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Publicado a: 05/04/2016

#ReBPlaylist: Março 2016

Publicado a: 05/04/2016

[FOTO] RJD2 por Dan McMahon

Em Março, há muito para ouvir nas escolhas da equipa ReB. Do hip hop nacional – que aparece em maioria! – de Blasph & Beware Jack, Profjam, L-ALI e PESCA, Carlão e ProfJam, passando pelos beats de Riber Tiber com Pusha T & Kaytranada, até às novas malhas quentes de RJD2 e A.K. Paul, ou a electrónica do norueguês Lindstrøm há por aqui muitas pistas para se compreender o presente. É muita diversidade que podem começar já a saborear. Outra novidade do mês é que a partir de agora teremos também as nossas malhas favoritas do mês reunidas numa playlist de Spotify que vos pode acompanhar para todo o lado – desde que estejam disponíveis no serviço de streaming, pois claro. Façam favor!


[River Tiber ft. Pusha T & Kaytranada] “Illusions”

Zane Lowe estreou a nova faixa de River Tiber no seu programa Beats 1 e mostrou o seu espanto ao longo da conversa pela efervescência que se vive em Toronto – um espanto que é justificado pela qualidade dos nomes referenciados pelo novato, que vão desde Drake a BADBADNOTGOOD. O álbum de estreia do músico canadiano está prestes a sair e traz na bagagem Pusha T e Kaytranada, dois pesos pesados no que toca aos seus quadrantes, que são encaixe perfeito para criar uma faixa onde as frequências graves e as drums fazem a cama para os vocais sem grandes artifícios de Tiber e o braggadocious flow do ex-Clipse.

Alexandre Ribeiro


[Blasph & Beware Jack] “Johnny Crime”

OProcesso é um dos factos incontornáveis deste arranque de ano, um álbum de rap sério, sobre concreto boom bap desenhado pelo arquitecto Kilú, prémio Pritzker graças às linhas clássicas, mas ainda assim plenas de arrojo dos seus edifícios sonoros. Nos microfones, Blasph desfila mais punchlines do que a saga inteira de Rocky e Beware alterna entre uma postura meio clown, meio dramática. Juntos provam que os opostos se atraem e que até podem impor ordem ao universo.

Dias depois de ter OProcesso em repeat nos ouvidos deu-me vontade de recuperar Marcberg de Roc Marciano. Fiquei com um largo sorriso nos lábios ao perceber que foi esse o prelúdio sonoro escolhido para antecipar a subida de Blasph e Beware Jack (mais Dj Nel’Assassin) ao palco do Santiago Alquimista para a apresentação do álbum OProcesso no passado dia 25 de Março. Com o MC americano, esta dupla tuga partilha as mesmas visões incisivas sobre a cidade e os seus meandros mais obscuros, um certo pendor cinemático nas observações e um recorte dramático que tem tanto de fantasia como de real, tanto de ficção como de documentário.

“Johnny Crime” é um bom exemplo: beat sujo como as ruas antes de passar o camião que com os jactos de água faz o que a personagem de De Niro desejava em Taxi Driver quando exclamava “i wish a rain would come to wash all the filth off the streets”. E depois o retrato verbal: “De A a Z teve todas as hepatites / matou a mãe com um AVC, ouviu-se gritos”, garante Blasph enquanto o Senhor Alfaiate de serviço vai usando os arranhões certeiros no vinil como virgulas e pontos finais e reticências ou pontos de exclamação para o retrato falado. O vídeo ainda não estreou e eu já vi o filme todo!

Rui Miguel Abreu


[RJD2] “Your Nostalgic Heart and Lung”

O artista que vive entre samples e sintetizadores lança-nos numa viagem espacial. Pelo menos é ao que soa “Your Nostalgic Heart and Lung”, música lançada no novo álbum, Dame Fortune, de RJD2 – na foto. Surpreendente é pouco para descrever esta faixa progressiva, que nos leva a uma viagem ao futuro pelos olhos Ramble Jon Krohn. Constituída por uma frota de sintetizadores que não caem no erro de procurar nostalgia em excesso, esta música merece ser ouvida em colunas e com volume, os vizinhos que nos perdoem. Mais atmosférica do que activa, o essencial é deixar a sonoridade embrulhar-nos e fazermos o trajecto de uma só vez. A passagem para o hiperespaço está reservada para o final num solo de bateria de colar à cadeira com o cinto apertado e o tabuleiro recolhido para a descolagem.

