Pontos-de-Vista

Núria R. Pinto

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Emicida, Rincon Sapiência, Flora Matos, Marcelo D2, Rodrigo Ogi ou Don L reagiram ao assassinato de Marielle Franco.

Que palavras rimam com Jenni, Rafael ou Marielle?

Na passada quarta-feira, Marielle Franco tinha acabado de sair de um encontro onde se discutia a importância da mulher negra na sociedade brasileira quando um carro se encostou ao seu e, do interior, saíram quatro tiros que, certeiros à cabeça de Marielle, acabariam por lhe tirar a vida. Demasiado cinematográfico para a maioria que me lê. Demasiado rotineiro para a maioria dos pobres e favelados do Rio de Janeiro.

Marielle Franco tinha 38 anos e era vereadora da Câmara do Rio de Janeiro pelo PSOL, à esquerda brasileira. Nascida e criada na Maré, um complexo de favelas carioca, Marielle foi sempre uma estatística bem redonda. Negra, mulher, pobre, favelada. O pauzinho mais pequeno no jogo da sorte ao nascer, diríamos. Foi estatística também quando contrariou as probabilidades e conseguiu bolsa integral para entrar numa das faculdades privadas mais importantes do Rio, poucos anos depois de ter sido mãe adolescente.

A 16 de Fevereiro deste ano, um presidente não-eleito do Brasil decretava intervenção militar na cidade o que, na prática e tendo a história por base, nos diz que a partir daquele momento muito se fica a dever aos direitos humanos nas favelas do Rio. Marielle tinha sido escolhida para fazer parte da comissão de fiscalização dessa mesma intervenção. Marielle denunciou abusos cometidos pela Polícia Militar quatro dias antes de morrer. Marielle voltou a ser uma estatística.



Começa a ser difícil para mim, que me tenho dedicado a explorar a realidade musical de um país pelo qual me apaixonei, escrever qualquer apanhado geral que seja sobre o que de novo e melhor nos chega de lá sem ter sempre que recorrer a uma trágica contextualização sociológica. E se nos focarmos nas estatísticas de feminicídios ou qualquer crime de ódio, mais difícil seria terminar qualquer artigo.

Quem usa da palavra para fazer a sua arte no Brasil está, com toda a certeza, cansado de ter que procurar versos que rimem com Jenni, Dandara, Rafael Braga e, agora, Marielle Franco. E quando o hip hop é a forma que escolhemos para fazer intervenção — activismo quase sempre político –, não deixar secar a tinta da caneta é, hoje, um tremendo acto de coragem. Rimando, produzindo, escrevendo sobre, apoiando, divulgando. Que as nossas rimas nos sirvam para limpar a casa cá deste lado do atlântico — ou exigir a quem de direito que a limpe — mas que também nos conte as histórias das liberdades que são retiradas a outros para que as entendamos como sendo retiradas a todos. Quando a arte se faz pela palavra, o que será de nós se nos faltar o direito à voz?

Foram vários os MCs brasileiros – e não só – que reagiram até agora ao assassinato da activista Marielle Franco. Capicua e Carminho estão entre as vozes que se fizeram ouvir deste lado.


 

“Trocar a ponta do fuzil pela ponta do lápis”. #LutoPorMarielle Preta de quebrada original . #MariellePresente

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RECEBE O MÉRITO, A FARDA QUE PRATICA O MAL E VER POBRE PRESO OU MORTO JÁ É CULTURAL.

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⚫️ #mariellefranco

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