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Publicado a: 12/03/2016

Playlist Spotify # 2: 161 minutos de Native Tongues

Publicado a: 12/03/2016

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Sob muitos aspectos, o colectivo Native Tongues representou uma espécie de escape para uma certa imagem que o hip hop estava a construir para si mesmo à saída dos anos 80: com a América imersa nas “reaganomics”, o hip hop combativo dos Public Enemy ou dos N.W.A. representava uma clara via de protesto. Por outro lado, símbolos de status como os carros ou as jóias acabavam por ser uma ferramenta de afronta a uma sociedade consumista que sabia mais rapidamente reconhecer conquistas materiais do que conquistas sociais. Por isso mesmo, Straight Out The Jungle por oposição a Straight Outta Compton, medalhões africanos em vez de correntes de ouro da grossura de punho. Essa foi a via apresentada por um colectivo de artistas que à saída dos anos 80 se propôs redescobrir a história da música negra através do sampling, com o jazz e a soul e o reggae a servirem de inspiração, e o positivismo contagiante como norma de letras que não temiam pegar no humor, no absurdo ou na abstracção para apresentar uma outra realidade.


 

 


 

Os Jungle Brothers foram os pioneiros com o álbum Straight Out The Jungle em 1988. Seguiram-se os De La Soul que lançaram o clássico 3 Feet High and Rising em 1989 e os A Tribe Called Quest que se estrearam com People’s Instinctive Travels and The Paths of Rhythm em 1990. A partir desta “trindade”, uma série de alianças foram sendo desenhadas, primeiro num circulo mais estreito, com grupos como os Black Sheep ou os Fu-Schnickens (e Boss AC, se a memória não falha, chegou a gravar tanto com membros de De La Soul como de Fu-Schnickens) e artistas como Queen Latifah, Monie Love ou Chi-Ali. Depois, através de uma série de associações mais ou menos informais, o circulo alargou-se a outros nomes com quem os membros da Native Tongues partilhavam algumas ideias, afinidades ou interesses: de Common e Mos Def aos Roots e aos Leaders of the New School de Busta Rhymes, dos Beatnuts aos Brand Nubian.


 


 

Abaixo, apresentamos uma nova playlist Rimas e Batidas com 161 minutos recheados de grooves sinuosos, de samples de jazz e de soul, de rimas construtivas, de luz e de sol, de flores e cores vivas, de rap de primeira água e beats de recorte boom bap.A ideia foi que os afiliados mais directos da Native Tongues (Tribe, De la, Queen Latifah, etc) estivessem mais representados, com mais faixas, e os nomes mais distantes do núcleo (Beatnuts, Brand Nubian, etc) entrassem na mix apenas com um tema, reflectindo, portanto, a natureza do próprio mapa genético deste colectivo. Continuam a existir catálogos, como o da Tommy Boy, arredados dos arquivos do Spotify, o que também dificulta a chegada a algum material. Mas fica aqui o retrato possível de um grupo de artistas que injectou variedade numa época histórica do hip hop.

Bom fim de semana!


 

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