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Publicado a: 08/03/2018

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ocean wisdom nota

[TEXTO] Gonçalo Oliveira 

Estamos no pico do Verão de 2015. A quinta fornada de resumos audiovisuais de um então recém-criado 7 Dias, 7 Vídeos dava a conhecer a cara nova da High Focus. Apadrinhado por Dirty Dike, mentor de créditos firmados dentro da cena boom bap britânica, Ocean Wisdom apresentava-se pela primeira vez para uma audiência maior. A partir de um parque de estacionamento, o rapper de Brighton assinava a sua entrada na rubrica “Exclusive Bars” da High Focus com cerca de 4 minutos de barras intensas — gravado em apenas um take, sem apoio vocal na retaguarda e com direito a um autêntico showcase de flows, Ocean Wisdom cortava-nos a respiração apenas para fazer passar a mensagem de que o álbum de estreia sairia em breve.

Chaos 93’, que já celebrou o segundo aniversário, serviu para confirmar todo esse impacto inicial. Estamos claramente perante um dos MCs mais assombrosos a surgir do Reino Unido nos últimos anos, capaz de meter em sentido todos aqueles que ousam afirmar que o liricismo morreu. Ocean Wisdom tem barras, tem métricas, tem velocidade e consegue alinhar em qualquer tipo de sonoridade.

 



Foi provavelmente essa versatilidade sónica que o levou a disparar sobre o próprio pé, com Wizville a descarrilar um pouco na segunda metade do alinhamento. A insistência em alterar a fórmula de Chaos 93’ e misturar tantos ingredientes diferentes na mesma panela fez com que o cozinhado perdesse alguma da sua essência. A ficha técnica vai ao encontro dessa ideia, com nada mais nada menos do que 15 produtores diferentes a quem Ocean Wisdom recorreu em busca de batidas, sem ninguém para supervisionar e direccionar o seu mais recente projecto.

Enquanto álbum, daqueles que gostamos de começar na primeira faixa e deixar rolar até à última, Wizville parece não servir tanto para a tarefa como o seu antecessor. No entanto, há que destacar os 21 temas que o rapper compilou neste disco, dos quais pelo menos metade são merecedores de nos fazer mover o cursor até ao botão do replay. Até porque estamos a falar de um MC com poderes sobrenaturais, daqueles que só estamos habituados a ver no cinema — “Force, I’ve got some, Kenobi had some” –, e os mestres desta arte até se renderam ao léxico do MC de Brighton.

Os convidados de Wizville são um dos principais pontos de destaque deste trabalho. Nomes incontornáveis da cultura hip hop em inglês, com Method Man enquanto expoente máximo do talento internacional, numa ficha técnica recheada de história. Uma questão de oferecer ao britânico algum desse importante estatuto adicional, já que as prestações ficam aquém das expectativas. Talvez Mr. Mef se tenha assustado com a velocidade do britânico, bem como a escolha do beat para receber Rodney P e Roots Manuva talvez possa não ter sido a ideal.

 



“Revvin’” é, possivelmente, a faixa mais bem-conseguida a nível de features e será um dos temas que vamos querer escutar com maior frequência. Dizzee Rascal continua a mostrar que o estatuto não é tudo e volta aqui a assinar um novo verso de peso. Não vale a pena tentar acelerar perante esta dupla — uma combinação perfeita entre nova e velha escola do Reino Unido, como exemplo de que também fora dos EUA existem MCs capazes de ombrear com a dicção supersónica presente em “Rap God” ou “Break Ya Neck”.

Os momentos altos de Wizville ficam essencialmente na primeira metade do disco, com a maior parte das temáticas em torno do egotrip. Ocean Wisdom arrasa os adversários com versos sagazes que, combinados com o flow, em tudo se parecem com autênticas machine guns. Numa altura em que tanta atenção se atribui às palavras ritmadas por tercinas, Wizzy dobra os padrões com o uso excessivo de sextinas, que soam ainda mais rápidas nos temas boom bap dada a elevada rotação dos BPMs quando comparados aos standards do trap. Será Brighton uma espécie de Atlanta em esteróides?

 


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