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Publicado a: 04/01/2018

#ReBPlaylist: Dezembro 2017

Publicado a: 04/01/2018

[FOTO] Deck 97

Sim, ainda estamos a pensar em 2017. O mês de Dezembro foi pródigo em novidades no universo musical português e as escolhas de faixas de Kappa Jotta, Conan Osiris, Mundo Segundo & Sam The Kid e Pedro Mafama para esta lista são um reflexo da variedade em território português na recta final do ano — a excepção é Ocean Wisdom, rapper britânico.

 


[Kappa Jotta] “Homie”

A faixa que se segue serve de representante do mais recente projecto do rapper da Linha de Cascais, lançado aí em meados de Dezembro. Ligação é o último acto do (já de si) sólido reportório do artista que pauta por possuir a voz mais rouca da Primeira Liga do Rap Tuga, dentre outras valências.

À semelhança das esmagadora maioria das restantes faixas, também esta enaltece o storyteller e punchliner de excelência que vive em Kappa. Adicionou-se aos ingredientes supracitados a produção de Holly e pós-vários de Here’s Johnny e Khapo: o resultado é uma mistura rara entre melodia hipnótica e rimas rudes no conteúdo mas hábeis na hora de se conectarem entre si. Ao unir-se estrategicamente a produtores de indiscutível destreza e comprovada habilidade, demonstra que não só conhece as valências que possui, como também é lúcido e lesto a reconhecer as limitações que lhe são inerentes: pelo flow, pelo peso que incute aos versos e pelo próprio timbre, nem sempre o que “cospe” é de fácil audição; com produções de excelência – tal qual a presente – as características exibidas encontram parceiras à altura, encontrando espaço de sobra para sobressair.

O passo final na consolidação de um artista tristemente pouco valorizado está dado e não foi nada curto.

– Samuel Pinho


[Conan Osiris] “Adoro Bolos”

Um arranque dramático, existencialista, de profundas questões filosóficas: “às vezes nem a noite nem Deus / nem diabos nem ateus / nem a terra nem os céus / querem resolver o meu problema”. E qual é o grande problema de Conan Osiris? Algo que aflige muita gente e a que ele mesmo responde: “e o problema é / eu adoro bolos”. E ainda acrescenta: “no meio de um duchaise o que é que há? / no meio de um guardanapo o que é que há?”, pergunta Conan, enumerando também a torta (de Azeitão? Saloia?…) e os queques (da Linha? De noz?…) como tormentos antes de rematar: “se não ‘tas lá tu no meio”. O amor, afinal de contas, é a coisa mais doce. E quando vem embalado em ironia inteligente, em electrónica feita dos detritos esquecidos pelo bom gosto, com uma voz que se transmuta de Variações em Frei fadista ou de cigano alentejano em xunga de subúrbio, o que se obtém é certamente digno de interesse universal. E quando tudo isto acontece numa só canção temos que saber reconhecer que estamos perante coisa séria…

– Rui Miguel Abreu


[Ocean Wisdom] “Brick Or Bat”

O que fazer perante um byter? Dar-lhe com um tijolo? Um taco? A resposta é do próprio Wizzy e nem sequer requer o contacto físico – o mago britânico dos flows a altas rotações soltou o segundo avanço de Wizville alguns dias antes do Natal. 

Apesar das hipóteses oferecidas pelo título da faixa, “Brick Or Bat” não oferece escolha possível. Ocean Wisdom protagoniza uma nova tareia lírica e impõe a sua lei perante o movimento hip hop do Reino Unido. Há dúvidas? Perguntem a Piers James, que viu o seu “Samurai” reduzido a cinzas depois do furto ao baú das batidas de Muckaniks, o produtor que rapidamente se rendeu ao MC de Brighton e não pensou duas vezes perante a oportunidade de ver o seu instrumental renascido. Depois de Dirty Dike e Kidkanevil, este pode muito bem vir a ser o novo parceiro de sonho para as rimas de Ocean Wisdom. Os próximos capítulos chegam em breve, com a High Focus a prometer Wizville para a fase inicial de 2018.

– Gonçalo Oliveira


[Mundo Segundo & Sam The Kid] “Brasa”

Dispensam apresentações demoradas. Mundo Segundo e Sam The Kid não quiseram fechar 2017 sem nos deixar mais uma faixa, a terceira, do tão esperado álbum de ambos –  “Tu não sabes” saiu em 2015, “Também faz parte” está cá fora desde Julho de 2016. O beat é do canadiano Marco Polo que tem direito a uma referência de Mundo nesta música: “Há espontânea combustão entre o verso e o refrão, enquanto marco no do “Marco” que é um “Narco” na produção!”. O refrão é cantado por Zacky Man, dos Supa Squad, e, confesso, desde que ouvi esta música tenho imensa dificuldade em controlar que não me saia da boca um desafinado “incendiáriooo” sempre que vejo ou oiço algo que o mereça. O beat convida a abanar a cabeça, mas assim que Mundo e Sam entram de rimas afiadas é impossível não ser toda-ouvidos. A complexidade da lírica, a velocidade do flow, a inteligência das palavras. Sim, uma música quente de egotrip, mas que não se transformará em cinzas como outras.

– Alexandra Oliveira Matos


[Pedro Mafama] “Torneira” (Prod. Pedro, O Mau e Ex.Libris)

Pedro Simões foi uma das grandes surpresas de 2017. Má Fama, o EP de estreia, condensa a diversidade de influências do artista, repescando géneros como kizomba, fado e trap para criar o “novo fado”. A faixa “Torneira” destaca-se das demais e, como não poderia deixar de ser, é uma belíssima produção de Pedro, O Mau (com a ajuda de Ex.Libris). Os ingredientes? Flow lisérgico e instrumental que poderia ter sido feito a quatro mãos por Metro Boomin e Branko. De Lisboa para o mundo.

– Alexandre Ribeiro

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