio quando defende a relação directa entre a transformação que o hip hop operou na sociedade e a chegada ao poder do primeiro presidente negro nos Estados Unidos, Barack Obama. Tem sido o acordar de uma geração.

Reviver o percurso de RMA foi mote para conhecermos em que condições se traçou o lançamento do álbum de Sam The Kid Beats Vol 1: Amor e, sem poder adiantar muitos pormenores, prometeu que este será um álbum que voltará a ser falado nos próximos meses.


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Na segunda parte da conferência, o rapper NBC remete a audiência para os tempos em que não havia nem Facebook nem YouTube nem microfones e computadores acessíveis. A rádio era um portal para um mundo distante, proporcionou àquela geração um primeiro contacto com o rap e, consequentemente, uma chamada de atenção para temas que também faziam parte da realidade portuguesa, como a segregação racial e social materializada nos bairros periféricos a Lisboa. Em conversa com o Rimas e Batidas, Timóteo Deus Santos confessou ser um defensor desta iniciativa, “não me lembro de ter havido algo do género e é muito importante presenciar, ouvir as histórias que cada um de nós tem para contar, para que as pessoas mais novas ou as menos entendidas no género possam compreender o que se passa, como as coisas estão neste momento e qual foi o processo todo que nós tivemos que passar até chegar aqui.”

Depois de viajar pelas dificuldades que os rappers enfrentaram para tornar o rap o que é hoje, NBC dá uma mensagem de incentivo a quem começa agora a escrever as primeiras rimas: fazer acontecer, fazer por si próprio com dedicação cega e gana; é extenuante mas dá frutos. Os mentores do movimento tiveram que suar para abrir caminho, para tornar o rap um género tão digno como os outros. NBC habituou-se a ser músico, cantor, director de fotografia, realizador, manager, engenheiro de som, e foi esta dedicação que lhe permitiu não ficar para trás. Hoje já ter a sua banda, chegar ao backstage e ser tratado como artista respeitado foi a grande conquista. “WE MADE IT“.

O after party, que se seguiu à conversa, acontece aqui mesmo, no Mercado da Ribeira, com DJ CruzfaderHolly a guiarem a ambiência sonora.

A próxima sessão é já no próximo dia 15 de Outubro, pelas 21h30, e vai pôr à conversa Rocky Marsiano e Nel’Assassin. Os pratos ficarão entregues a DJ Big e Fresh P.

 

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