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Publicado a: 01/12/2017

#ReBPlaylist: Novembro 2017

Publicado a: 01/12/2017

[FOTO] Sebastião Santana

Se o frio começa a apertar lá fora, o Rimas e Batidas reage, em força, com uma variedade de canções quentes. De Fábia Maia a Richie Campbell, passando por Blasph e Sean Leon, as escolhas de Novembro são uma viagem pelo “novo” r&b português e um encontro com flows sedosos e versos ácidos.


[Kayuá, Sant] “Registro II”

Jay-Z e Kanye West, Snoop Dog e Dr. Dre, Pete Rock e CL Smooth: a história do rap está cheia de “bromances” que devem à união muito dos seus sucessos, nos bastidores e no palco. Claro que muito desse mesmo sucesso se deve ao facto de conseguirmos perceber nos duos as potencialidades individuais. Juntos são incríveis porque separados já são, eles mesmos, geniais. Kayuá e Sant, MCs dos Rio de Janeiro, confirmam a teoria ao trazer para a nova escola do hip hop lusófono mais um matrimónio que começou a dar frutos com a fundação do colectivo “Do Mundo ao Norte”, juntamente com Tiago Mac. De Sant já tínhamos falado por aqui e, talvez não por coincidência, BK avançava ao Rimas e Batidas a partir de São Paulo que a dupla era das que mais davam que falar no rap do Rio. Tem coisa sem explicação. Só quem é vai me entender.

– Núria R. Pinto


[Fábia Maia] “Melodia-me” feat. Slow J

Fábia Maia começou por se tornar conhecida com os vídeos em que fazia covers cantadas e com uma guitarra acústica de faixas de hip hop português. Neste percurso — que passou também pela primeira edição do Festival Rimas e Batidas, no Cinema São Jorge, em Lisboa — acabou por começar a trabalhar nos próprios temas e a cruzar-se com pessoas que se revelaram essenciais nos seus projectos.

Falamos, por exemplo, do produtor SuaveYouKnow (também conhecido como Forever Suave e até J-Cool), ou do engenheiro de som Michael Ferreira, da Sine Factory — nomes afiliados a Jimmy P, com quem também colaborou. Gson e Slow J também são artistas próximos que trabalharam com a cantora portuguesa. É com este último que partilha o tema “Melodia-me”, o primeiro avanço do EP de estreia.

Curioso como faixas de rap de rua, tão mais agressivas e sujas, possam acumular tantos milhões de visualizações em comparação com uma canção destas. “Melodia-me” é orelhuda sem nunca se aproximar, nem de longe, do abismo do foleiro e do demasiado pop. Uma voz reconfortante, bonita, delicada, suave, quase perfumada — e com um beat perfeitamente a condizer (o nome do produtor também é coerente). Slow J é a cereja no topo do bolo, mas todo o talento de Fábia Maia vale por si. Uma letra que fala sobre peripécias de amor, como todo o trabalho de oito faixas que se aproxima.

A popularidade do rap em Portugal tomou proporções quase inimagináveis e o mesmo podia acontecer com esta pequena nova vaga de R&B ligada ao hip hop que teima em não florescer de vez (e que lá fora tanto sucesso tem). Tem potencial — e, sobretudo, merece-o — para conquistar largos milhares de fãs e as tais (tão faladas) milhões de visualizações. Esperemos que este seja um dos primeiros de muitos passos de Fábia Maia na música portuguesa. Deste lado esperamos ansiosamente para ouvir o futuro.

– Ricardo Farinha


[Blasph] “Incandescente” 

Também há tipos assim: guiados apenas pela arte, alheios a tudo o resto, a tudo o que, na verdade, é puramente acessório. São raros, mas existem e essa é uma ideia a que nos podemos justamente agarrar, para que tudo o mais se encaixe e faça sentido. Blasph é um desses tipos.