Amorim Abiassi Ferreira


[Lindstrøm] “Closing Shot”

Imerso em trabalhos de remisturas e em colaborações menos óbvias com Serena-Maneesh e Todd Rundgren, o norueguês regressa à essência que o tornou num mago pop dos tempos modernos. “Closing Shot” é, por assim dizer, Lindstrøm vintage. Por aqui paira uma visão progressiva da disco onde cada elemento parece borbulhar da melhor forma possível, sempre em sentido ascendente e deixando para trás um rasto de cor e de brisa matinal. Uma trip baleárica absolutamente perfeita que nasce a partir de uma batida simples e a que juntam, a seu ritmo, detalhes melódicos e a inevitável linha de baixo que emoldura o cenário de pré-verão. Tratam-se de oito minutos de êxtase lento que toca o céu sim, mas que nunca comete o mau gosto de detonar-se por capricho gratuito. Para já, um dos momentos mais vibrantes de 2016.

Nuno Afonso


[A.K. Paul] “Landcrusin’”

Os portáteis são cenas que se gamam muito. Que o diga o Kanye West, que teve de pagar 250 mil dólares a um primo para ver o seu de volta. Ou o Jai Paul que não voltou a pôr os olhos no seu. Gamar portáteis é errado, claro. Mesmo quando o acto dá origem a temões como “Real Friends” (2016) ou à partilha na rede das 16 fabulosas demos de Jai Paul (2013). Dizem agora que o Jai Paul e o seu mano A.K. Paul têm um novo projecto chamado Paul Institute e que a estreia oficial de ambos se fará num longa duração sob o beneplácito desse misterioso nome (que tanto pode ser o de um disco, como o de uma banda ou editora, sou uma pessoa muito ignorante). Para já, para tornar as coisas ainda mais confusas, há uma nova faixa que vem assinada por A.K. e que soa a Jai Paul a dar uma de Prince em Dirty Mind, isto é, a despejar sensualidade sobre um groove límpido, sintético e angular. Tendo em conta a parcimónia com que os manos partilham a sua música com o mundo, está na hora de fazer figas para que ambos continuem a ser desleixados com os seus portáteis. Gamar é feio, repito.

João Pedro da Costa


[Carlão] “Hardcore”

Romance, sedução, prazer e sexo. Carlão está como peixe na água a falar sobre estes prazeres da vida. “É aí que me liberto/é aí que eu me assanho”. Escreve sem complexos, desinibido e até lhe manda com algum humor: na hora em que o bicho pega, “lá se vão as louças”. “Hardcore” é uma das quatro faixas do novo EP do rapper  de Almada que celebra um ano do seu regresso às rimas com Quarenta. Do alinhamento fazem parte dois temas já divulgados anteriormente – “Na Batalha” e “A minha cena”. Este “Hardcore” é uma bela surpresa, a começar pela escolha do produtor com quem fez o beat: Moullinex traz para esta faixa uma batida quente, com baixo meloso, acompanhada por um riff de guitarra eléctrica quase distorcida, como se estivesse a gritar “segurem-me que eu rebento já com o amp!” – um pouco como aquilo que Carlão vai dizendo, apontando para as irresistíveis curvas que o narrador vê à sua frente enquanto promete, assanhado, “partir a casa toda”.

Bruno Martins


[ProfJam] “Queq Queres”

Já há um bom par de anos que ProfJam é uma das maiores promessas do hip hop nacional. No fim de Março lançou o segundo trabalho, Mixtakes, e, depois de “Além”, “Queq Queres” é o single perfeito para desvendarmos uma obra que merece ser escrutinada com atenção, por contraste à velocidade da luz em que tudo circula hoje na Internet. Beats variados, embora a soar menos a trap que The Bigger Banger Theory, um Prof que cospe poesia introspectiva com sentimento e que não tem medo de experimentar flows diferentes e de usar a voz. Um bom mote para apreciarmos o conjunto de Mixtakes deste rapper perfeccionista que só promete ainda mais.

Ricardo Farinha


 

[L-ALI & PESCA] “Planta Carnívora”

Depois de várias tracks juntos, em Março chegou o primeiro projecto em comum entre L-ALI e PESCA. Em “Planta Carnivora” vemos o rapper a salvar “o mundo lentamente, a 65 BPMs” industriais construídos pelo produtor. Um egotrip alucinante conotado por uma escrita muito crua, a combinar com a sonoridade dos beats. A revolução sonora continua a borbulhar no underground e este EP, BAÇO, é fruto de uma boa dose de experimentalismo na construção dos instrumentais, criando a ordem no meio do caos do ruído. Espremendo o hip hop que encontramos dentro da bass e glitch music. Provando que a poesia urbana tem fome de abraçar novos conceitos e desafios e aposta em não seguir o óbvio, criando tendências muito próprias.
Gonçalo Oliveira


 

[PLAYLIST ReB – Março 2016]
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