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Publicado a: 14/04/2018

Papillon no Estúdio Time Out: a exaltação da individualidade

Publicado a: 14/04/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Sara Falcão

Deepak Looper foi uma das estreias mais auspiciosas desta primeira metade de 2018 e as expectativas estavam altas para a primeira apresentação ao vivo. Com Xeg, Bispo ou GROGNation na audiência, Papillon não se deixou vergar pelo peso da responsabilidade e mostrou que é um dos valores mais seguros da música portuguesa. Mas já lá vamos…

O aquecimento esteve a cargo de Fumaxa, DJ e produtor que trouxe uma selecção ecléctica — boom bap e trap para todos os gostos –, uma oportunidade para colocar lado a lado artistas que, na nossa cabeça, dificilmente partilhariam o microfone. Não é todos os dias que ouvimos “Chaminé”, de Zara G, e “Caravana”, de Sam The Kid & Boss AC, no mesmo set

 


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Performer de mão cheia, o Original Marginal é daqueles nomes que deveriam aparecer em listas com títulos como “100 artistas portugueses que tens de ver ao vivo antes de morreres”. Um tanto ou quanto imprevisível em palco, Keso é uma peça única no complexo mapa do hip hop nacional e não se farta de demonstrá-lo.

Ontem, rimou, com ou sem beat, e teve o público do seu lado — bem, pelo menos metade dele. Nas partes em acapella, o burburinho que alguns membros da audiência faziam era tanto que o MC e produtor do Porto viu-se obrigado a pedir silêncio várias vezes. O pedido foi ignorado categoricamente pelas pessoas que decidiram pagar bilhete para um espectáculo que não queriam ver nem ouvir. Vivemos tempos estranhos, disso não haja dúvida.

“Defeito Sério”, “Underground”, “RoofTops”, “Gente e Pedra”, “BruceGrove”, “Na rua tenho acústica!” ou “O fumo que eu fumava” fizeram parte do alinhamento e, no seu estilo habitual, moldou-as a seu belo prazer, fazendo pequenas variações na forma como entregou os versos, pormenores que dão outra cor à actuação e que, na ausência de novas canções, mantêm o reportório “fresco”. DJ Spot foi, como é costume, o fiel escudeiro de Keso, responsável por disparar instrumentais e scratch.

Enquanto se desmontava e montava material, To Pimp a Butterfly ouviu-se durante uns bons 15 minutos no Estúdio Time Out, o que não deixa de ser uma escolha curiosa e arrojada: a fasquia dificilmente ficaria mais alta…

 


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Ladeado por DJ X-Acto, Luís Logrado (baterista) e Vasco Ruivo (guitarrista), o autor de Deepak Looper tinha uma plateia de convertidos à sua frente. As letras estavam na ponta da língua e o entusiasmo foi demonstrado depois de cada música, deixando pouco espaço para dúvidas: estas canções resultam ao vivo e, com os devidos ajustes, não comprometem a sonoridade de beats que, na sua génese, não foram pensados para serem tocados por uma banda.

O disco foi apresentado na íntegra e houve momentos para tudo: o refrão de “1:AM” reflecte um sentimento partilhado por uma geração que sai cada vez mais tarde de casa dos pais — pela maneira como cantaram, é bem provável que grande parte dos presentes se revissem na situação; o storytelling de “Imediatamente” ganhou uma nova dimensão com a entrega exemplar do MC; “Imbecis/Íman”, um dos grandes bangers do álbum, trouxe Slow J para cima do palco e a festa ficou descontrolada. Um dos encontros mais esperados da noite não defraudou as expectativas.

Numa das suas várias intervenções entre músicas, Papillon atirou uma frase que mostrou o quão avassaladora foi a recepção: “Vocês ‘tão-me a assustar”. Apesar de conseguirmos medir o sucesso de algo pela reacção na Internet, a passagem para o “mundo real” nem sempre é a mais fidedigna. Na actuação da noite passada, as dúvidas dissiparam-se: o MC dos GROGNation, o grupo marcou presença no evento, está mais do que preparado para uma carreira a solo.

 


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“Imagina”, a canção com maior carga emocional, abrandou a pulsação do concerto — não podemos ignorar o excelente beat de Holly — e deu-nos uma oportunidade para descansar antes de “I’m the Money”, uma faixa que consegue puxar o melhor de Lhast, no instrumental, e de Papillon, nas rimas. Deepak Looper juntou Slow J, Holly, Lhast e FMX, uma parte que não pode ser desconsiderada quando falamos da qualidade do disco. Não é de admirar: são quatro nomes que entram facilmente na lista de melhores produtores portugueses da nova geração

A expressão livre e individual foi o tema recorrente nas paragens entre músicas — também é uma das linhas condutoras do disco –, algo que também se viu reflectido no cartaz da apresentação, não fosse Keso um dos artistas mais singulares da nossa praça.

 


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Slow J regressou ao palco em “Impec”, agarrou-se a uma guitarra e acompanhou Vasco Ruivo na retaguarda de Papillon, momento que antecedeu a celebração desenfreada em “Iminente”. Plutónio não faltou à chamada, mas o instrumental é que acabou por sobressair.

O final não poderia ser melhor. Se em estúdio impressionou, ao vivo deixou-nos de queixo caído com “Metamorfose Fase II”. Sobre-humano a “cuspir” forte e feio (sem parar) durante cerca de 2 minutos, Papillon fechou as contas a um nível altíssimo e ninguém conseguiu ficar indiferente ao seu enorme talento — a ovação final comprovou isso mesmo. As portas para a “escola da vida” do MC estão abertas. Já se inscreveram?

 


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