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Publicado a: 02/05/2017

Quais são as crews de rap mais influentes na actualidade?

Publicado a: 02/05/2017

[TEXTO] Samuel Pinho [FOTO] Direitos Reservados

Tendo origem nos bairros de maioria negra, o hip hop possui uma ligação estreita à comunidade afro-americana, mas também às latinas e jamaicanas, entre outras. A música rap no seu estado mais puro espelha muitas vezes as vicissitudes, rotinas e complicações da vida de quem habitava – e habita – algumas das zonas mais problemáticas onde esse género musical se impôs como dominante.

É portanto de forma natural, até intrínseca à própria existência do rap, que o estabelecimento de grupos se tenha afirmado como tendência desde os primórdios da cultura.

Fosse isso, à época, dar-se por motivos geográficos, por assimilação cultural ou por mera tendência, é facto que se foi instituindo como factor de profunda influência para a indústria musical, onde hoje proliferam crews e labels independentes, manifestamente em voga naquela que é a casa-mãe de todo este universo musical: a América.

Hoje, a barreira que distingue uma label de uma crew pode não ser tão perceptível, porém a finalidade de umas e outras pauta por transversal: a união faz a força, ou pelo menos, ajuda a amplificar a fama.

É claro que o panorama actual ainda está distante de contemplar crews com o peso e influência de símbolos do passado, como a Death Row de Tupac, Dre e Snoop Dogg ou os Wu-Tang Clan. Ainda assim, há alguns agregados a formular o seu próprio sucesso de forma consistente e sustentada, num equilíbrio por vezes ténue entre influência, reconhecimento e sucesso: são estas as crews mais influentes dos dias de hoje no mapa mais visível do rap norte-americano, aquele que dá cartas a nível comercial e que vai empurrando a arte para o futuro.

 


https://www.youtube.com/watch?v=XITyqTihP50

[A$AP MOB]

Para o mais leigo dos ouvintes, talvez seja este o mais badalado dos colectivos, sendo que é sem dúvida o mais heterogéneo: afirmam-se como um conjunto que engloba rappers, realizadores, produtores e designers de moda, numa receita que se tem demonstrado próspera.

A utilização do acrónimo A$AP torna os seus membros facilmente identificáveis: embora na língua inglesa seja sinónimo de “as soon as possible”, Yams quis cunhar o seu próprio significado ao nome, dando-lhe outro sentido: “Always Strive and Prosper”.

Foi o mesmo A$AP Yams, juntamente com A$AP Bari, A$AP Illz e A$AP Sanden, que fundou o A$AP MOB, em 2006.

A$AP Rocky, A$AP Ferg e A$AP Ant são os artistas mais destacados do colectivo, que só em 2011 e a reboque do lançamento de Live.Love.A$AP de Rocky, contacta com os primeiros laivos de prosperidade e reconhecimento: após firmar um acordo musical a rondar os 3 milhões de euros, o rapper usou cerca de metade do valor para o lançamento e consolidação internacional do grupo.

 



A grande adversidade e consequente declínio, como muitos apontam, parece ter chegado com a morte prematura do “pai espiritual” do grupo. A$AP YAMS foi encontrado morto em Janeiro de 2015, com as autoridades competentes a apurar overdose de fármacos e drogas como causa de morte. O colectivo via assim partir o seu mentor e principal impulsionador e Nova Iorque perdia um dos seus filhos pródigos, que para além de ter estado intimamente ligado às carreiras de Rocky e Ferg, teve um papel preponderante nas vidas de outros MCs da Grande Maçã.

Em Outubro do ano seguinte ficamos a conhecer o 1º longa-duração do colectivo, Cozy Tapes Vol. 1: Friends. Do álbum fazem parte bangers como “Yamborghini High” e “Crazy Brazy”, ambos situados algures entre a manifestação do luto e a busca pela emancipação pós-orfandade. Segundo informações veiculadas via Twitter, a sequela do 1º álbum está para breve.

Apesar da morte do seu líder ter sido um rude golpe, esta é uma crew a ter em consideração pela filosofia e espírito que cultiva entre membros, num exemplo profícuo de cooperação.

