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Publicado a: 30/06/2015

#ReBPlaylist: Junho 2015

Publicado a: 30/06/2015

[FOTO] Direitos Reservados

 

A turma do Rimas e Batidas de regresso às escolhas do mês. Hip hop em maioria, mas também uns rasgos de techno ousado. Acima de tudo, um mosaico de lançamentos no último mês, LPs, EPs e até faixas soltas, sem editoras nos calcanhares. Para pressionar o play e rasgar o Junho do calendário.

 


 

[Panda Bear] “Crosswords (Pete Rock Remix)”
(Domino Recording Co)

E o círculo completa-se: foram alguns dos breaks clássicos do hip hop, tornados monumentos por gente como Pete Rock, precisamente, que inspiraram o mais recente trabalho de Panda Bear, Meets the Grim Reaper. Agora, Pete Rock remistura “Crosswords”, tema que em breve deverá surgir num EP de remisturas de Panda Bear. Boom bap psicadélico da mais elevada ordem num gesto de clara justiça poética que alinha as energias de um mestre e de um discípulo em três minutos de luz branca.

 


 

[Thundercat] “Lone Wolf and Cub”
(The Beyond / Where The Giants Roam EP, Brainfeeder)

Após ter colaborado de forma intensa em dois dos grandes colossos produzidos este ano pela música negra norte-americana – To Pimp A Butterfly de Kendrick Lamar e The Epic de Kamasi Washington -, Thundercat apanha-nos desprevenidos com um EP que, em apenas 17 minutos, nos mostra o lado lunar da fúria expressiva dos seus parceiros musicais. Embora continue a partilhar a mesma obsessão pela morte exibida por Flying Lotus em You’re Dead!, o tom é aqui marcadamente mais melódico e soturno. “Lone Wolf and Cub”, a faixa mais longa de um disco miseravelmente curto, opera uma nada óbvia fusão entre uma balada folk de inspiração barroca, uma batida oriunda das paisagens menos áridas do hip hop e arranjos jazzísticos em que se destaca o virtuosismo de Herbie Hancock nas teclas e o do próprio Stephen Breuner no baixo. O seu habitual falsete soa paradoxalmente mais contido e expressivo que nunca e todas as peças são dispostas de forma sublime pela mão cada vez mais segura de Steven Ellison. Mais disto, por favor.

 


 

[General Magic & Pita] “Dope Fridge”
(Fridge Trax Plus, Editions Mego)

Reedição aumentada de um dos discos definidores da electrónica pré-milenar, quando tudo caminhava para o caos mas ainda não o era por inteiro. “Fridge Trax” apareceu em 1995 como um dos mais consequentes roteiros pós-techno para nos indicar por onde seguir até ao ano 2000. Lindo, então como agora.

 


 

[DJ Satelite feat. MC Nell C & Mestre Dangui] “Macabre Dance”
(Seres Produções x Djs4Africa)

DJ Satelite é um produtor de Luanda, produziu Lambas e Bruno M, trabalhou com Batida de Pedro Coquenão, fez nome no kuduro mas nos últimos anos tem vindo a abrir o espectro da batida que produz e a aproximar-se do afrohouse, mantendo sempre um estilo particular. “Macabre Dance”, com a cabo-verdiana MC Nell C e o angolano Mestre Dangui, é um híbrido com linha, uma rítmica circular e adesiva e voz usada para marcar a batida e acentuar as quebras e inflexões. As palavras são como os beats, marcam o compasso, repetem-se mas são mutáveis, têm vida própria e seguimo-las como se fossem tambores. Tradição e futurismo numa faixa escaldante que revela até que ponto pode ser avançada a musica feita em África actualmente. Malha hipnótica e contagiante.

 


 

[Angels Dust] “Haunted”
(Slow Tapes EP, Hit + Run)

A fertilidade musical da Califórnia cresce a uma velocidade tal que, nos dias de hoje, dar ouvidos a uma faixa oriunda desse estado representa normalmente abrir as portas para outras cem malhas de algum modo associadas a essa. Descobrem-se excelentes surpresas através desse processo. Pegue-se por exemplo em “Haunted”, momento de contraste entre a voz luminosa de Flavia e a atmosfera medonha criada pelo produtor David Lampley, para ter noção do que fazem os Angels Dust no novo EP Slow Tapes (edição da venerável Hit + Run). “Haunted” reúne ecos de industrial e trip-hop com elevada carga sensual, ao mesmo tempo que explica um percurso de influências que partiu dos Portishead e de Tricky, passou por Zola Jesus e Grouper (entre outras tantas), e que agora parece retomar à casa de partida em Bristol. Dissecamos a faixa e entre as componentes encontramos também um boom bap renovado a que os discos da Hit + Run dificilmente resistem. Tudo isto passa pela mão de David Lampley, nome que, ao ser escavado, leva primeiro a Psychopop e depois ao catálogo fascinante da Skrapez. Está tudo ligado nesta Califórnia nunca dorme.

