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O feminismo e a voz de Violet

[TEXTO] Maria Amor [FOTO] Direitos Reservados

 

Quando a voz da Violet ecoou, em silêncio, no início do desfile da Versace, acho que todos soubemos que alguma coisa importante tinha mudado. Eu soube. Vi o desfile em streaming nas condições mais estranhas de sempre – mas isso pouco importa agora, e, na verdade, faz parte da experiência bipolar que é a vida – e senti arrepios pelo corpo todo. Foi um alinhar perfeito das energias femininas que batem cada vez com mais força.

Acompanhei o processo todo de perto – a Inês (Violet) é uma das pessoas mais importantes na minha vida, e, neste caso, também porque a minha voz faz parte do remix que se ouviu há umas semanas em Milão.

Na verdade, tudo começou há bastante mais tempo, quando fomos passar música as duas – enquanto A.M.O.R. – a um bar em Londres. Foi na semana do Dia Internacional da Mulher e a Inês teve a ideia de fazer um remix da “Transition” dos Underground Resistance, dedicado a esse mesmo dia. Reuniu várias vozes femininas pelo mundo e fez o beat. A coisa aconteceu bastante rápido, e quando demos por nós, estávamos aos saltos de felicidade – a Inês, eu, o Marco (Photonz) e o João (Shcuro) – porque os próprios Underground Resistance tinham adorado a remistura. Foi uma honra indiscritível, e tão longe do que nós imaginámos, nem queríamos acreditar. Foi daqueles pinch-yourself-type-of-moments.

Fast forward para quando a acapella do remix da “Transition” tocou no desfile da Versace: WOW! Acho que é seguro dizer que a música cumpriu o seu objectivo: fez-nos pensar sobre a perspectiva feminina em áreas que são geralmente dominadas pelo sexo masculino. A música de dança é uma delas, e por isso é que fez tanto sentido fazer o rework deste clássico, mas agora dedicado às mulheres. Inspirámos uma das mulheres mais importantes da moda a desafiar-se a si própria – palavras de Donatella – e nada poderia ser melhor que isso.

É importante para todas nós, mulheres, que somos tantas vezes descredibilizadas, saber que a nossa voz pode – e merece – ser ouvida. Ser feminista nem devia ser necessário, devíamos simplesmente ter os mesmos direitos, privilégios e créditos que um homem tem, mas infelizmente não é isso que se passa, e é por isso que é tão importante haver vozes como a da Violet, que ecoam no silêncio para todo o mundo ouvir, para que saibamos que todas as mulheres têm o seu lugar em todas as áreas – mesmo todas, incluindo a criativa e a artística e as suas partes técnicas. Que não precisámos que um homem viesse “ajudar”. Que se quisermos ajuda podemos pedir, como qualquer ser humano, mas que não precisamos necessariamente dela.

Está na altura de mudar mentalidades arcaicas e abraçar a voz e o poder do feminino, essa voz tão única e cheia de amor, que merece ser ouvida. A música da Violet ergue a nossa bandeira, a das mulheres, e o que mudou foi que chegou onde tinha que chegar: ao mundo inteiro. Chega de perguntar se podemos, se merecemos, se vamos ter o crédito que devemos ter, se vamos conseguir realizar os sonhos. Porque é quando deixamos de pensar nas perguntas que chegamos às soluções.

“Não deixes estas perguntas preocupar-te, vira-te na direção dos teus sonhos, encontra a tua força no som e faz a tua transição.”

Make it happen!

 

 

*Maria Amor é a Honey que faz dupla com Violet nas A.M.O.R.. É também a designer que assina EightyEight.

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