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Publicado a: 17/05/2018

Plutónio: “Uma mentalidade preconceituosa limita sempre um grande potencial”

Publicado a: 17/05/2018

[FOTO] Pluma

“3AM” e “Preciso de um Tempo” são os novos singles de Plutónio. Depois do lançamento de “Não Vales Nada”, em 2017, o rapper do Bairro da Cruz Vermelha, em Cascais, está de volta com faixas produzidas por Ratopera e Lhast & Zala e vídeos com realização de Afro Digital.

É cada vez mais evidente que o artista luso-moçambicano está preparado para cimentar a sua posição no hip hop português. Com uma musicalidade vincada que deambula entre versos mais agressivos e entregas mais melódicas, o efeito-surpresa parece não desaparecer com Plutónio. Recentemente, pudemos ouvi-lo em canções com Papillon (“Iminente”) ou numa remistura de Branko a uma música de Sara Tavares (ainda não existe versão oficial, mas o MC fez parte da crew de João Barbosa na actuação na Eurovisão 2018).

Depois de Richie Campbell concentrar todas as atenções em si no final de 2017/início de 2018, a Bridgetown voltou a colocar os holofotes nos restantes membros. Desde Janeiro deste ano, Mishlawi, Plutónio e Dengaz lançaram dois temas cada um.

O Rimas e Batidas esteve à conversa com o autor de Preto & Vermelho:

 



[O CONCEITO DE “3AM”]

“Crescer num ambiente com todos estes ingredientes moldou a minha identidade e a minha postura em relação ao mundo. Relativamente ao ‘3AM’, senti a necessidade de relembrar às pessoas de onde eu vim e retratar um tema que se vive ‘todos os dias’ no meu ou na maioria dos bairros da zona periférica. Abordei também do ponto-de-vista dos media e da sociedade que, no final do dia, nunca perdeu muito tempo a perceber o que se passava, daí o ‘não se passa nada’. De certa forma esta música acaba também por ser uma autobiografia, pois fala de algumas das fases mais difíceis da minha vida, com as quais eu aprendi a ultrapassar e a enfrentar com naturalidade, até porque não tive outra opção. Acredito que isto também sirva de motivação e exemplo de superação para qualquer outra pessoa, independentemente do tipo de berço em questão. Quando tu queres, podes fazer acontecer, daí eu dizer ‘do 27 até à Altice Arena’.”

[A IMPORTÂNCIA DE COLOCAR A REALIDADE NA MÚSICA]

“Nesta ou em qualquer altura, penso ser sempre importante abordar este tipo de tópicos. Apesar do hip hop ser cada vez mais aceite, não o é na sua forma mais genuína. Ou seja, neste momento já é fixe seres rapper mas ainda não é fixe ‘rappares’ sobre tudo. E quando digo isto, nem me refiro a segundos ou terceiros. Eu próprio quando falo de temas como polícia, pobreza e racismo, sinto que, para além de não ser tão bem interpretado, as pessoas também se sentem desconfortáveis. Estes tabus não estão desactualizados, a maioria das pessoas pensam que problemas de abuso de poder e imparcialidade policial, bem como pobreza e racismo, já estão bem resolvidos quando não é essa a realidade. Ainda são relevantes. E o facto de eu hoje estar numa posição privilegiada dá-me a possibilidade de continuar a falar do que sempre falei, mas poder ser ouvido por mais pessoas. Também tenho plena consciência que há muitos rappers a falar do que eu falo sem credenciais e apenas com o objectivo de tirar proveito de uma realidade que não lhes pertence, o que faz com que as coisas voltem a não ser genuínas.”

[“RAP TUGA TÁ A EVOLUIR MAS NÃO SE PASSA NADA”]

“O que eu quero dizer com isso é literalmente que o rap tuga está a evoluir, mas ‘não se passa nada’ com todas as letras, as rádios, TVs, tendências do YouTube e palcos nacionais. Basicamente, passámos do Sócrates para o Passos Coelho, seguido de António Costa, mas ainda assim o país continua em crise. Passou-se muita coisa, mas não se passa nada.”

[UM PROJECTO R&B NO FUTURO?]

“Vais ter um Plutónio que sempre tiveste, mas de uma forma mais evoluída. ‘Preciso de um tempo’ e ‘3A.M’ são paralelismos que sempre fiz nas minhas músicas, mas isso é devido ao facto de eu ser bipolar [risos]. Na verdade sou tripolar, mas isso são outros 500. Comecei a escrever letras pela influência do rap mas de uma forma ou de outra sempre fui musical. É natural que as coisas tenham de ter nomes, mas uma pessoa não cabe dentro de uma caixa. Uma mentalidade preconceituosa limita sempre um grande potencial.”

 


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