[TEXTO] Sonja Camara
O único dia em que Prince Rogers Nelson se aproximou da Terra foi o de 21 de Abril de 2016.
Compulsivo e infinito. Voz, cordas acústicas e eléctricas, baixos, caixas de ritmos, teclados, coreografias, composição e produção, palmas, finger slaps, sintetizadores. Era tudo ele e dele. Andrógino na alma e inabalável no centro de um labirinto de cruzados hardcore, sensuais e sofridos. Pavões a baterem-se em funk, electro, rock and roll, RnB muito bossy com metal e percussão misturados com no wave, disco, pop e rap transgressor.
Um Império foi o que nos deixou. E a tarefa de o conter ou contar é quase irrealizável.
Não é à toa que se auto resumiu a um símbolo indecifrável.
Esta é minha colecção de singles e momentos que eu amei e amo. É simples. Entre colaborações, produções alheias, construções e material esquecido, perderia anos luz a chegar à ideia de um destino.
Mas tenho esta lista que é minha e não quer ser nada mais que uma partilha.
E a prova que, espirituais, the Lord above, sexo e amor, podiam estar juntos na mesma rotação.
Ontem foi um dia mesmo pesado.
“Just as Long as We’re Together” – For You [1978]
Single doce do seu primeiro álbum que, tal como tantos outros, foi 100% composto e interpretado por ele num esquema Wonderiano de RnB, pop e disco. Suave.
“I Wanna Be Your Lover” – Prince [1979]
Mais disco-pop cantado no falsetto que tanto amo.
Amor e mais amor.
“Sexy Dancer” – Prince [1979]
Follow up single do mesmo álbum. Sensual e a fusão sonora a despertar o mood neo soul e parliament funkadélico.
“Dirty Mind” – Dirty Mind [1980]
A distanciar-se do RnB tranquilo e aveludado dos primeiros dois álbuns. Oralidade sexual em funk robótico.
“Controversy” – Controversy [1981]
“People call me rude, I wish we were all nude/I wish there was no black and white, I wish there were no rules.”
FUNK a disparar como um jacto e uma marcha de sintetizadores.
Uma das melhoras faixas de sempre a ouvir num dancefloor. Sarcasmo e libertação.
“All The Critics Love You In New York” – 1999 [1982]
Lado B do single Little Red Corvette. Pura seda. Drum machine sintetizada.
O Moodymann sabe. Ele veio aqui.
U can dance if U want 2
“When Doves Cry” – Purple Rain [1984)
When Doves Cry não é uma canção. É um ritual de passagem. Um portal.
Percussão nunca ouvida. Um choro vindo do futuro de um coração partido. O mundo inteiro curvado.
A primeira vez que percebi o que era sexo.
“America”- Around The World in a Day – Prince and the Revolution [1985]
Ultimo single do álbum Around The World In a Day. Sardónico e crítico.
Puros rifs Prince.
“Girls & Boys” – Parade – Prince and The Revolution [1986]
(Soundtrack album do seu segundo filme: Under The Cherry Moon)
Funk lânguido e sleazy. Prince em attire gigolo como nosso mestre de cerimónias.
Aquele keyboard peculiar e caricatural literalmente em quacks.
Wendy & Lisa nos vocals. Tudo perfeito.
“Alexa de Paris” – Mountains single B-side [1986]
“Mountains” foi um dos singles de Parade e este tema o seu lado B.
Instrumental de guitarra em riste. Azeiteiro e a roçar limites de opereta. Dorido e sincero. Sheila E. nos drums a resolver tudo.
“Sign O’ The Times” – Sign O’ The Times [1987]
Mantra e oração vindo de um dos álbuns mais conscientes e despertos de Prince.
Funk soul psicadélico sob a influência de peyote.
“Scarlet Pussy” – I Wish You Heaven B-side – Lovesexy [1988]
Lado B de um dos singles do álbum Lovesexy e atribuído ao seu alter ego Camille.
Explícito e em diversão maior. Vocais aceleradas e desaceleradas a dividirem-se em personagens. Slow motion funk.
E a aguentar ser o lado B de um single de estrutura gospel.
“Batdance” – Batman [1989]
Caótico e maniqueísta. O maior mash ups de todos os universos paralelos e existentes em Prince.
A divisão coreografada entre o Bem e o Mal. Sublime
Um dos meus primeiros discos.
“Thieves In The Temple” – Graffiti Bridge [1990]
Tema do soundtrack album da sequela de Purple Rain.
“Thieves In The Temple” tem uma forma oriental e layers delicados. Drum machine em batida cardíaca.
Emocionada, é a faixa perfeita para um comeback de um coração desmanchado.
“Get Off”- Diamonds and Pearls – Prince and The New Power Generation [1991]
Os anos 90 a chegar a Prince.
Se o James Brown entrasse numa cápsula do tempo e viesse até aos 90s faria este tema.
“I like them fat I like them proud” e assim body image issues resolvidos. Obrigada.
Puro napalm e tesão.
“Thunder” – Diamonds and Pearls – Prince and The New Power Generation [1991]
A fatalidade sempre presente. Drama Prince com aquele hook oriental e espiritual.
“My name is Prince” – Symbol Album – Prince and The New Power Generation [1992]
Manifesto absoluto e absolutista. Hip hop power.
Pouco depois muda o nome para um símbolo enigmático e ambíguo.
“Space” – Come [1994]
Bliss RnB dos 90. Instrumentais sedosos e apaixonados. Pura feel good music.
A lembrar o Prince de “For You” the 1978.
A par de “Letitgo”, também deste álbum, um dos meus temas preferidos desta década que lhe foi pouco grata.
“Superfunkycalifragisexy” – The Black Album [1994]
Não coerente mas catchy. Funk fest pastiche de um álbum que deveria ter sido editado em 1987.
“Pussy Control” – The Gold Experience [1995]
Que mais posso acrescentar? Empowerment ou delírio?
“U are, was, and always be Pussy Control”
“Rave Un2 the Joy Fantastic” – Rave Un2 the Joy Fantastic – (1999)
Rock ‘n’ roll rave em câmara lenta.
Um álbum fraco mas uma canção silly em bom.
“Life ‘o’ the Party” – Musicology [2004]
Um bom momento num álbum que é um underachivement mas ainda assim um dos melhores desta década e anos subsequentes.
“Black Sweat” – 3121 – [2006]
RnB vigoroso e em forma. O Gett Off dos 2000.
Electro acústico pessoal e afirmativo.
Seksy.
“HARDROCKLOVER” – Hit n Run Phase One [2015]
Psicadélico e histriónico. O falsetto Prince a guiar-me e a lembrar-me outros momentos. Mais sublimes.