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Publicado a: 23/11/2015

PZ é ou não é hip hop? “Às vezes sim, outras vezes nem por isso”

Publicado a: 23/11/2015

[TEXTO] Bruno Martins [FOTO] João Pádua

 

Era muito fácil dizer, simplesmente, que PZ não é hip hop. É uma ideia que, à partida, não passa pela cabeça de ninguém, porque PZ também nunca se deixou ver (só) dessa forma. Por exemplo, não é artista que tenha aparecido nos míticos vídeos de hip hop português da década de 2000. E, apesar de ser da mesma geração – ou andar ali à volta – não fez digressões com Sam The Kid, Valete, NBC, Dealema ou Mind Da Gap; nem é figura que tenha aparecido em mixtapes do género ou apareça nas fotografias da época.

PZ é nome artístico de Paulo Zé Pimenta, músico do Porto que tem, há já um bom par de anos, a sua própria editora, a Meifumado – a meias com o irmão, Zé Nando Pimenta. Este é o selo que lança, desde 2004, artistas como MC Jihad, Mind Da Gap – sim, o histórico trio nortenho – Expeão ou os Corona. “Na Meifumado temos gostos divididos. Adoramos cenas de hip hop, mas também adoramos outras coisas. Quando editamos algo é pelo que é e não pelo género que representa”, diz Paulo Zé ao Rimas e Batidas. “Mas sim, muito por culpa de PZ, tenho estreitado a minha relação com o hip hop por ter conhecido e colaborado, sem nada planeado, com pessoas mais ligadas a esse género.”

O músico e produtor refere-se a nomes como o produtor dB ou o MC Logos. O primeiro é um beatmaker de Vila Nova de Gaia, que emprestou a PZ o beat do estrondoso “Cara de Chewbacca”; e que viria, pouco tempo depois a fundar os Corona com Logos, editando, juntos e pela Meifumado, os dois álbuns Lo-Fi Hipster Sheat e Lo-Fi Hipster Trip.



 

Na sexta-feira, PZ divulgou o vídeo de “Nada Mais”, pertencente ao seu último disco, Mensagens da Nave Mãe, que, dizemos nós, aprofunda a sua relação com o universo do hip hop. É verdade que o boom bap ou as sonoridades da golden era não são imediatas identificações estilísticas na sua discografia – que conta com trabalhos com a Zany Dislexic Band, “uma banda de improviso de quatro pessoas”; Paco Hunter, projecto de rock mais americano feito a meias com o irmão. Mas, por trabalhar muitas vezes sozinho em casa, no conforto do lar com o pijama que já virou marca, Paulo Zé Pimenta refugia-se, amiúde, nos sintetizadores, sequenciadores e caixas de ritmos. “PZ é a minha cena mais intimista em que não tenho de dar satisfação a ninguém, nem mesmo a mim próprio das minhas maluquices (risos). Tento não me censurar e ser só verdadeiro comigo.”

Esse recurso à electrónica e à saudável companhia de nomes do hip hop estarão a levar PZ para o rap? “Em algumas músicas sim. ‘Croquetes’ será muito hip hop; este novo single, ‘Nada Mais’, também; ‘Cara de Chewbacca’ e ‘Tu és a minha gaja’, por serem beats oldschool do dB que me levam muito para isso… mas há muitas outras músicas em que a influência não é tão óbvia e são referências mais pop.”

Com um estilo muito livre e solto, claramente Do It Yourself, o trabalho a solo de Paulo Zé aborda questões práticas e simples do dia-a-dia. Observações mundanas, sentimentos avulsos, situações esporádicas. Não há uma linha condutora definidora daquilo que é influência para o músico e produtor. “Há beats que me puxam para esse lado do hip hop. Às vezes faço o refrão e apetece-me fazer algo mais falado, mais spoken word ou rap; e noutras vezes isso não acontece: é uma melodia mais cantada do início ao fim.” A resposta à questão “PZ é hip hop?” pode então ser: “Às vezes sim, outras vezes não”. “Não sou um gajo do hip hop, assumido. Sou o que sou. Às vezes gosto mais de cantar na estética das frases e expressões coladas. Mas não sou um gajo de hip hop que anda de boné e faz a sua cena. Aliás, o que eu ligo mais no hip hop é à mensagem e à maneira como as coisas são ditas.”

Vamos lá então perceber, em seis faixas, porque é que dizemos que PZ anda com um pé no hip hop:

 



 

[“CARA DE CHEWBACCA”]

Escolha óbvia. PZ também faz boombap. Pegou num beat de dB e sacou uma história dedicada a uma rapariga que, mesmo não sendo muito bonita, pode perfeitamente ser a mulher da sua vida. O amor tem destas coisas.

 


 


 

[“NEURA”]
(Mensagens da Nave Mãe, 2015)

Batida superclássica, com uma sonoridade de bateria e sintetizador a fazer lembrar as icónicas “block parties” dos subúrbios nova-iorquinos do início da década de 80.

 



 

[“TRINCA NA CHAMUÇA”]
(Mensagens da Nave Mãe, 2015)

Além da métrica e dos jogos de palavras, PZ pega fundo nas máquinas e faz uma faixa bastante electrónica que tem até direito a um solo de scratch (simulado em sintetizador)

 



 

[“ÉS O MAIOR”]
(Mensagens da Nave Mãe, 2015)

Uma espécie de egotripin visto do outro lado. “Tens as raparigas, mas depois não lhes ligas/És o Maior/Acordas às 2h, no meio de duas/És o maior” dito numa batida profunda, de ritmo pausado.



 

[“AUTARQUIAS”]
(Rude Sofisticado, 2012)

Porque a mensagem também é importante no hip hop. Um tema do segundo disco de PZ que é uma visão irónica e cartoonesca das influências das câmaras municipais e juntas de freguesia.

 


 


 

[“O PORTO É ISTO OBLÁ”]
(Passeio, dos Ollgoody’s, 2014)

Convidado especial de Minus e Logos para fazer um verso meio freestyle numa faixa deste incrível Passeio pelo Porto.

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