 


 

[The Internet feat. Kaytranada] “Girl”
(Ego Death, Columbia)

Os The Internet juntam-se ao produtor haitiano-canadiano Kaytranada e dão-nos a banda sonora para uma dança no canto mais escuro da festa. Sintetizadores dreamy e linhas de baixo funky aconchegam a voz de Syd Tha Kid, numa amostra do novo álbum Ego Death. Uma balada electrónica para nos ajudar a encontrar a rapariga dos nossos sonhos.

 


 

[bizZarh] “Dragon”
(Self-Released)

I’m restin’, why you bitch niggas testin’? / why you flexing? I’m fresher than the freshman / speak good into existence, never stressing / though it’s depressing, I’m hardbody.

É com estas cordenadas iniciais de “Dragon” que nos vemos a atravessar um imenso oceano cósmico para então atracamos nesse porto estelar que é bizZarh. Donas de uma abordagem extradimensional que deixariam os Shabazz Palaces orgulhosos e um compromisso ético reconhecido em Erykah Badu, as jovens Dollar Paris e Charli Champ continuam a acrescentar motivos para as seguirmos com a devida atenção.

Sem certezas quando ao tão esperado álbum que tarda em aparecer, este é mais um tema que surge sempre em boa altura e que se encaixa às peças anteriores que o duo canadiano tem vindo a partilhar nos últimos meses. Ainda mais enigmático que o registo habitual, “Dragon” alcança voo plano através de um beat atmosférico (assinado pelo produtor KIN) que se funde com a languidez da voz e o enlevo das palavras. É nelas que descobrimos o teor político ou filosófico que fascina as bizZarh num discurso que se assemelha mais a um conjunto de observações acutilantes e certeiras. Soul astrofísica, R&B aquoso, o que quiserem chamar. Seja lá o que for, sentimos que estão no caminho certo de algo maior.

 


 

[Joey Bada$$ feat. Maverick Sabre & Dyemond Lewis] “On & On”
(B4.Da.$$, Cinematic Music Group)

Décima-primeira faixa de B4.Da.$$, primeiro trabalho de Joey Bada$$. Esta é faixa que comprova a versatilidade deste rapper em trabalhar sobre diferentes plataformas sonoras. Neste caso, a produção em estilo R&B de Freddie Joachim associa-se à história da perda de alguém próximo de Joey. Uma faixa cujo instrumental e liricismo caminham de mãos dadas, ambos no mesmo pedestal qualitativo.

 


 

[João Tamura feat. Miguel Cruz e Rebeca Reinaldo] “d e s e r t o s”
(Self-Released)

Um cocktail explosivo de imagem e áudio que apela aos nossos sentidos através da sensualidade e do desejo. João Tamura tem sido a lufada de ar fresco na cena spoken word nacional pelos mais diversos singles e pequenos projectos que tem vindo a desenvolver. Será desta que aí vem um álbum?

 


 

[Pete Rock] “Dilla Bounce (R.I.P)”
(PeteStrumentals 2, Mello Music Group)

Reza a lenda que James Dewitt Yancey disse a Pete Rock, quando o conheceu, que tinha o sonho de ser como ele. J. Dilla viria a tornar-se uma das maiores lendas do hip hop – que partiu cedo demais. Celebremos os que vivem: Pete Rock é um mestre à antiga, da escola clássica, que nos transporta para o momento em que está sentado no estúdio: ao ouvir as suas produções damos por nós a imaginá-lo a trabalhar diante do MPC, sujo, velho, desgastado, a cortar e a colar beats com um bom gosto extremo. Essa é uma marca de todos os seus trabalhos e PeteStrumentals 2, editado a meio de Junho e de onde extraímos “Dilla Bounce (R.I.P.)”, não foge a esses cânones. Um baixo forte e permanente a aguentar o sample de uma orquestra de sopros que vão nos conduz por esta faixa de homenagem a Jay-Dee, que não tem ponta de saudosismo: apenas celebração.

 


 

[Vince Staples] “Summertime”
(Summertime ’06, Def Jam)

Faixa carregada de melancolia, profundezas sentimentais que pretendem assomar-se sobre o ouvinte e o deixá-lo irreflectidamente taciturno. Vince Staples é um jovem de apenas 22 anos (a completar no dia 2 de Julho) que viu e viveu demasiado em adolescente: pertenceu a um gangue, vendeu droga nas ruas de Long Beach, California, por incentivo do pai e assistiu à morte de uma série de amigos. A vida pesa sobre os seus ombros e Summertime ’06 é a confrontação com esse fardo, com um passado pesaroso. É o regurgitar de memórias que estão tatuadas na mente e que precisam ser exorcizadas.

“Summertime” é a faixa onde baixa a guarda e reflecte sobre um amor profundo, ao mesmo tempo que esboça um sentido perdão que se entrelaça liricamente com as teclas cósmicas de Clams Casino. É humano. É o génio de um rapaz que que foi resgatado das ruas pelo hip hop.

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