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Dançar a religião e cantar as ruas. Ser agressivo e melódico ao mesmo tempo. Buddy é exactamente isso. Quem? Perguntem a Pharrell Williams, o responsável por ter colocado o artista num bolso tão fundo que a luz só aparece de vez em quando para nos relembrar que ali reside um talento imenso à espera de brilhar. Sem a prolificidade que permita que o coloquem nas listas de nomes mais promissores, Simmie também é refém de si mesmo, assumindo-se como um perfeccionista.
Apesar de andar cá há algum tempo, o membro da i am OTHER, plataforma fundada por Pharrell Williams, ainda está à procura do seu espaço, mesmo que já tenha colaborado com nomes como Freddie Gibbs ou Kendrick Lamar. Ocean & Montana, EP colaborativo com Kaytranada que já foi lançado ontem, é a nova oportunidade para sair da bolha do membro dos The Neptunes e brilhar ao lado de um produtor que raramente falha.
Viagem ao passado com a Califórnia como pano de fundo: Simmie Sims, artista nascido e criado em Compton, foi “capturado” ainda muito jovem anos por Skateboard P. Na infância, Buddy ouvia música de igreja – influência dos pais – , mas não só: a irmã mostrou-lhe Snoop Dogg, Kurupt, Suga Free ou Dr. Dre. A miscelânea musical está absolutamente patente na forma e conteúdo que cria, existindo uma aura espiritual em cada linha que escreve. Ele é Chance The Rapper (“Shine”), é GoldLink, também é Pharrell (“Smoke Signals”), mas, simultaneamente, existe algo nele que é único e autêntico, uma aglutinação desses universos todos com uma coolness diferente.
Com apenas 17 anos, “Awesome Awesome” foi o seu primeiro hit – produzido pelos The Neptunes, pois claro – , aparecendo numa promo de um programa da HBO, How to Make It in America, em 2011. A caminhada não tem sido fácil, mas existe uma paragem obrigatória em 2014. Idle Time, único conjunto de faixas lançado por Buddy, tem um elenco absolutamente estelar e diversificado. Robin Thicke, Miley Cyrus, Kendrick Lamar, Freddie Gibbs, Casey Veggies, Asher Roth e, claro, o homem que apostou nele, Pharrell, que também é responsável pela produção de quatro temas. Também na arquitectura sónica, Cardo ou Boi-1da são estetas modernos que fariam tremer qualquer cantor/MC, mas, neste caso, não. Simmie nunca parece deslocado, seja o ambiente pesado ou leve.
Nos últimos dois anos, o rapper de Compton colaborou com vários artistas diferentes (A$AP Mob, BJ The Chicago Kid, Kyle, DJ Quik ou Nipsey Hussle) e entrou em Dope, filme que também conta com a participação de A$AP Rocky, Vince Staples e a produção executiva de Pharrell Williams, mas foi a solo, com “Shine”, que pudemos comprovar que nada está perdido para Buddy. A canção pelas palavras do próprio: “Isto é um evangelho das ruas. Existe uma intersecção do hip hop e religião; eles entrelaçam-se completamente. As pessoas que fazem a música são quem elas são e essa é a sua religião. Um monte de rappers falam sobre Deus e acreditam em Deus e eu também.”
Se Pharrell Williams ajudou os Clipse, duo composto por Pusha T e Malice, a lançarem autênticas pérolas como Lord Willin’ e Hell Hath No Fury, Buddy está na linha da frente para ser o próximo grande nome a emergir da esfera de influência da estrela americana. Para já, o maior talento que assinou pela i am OTHER ainda não tem “aquele” trabalho que permitirá colocá-lo na discussão, mas os ingredientes estão lá: a alma, a técnica e a vontade de experimentar.
Chegamos a 2017 e Kaytranada é um dos arquitectos sónicos da moda e, justamente, um dos mais requisitados nomes quando falamos da produção nos universos do hip hop, electrónica e r&b. Ocean & Montana é composto por cinco faixas e, depois de uma primeira audição, parece ser o primeiro projecto em que o rapper e cantor consegue demonstrar todo o potencial, muito graças ao produtor canadiano. Os holofotes estão novamente apontados para Buddy e a iluminação no bolso de Pharrell parece estar melhor que nunca…
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