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Publicado a: 20/03/2018

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phonte review

[TEXTO] Moisés Regalado

Existindo ainda quem pense no rap como uma forma de expressão que está à beira da morte, há uma dose generosa de gente disposta a provar o contrário. Por exemplo: Jonwayne, Rapsody, Wiki, Evidence ou Freddie Gibbs, convidado em No News Is Good News, deixaram a sua marca no passado recente do movimento, nomes que fazem a ponte entre o passado e o presente. Agora é a vez de Phonte. O rapper assume um compromisso sério com a “fome” que só o melhor dos principiantes costuma ter. Como se este fosse o seu primeiro e último disco.

Só que já lá vão alguns anos desde que se estreou. Foi há precisamente quinze anos que os Little Brother editaram The Listening, álbum que os projectou como portadores e difusores de uma sonoridade que viria a dominar a cena hip hop durante largo período (muito por culpa dos beats de 9th Wonder). Em 2011, depois de um projecto paralelo sem grande expressão, foi finalmente possível ouvir Phonte num primeiro registo a solo. Passados sete anos, o artista regressa aos holofotes em nome próprio e não podia tê-lo feito em melhor altura.

A ausência do seu produtor de sempre na batuta e de Big Pooh na cabine, companheiro de armas no trio da Carolina do Norte, toma contornos irrelevantes assim que o alinhamento se começa a revelar. Se Phonte se propôs a brindar os ouvintes com dez faixas de escrita e técnica, sem pausas, pode-se dizer que o seguiu à risca e que o conseguiu com distinção. Quase todos os temas se apresentam como verdadeiros exercícios de rap, repletos de quotables que fundem as dicas e as entoações de Phonte, reduzindo-as a um só elemento: flow.

O cuidado com que constrói frases ou conta histórias reforçam-no como óbvio protagonista desta narrativa. Mas os instrumentais, escolhidos e trabalhados de maneira a que cada palavra encaixe na perfeição, também têm vida própria. “So Help Me God” ou “Pastor Tigallo” brilham com o rapper. “Change Of Mind” assume-se como exemplo perfeito do que deve ser um beat, num equilíbrio ideal entre samples e quebras, refrão e versos. Aqui se inclui a participação de Gangsta Gibbs, merecedora de rewind.

Se a longevidade de um estilo acarta consigo uma diversidade inevitável, com manifestações mais ou menos próximas das raízes, pouco há a temer. Quando novos elementos surgem, nada invalida que valores anteriores se mantenham. E, ainda que se alterem os padrões dominantes, nada impede que se trabalhe na direcção oposta à mudança, com ou sem intenção. Daí que Phonte seja mais um, entre tantos, a deixar o seu nome inscrito nas páginas actuais da cultura hip hop, depois de o ter feito em grupo no início da década passada. Melhor dizendo, e dando asas ao que o rapper sugere em “Such Is Life”, “sing a simple song, fuck the formalities”.

 


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