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Publicado a: 11/05/2017

Raw Union: da Rússia, com amor analógico

Publicado a: 11/05/2017

[TEXTO] Diogo Santos [FOTO] Direitos Reservados

Se tiverem carro, peguem nas chaves do bólide. Se não tiverem, peguem nas chaves de casa e façam de conta. Agora continuem a fazer de conta que estão a arrancar para uma viagem assim meio planeada em cima do joelho – só com mochila, passaporte e umas bolachas do tipo Maria. Ah, é claro que têm um depósito quase eterno de combustível (ou baterias, se optarem por um veículo eléctrico e mais amigo do ambiente) que vai dar, no caso, para ir até São Petersburgo e voltar.

Vruummmmmm….

E já estamos na Rússia, a mochilar num sofá do apartamento de Discotopia, fundador da Raw Union, em 2016. A ele, depois juntou-se St Theodoré. Os dois são, por esta altura, quem ouve as demos e as experiências que lhes chegam um pouco de todo os cantos do mundo – Alemanha e Ucrânia, por exemplo – , mas, sobretudo, da Rússia: “A maior parte dos artistas que editamos são russos, mas também temos material de outros países. Recebemos imensas coisas. Bom, quase tudo o que recebemos, acabamos por editar”. Nas plataformas digitais onde se abre ao globo, a Raw Union é tão somente um rótulo de “sons analógicos industriais”. Para ajudar e atalhar caminho, aquilo é techno e é house e é outras coisas pelo meio. Mas é tudo feito com fogão, bilha de gás, azeite, cebola e alho mal picados. Nada com essas panelas tecnológicas que se parecem com máquinas de vending de trazer por casa. “Os nossos artistas têm idades entre os 18 e os 25 anos e cada um deles tem a sua forma de criar. Um até anda a explorar sons com o lendário Roland Juno-106. Outro usa leitores de K7 e VHS, e depois passa tudo por sequenciadores”, explica-nos, sem personalizar a coisa, o manager da Raw Union.

 



Nem repararam, mas na mochila também colocaram um mapa. A ideia era ir meio à descoberta, mas às vezes a necessidade pode apertar. A escutar BRTS, Discotopia, St Theodoré ou Bongobanda, é impossível não nos lembrarmos das sonoridades às vezes meio sujas e experimentais de ilustres como os Boards of Canada, ou daquela composição rítmico-agressiva dos Daft Punk do Homework. É meio que inevitável atirar para cima da mesa aquele que é (é, não é?) o nome mais consensual da electrónica russa dos últimos anos – Nina Kraviz. E, claro, a dupla disco-funk-electrónica-meio-espacial de Kim & Buran, sobretudo por utilizarem somente material analógico. “Não é que queiramos ser diferentes… Mas não há, na verdade, movimentos ou editoras ou artistas nos quais nos consigamos rever. Ao longo do tempo, acho que desenvolvemos um estilo e um pitch muito próprios. Tentamos, a cada edição, refinar o material e preparar algo grandioso para a Raw Union”, continuou.

E o quão difícil é ser-se notado na Rússia ou fora dela? “No geral, os artistas russos não amadurecem. Perdem motivação. Talvez por não serem escutados. E depois também há problema com o agenciamento e a programação. Muitos dos clubs que temos por aqui continuam a ser geridos pela velha guarda que não se abre ao que se faz de novo. E apesar de alguns casos de sucesso, temos um bocado a sensação de que no estrangeiro não olham para nós de uma forma muito justa. É meio a gozar, mas se calhar ainda há muita gente que nem se dá ao trabalho de ouvir música da Rússia por ter a ideia de que ela é toda péssima”… Pois, e com risos pelo meio.

 



De 2016 para cá, a Raw Union já atirou 13 registos pela Internet a fora. As duas compilações são boas portas de entrada para conhecer um pouco melhor aquilo que andam estes jovens russos a fazer. “Acredito que estamos num bom momento. Na Rússia, as coisas estão a começar a andar. O The Mosaique, um club de São Petersburgo, é exemplo disso com uma óptima programação que procura trazer até ao nosso país artistas estrangeiros de qualidade e, ao mesmo tempo, dar espaço para que alguns dos músicos russos possam mostrar o que andam a fazer”, falou e disse.

Vruummmmmm….

Oito mil e não sei quantos quilómetros depois… cá estamos, prontos para abalar novamente.

 


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