 


[G.O.O.D. MUSIC]

A label criada pelo sempre polémico Kanye West já conheceu melhores dias, ainda que mereça destaque só por contemplar o rapper e produtor entre as suas fileiras.

Fundada em 2004, a “Getting Out Our Dreams” Music é mais uma editora e menos um grupo ou colectivo. As primeiras “aquisições” e consequentes lançamentos pertenceram a Common e a John Legend, ambos com álbuns produzidos por Yeezy (Get Lifted e Be, respectivamente), tendo – em conjunto – 12 nomeações para Grammys, marcando o início áureo da editora. Entre 2007 e 2010, conhece a mais alargada fase de contratações, surgindo nomes como Big Sean, Pusha T e Mos Def entre os membros então recrutados.

É nesse período, mais concretamente em 2008, que Kid Cudi assina com a editora. Aquele que é considerado por muitos como o protegido de Mr. West, tem tido um percurso algo acidentado: rompeu com a label por descobrir que um vocal seu teria sido utilizado em Yeezus, sem o seu consentimento. Até hoje, não deu mostras de materializar o talento que muitos julgam ver nele. Ainda assim, também há espaço para tiros falhados na editora: foram mais que muitos os artistas que assinaram, para depois abandonar o barco sem um único trabalho lançado pela ca(u)sa. Isso tem valido algumas críticas à forma como a gestão tem sido feita e os rumores de ego battles no interior da label têm subido de tom e frequência. Talvez a isso se deva o afastamento de Kanye West da presidência do grupo, substituído por Pusha T em 2015.

Desiigner foi o reforço de peso para 2016, ano de recuperar o fôlego e voltar a juntar as peças, tarefa que o actual líder terá pela frente. Para a História fica um grupo de autores e produtores que nunca conseguiu deixar de lado a própria carreira em prol do sucesso colectivo.

 


[TDE]

O trono virtual não poderia estar completo sem os reis da Costa Oeste, por tantas vezes comparados com a mítica Death Row, oriunda da mesma zona geográfica.

A companhia erigida por Anthony Tiffith – Top Dawg Entertainment – possui um curto cardápio de estrelas (apenas 8 rappers), mas “Top Dawg” já nos mostrou que não devemos duvidar do seu olho cirúrgico, pelo menos no que a “contratações” concerne.

Passemos à enumeração, começando pelos novatos: Isaiah Rashad, SiR, SZA e Lance Skiiiwalker são as mais recentes adendas. Schoolboy Q, Ab-Soul e Jay Rock compõem a prata da casa, que não estaria completa se nela não contássemos o filho pródigo – não só de Compton, mas do hip-hop em geral – Kendrick Lamar Duckworth*.

 



A label é lançada em 2004, assinando logo no ano seguinte com um adolescente que só tinha uma mixtape para mostrar, embora tivesse tudo para dar: se estão a pensar em K-Dot, estão certos.

No mesmo ano, Jay Rock ingressa a bordo, seguido por Ab-Soul e Schoolboy Q, em 2007 e 2009 respectivamente. Não ignorando o facto da TDE. muito ter beneficiado do fenómeno Kendrick Lamar desde a edição de Good Kid M.A.A.D City, há que atentar à visão de futuro e condições que a label vai conferindo aos artista que adopta: com uma equipa de produtores in house e o fomento das relações entre artistas (Ab-Soul, Jay Rock, Schoolboy Q e Lamar formam o super-grupo Black Hippy), “Top Dawg” tem sabido gerir os seus activos e consequentes projectos de forma exímia, num equilíbrio minucioso entre as estrelas da companhia e as jovens promessas que, de tempos a tempos, adicionam condimentos novos a uma receita bafejada pelo sucesso.

A competitividade parece ser um dos factores-chave para o sucesso da irmandade, com Lamar a admitir que a fasquia se eleva de forma espontânea quando todos estão no estúdio, muito por culpa de ter sido Jay Rock o responsável pela transmissão dos cânones aos restantes membros.

*Nota: A utilização do sobrenome é intencional: na última faixa de DAMN. – “Duckworth” – Lamar conta-nos a história de um Anthony Tiffith em modo gangster, 20 anos antes, que esteve a muito pouco de matar o seu pai e de assim alterar todo o curso das vidas aqui em jogo: é espreitarem a letra.

 


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