Recentemente ouvimo-lo ao lado de Beware Jack no enorme OProcesso, um disco que mereceu o estatuto de clássico mal saiu. E agora, o rapper da Margem Sul acaba de lançar Stracciatella & Braggadocio. Não é apenas um ep com o melhor título de sempre. É também um novo clássico, que sucede a Frankie Diluvio Vol. 1, de 2013, e que volta a impor o nome de Blasph no presente. E como é que se consegue tal proeza? Simples, se calhar terem Blasph por nome: com rimas afiadas, um flow altamente personalizado, imagens de rua reais, cruas e nuas, com metáforas que são a força do seu ego, a medida do seu secreto génio, a prova de uma insuperável classe. Não há tipo mais cool do que este Frankie Balázio. Blasph é um MC que os outros MCs estudam em segredo, um artista que os outros artistas invejam., um rapper que não sabe fazer outra coisa que não seja elevar a fasquia da arte. O que é um problema para todos os que navegam também as agitadas águas desta cultura. É que têm saltar sempre mais alto para chegar lá. E então? Qual é o vosso sabor favorito? Stracciatella ou Braggadocio?… Pode ser uma bola de cada? Não é gelado, é mesmo “Incandescente”…

– Rui Miguel Abreu


[Richie Campbell] “Water” feat. Slow J, Lhast

“Water” tinha um problema à partida: as expectativas. Desde o lançamento de “Do You No Wrong”, Richie Campbell atravessa a fase criativa mais interessante da sua carreira; Slow J intrometeu-se na conversa de “gente grande” desde o lançamento de The Art of Slowing Down; Lhast é, sem sombra de dúvida, um dos melhores produtores dos últimos anos.

Num trio deste calibre, o resultado final poderia ficar aquém das tais expectativas, mas aconteceu exactamente o contrário. O português e o inglês fluem como água – sim, aproveitamos a deixa – e o instrumental, que partiu de Richie Campbell, mas que se transformou num bombom r&b nas mãos de Lhast, é, ou deveria ser, o exemplar necessário para causar uma explosão num género musical pouco explorado em Portugal. Recentemente, o líder da Bridgetown e artistas como Cat Boto ou Fábia Maia têm feito canções nesse campo e apontam o caminho para a frente. Quem sabe se o r&b não se torna tendência em Portugal durante o próximo ano…

– Alexandre Ribeiro


[Sean Leon] “Parkdale Cartel Freestyle II”

Tudo está bem quando acaba bem. É assim o mês de Novembro, com a chegada de um novo projecto de Sean Leon – que até já nos tinha dado o pujante I Think You’ve Gone Mad (Or The Sins Of The Father) em Fevereiro deste ano. A sonoridade do canadiano não para de sofrer mutações e “Parkdale Cartel Freestyle II”, o tema introdutório de C.C.W.M.T.T., é uma volta de 180 graus nas tendências sónicas que Sean tem protagonizado até agora. A entrada com a voz em pitch up, melodicamente ao estilo de Drake, é o engodo perfeito para o que salta para os nossos ouvidos 40 segundos depois. A batida adopta um registo minimal que rapidamente nos remete aos anos de ouro de Odd Future – linha de baixo à javardolas a bombar por entre um kit de bombo e tarola secos, tipo que acabámos de comer frango com as mãos e a camisola é a única superfície disponível para as limparmos. Sim Sean, conseguiste ser assim tão imundo.

“A desk job I don’t attend
No boss, no punching-in
But punchlines puncture ribs
And pump blood through the skin”

Jack Rochon, que ajudou em grande parte da produção do disco anterior, assina o instrumental de “Parkdale Cartel Freestyle II”, co-produzido por Bijan Amir, beatmaker que recentemente ouvimos ao lado de Offset e PARTYNEXTDOOR. O tema, embora em nada se assemelhe ao que sobra de C.C.W.M.T.T., é um belo exercício para Sean Leon nos mostrar o motivo pelo qual nunca deve desaparecer do nosso radar. É a afirmação de que, mesmo estando a jogar para um campeonato hip-pop, quem respira hip-hop nunca esquece.

– Gonçalo Oliveira

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