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Publicado a: 13/07/2018

NOS Alive’18 – Dia 1: o que é nacional é bom

Publicado a: 13/07/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Hélder White

A banda sonora de entrada no recinto do NOS Alive teve o alto patrocínio de Trent Reznor, Atticus Ross e companhia. Os Nine Inch Nails, banda rock que usa despudoradamente a electrónica, foi o mais próximo que os músicos que actuaram no palco principal estiveram do universo Rimas e Batidas. Num festival desta dimensão, a oferta não desiludiu no primeiro dia e o público nunca esteve amorfo, muito pelo contrário.

O Palco NOS Clubbing foi o primeiro local de paragem “oficial” e Papillon, autor de um dos melhores projectos portugueses da primeira metade do ano, ficou encarregue de carregar a bandeira do rap. E não se coibiu de fazê-lo, colocando uma audiência efusiva a gritar “hip hop” e a “mexer as mãos” como se estivessem numa qualquer sala mais sintonizada com o género criado no Bronx, em Nova Iorque. Perante uma multidão que enchia, e de que maneira, o espaço, o rapper teve poucos momentos em que se deixou suplantar pelo facto de estar a actuar sozinho à frente de uma quantidade de pessoas que nem o próprio esperaria. Percebemos que iria ser memorável pela reacção na primeira vez que apareceu o nome do MC nos ecrãs do palco…

O alinhamento passou, obviamente, por Deepak Looper e contou com os convidados do costume. Slow J surgiu duas vezes em palco: a primeira para “Imbecis”e a segunda para tocar guitarra em “Impec”. O histerismo aquando da entrada do autor de The Art Of Slowing Down atestou a sua popularidade e confirmou que o hype é real. Peça fundamental no álbum de Papillon, João Coelho não poupou elogios ao colega. “É uma pessoa inacreditável. Merece esta merda que está a acontecer aqui hoje”, atirou antes de sair do palco.

 



Plutonio também apareceu para “cuspir” o seu verso de “Iminente”. Parte desta “Nova Lisboa” que assumiu todas as suas raças, a canção meteu os pés e as ancas de uma plateia inteira a mexer. Irresistível. De surpresa, Papillon ainda desafiou o rapper da Bridgetown para cantar o refrão de “Não Vales Nada”: uma reacção em uníssono a comprovar que as trends do YouTube não enganam e o bom momento do hip hop português é real. Não dá para falsear isto.

Com algumas semelhanças naturais com o que se passou no concerto de apresentação no Estúdio Time Out, as diferenças fizeram-se sentir nos pormenores. Mais entrosamento lá em cima e mais letras na ponta da língua cá em baixo. DJ X-Acto, Vasco Ruivo e Luís Logrado formam um trio de ataque que serve os instrumentais com atitude rock — principalmente o guitarrista e o baterista — e dão o upgrade necessário para as versões ao vivo. No Alive, estas “alterações” foram importantes para dar dinâmica à apresentação e para encaixar o artista no ambiente festivaleiro.

Dentro desse espírito particular, Papillon revelou que pensou em deixar “Imagina” de fora do alinhamento. Ainda bem que não o fez: colocou o festival em suspenso durante 5 minutos e emocionou-se (e emocionou-nos) com uma das músicas mais “pesadas” do álbum de estreia a solo.

“Eu sou a puta da prova viva de que os sonhos são possíveis de concretizar!”, gritou Papillon depois de ouvir o seu nome clamado aos céus pelo público que celebrou de forma incansável. Foi merecido: improvisou, tocou baixo num teclado MIDI, arriscou um falsete e encheu o palco com alma e talento de gente grande.

Depois da fasquia ficar tão alta, o trabalho dos nomes internacionais não ficou fácil e o foco principal virou-se para o Palco Sagres. Primeiro, Khalid, estrela precoce, conseguiu a maior enchente daquele espaço e desfilou uma série de hits que funcionam neste contexto, mas que não aquecem nem arrefecem. Uma espécie de indie r&b que fica sempre demasiado perto de entrar em caminhos pantanosos. As versões ao vivo com a banda não melhoraram o cenário.

O espectáculo (que também incluiu quatro bailarinas) é competente, mas inofensivo. Com apenas 19 anos, a experiência poderá jogar a seu favor no futuro. Os elementos estão lá, mas o tempero está longe de ser o ideal…

 



Com nuances mais introspectivas na escrita e instrumentações mais ricas, Sampha sucedeu ao autor de “Location” e apresentou-se perante um público que demorou a preencher o espaço vazio à sua frente — apanhou o final do concerto dos Arctic Monkeys –, mas que, a seu tempo, respondeu à chamada. No regresso a Portugal, o artista britânico mostrou que está mais solto e com maior presença de voz, sem medo de reclamar o protagonismo, ao contrário do que se tinha passado na actuação na edição de 2017 do NOS Primavera Sound.

Passados 12 meses, os destaques foram praticamente os mesmos: as assombrosas “Too Much” e “(No One Knows Me) Like The Piano” (ainda) são a prova de que o autor de Process é um dos grandes escritores de canções da sua geração. Está mais adaptado à realidade de um festival e soube tapar as suas falhas, criando um set sólido e visualmente apelativo com o apoio de três músicos que são peça crucial no controlo de todos os momentos. Já só falta um concerto em nome próprio numa sala fechada…

 



Com a impossibilidade de estarmos em dois (ou mesmo três…) sítios ao mesmo tempo — a omnipresença é algo que (ainda) não nos assiste –, os concertos de PAUS + Holly Hood e Orelha Negra ficaram apenas registados nas fotografias de Hélder White.

 


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