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Publicado a: 30/12/2017

Natia: Directamente das ruas para os nossos ouvidos

Publicado a: 30/12/2017

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Direitos Reservados

O hip hop, como forma de arte urbana, tem servido para expressar a vida nas ruas, ou seja, aquilo que se passa fora das quatro paredes do edifício onde habitamos que, em média, deverá equivaler a metade do tempo que compõe um dia. O rap, género musical em que a palavra serve de locomotiva para todas essas experiências exteriores à porta da nossa casa, já nos deu histórias de armas e tiroteios, perdas de amigos e ódios inimigos, drogas, álcool, amor, prostituição… Temas importantes e marcantes, mas que não nos tiram a saúde e o sono — aquelas 8 horas no conforto de uma cama num quarto aquecido ajudam a fazer o reset à maquina. Amanhã é outro dia.

Em Inglewood, Califórnia, há um MC que esteve seis anos sem conhecer um local ao qual pudesse chamar de lar. Exactamente o mesmo tempo que a sua carreira no hip hop carrega de longevidade. Aos 18 anos de idade, após uma discussão com a sua progenitora, Natia chegou à conclusão que não era bem-vindo na sua própria casa. Sem outro lugar para onde ir, o canto mais escuro de um court de ténis passou a ser o sítio onde dormia.



O jeito para as palavras e a vida como sem-abrigo obrigaram Natia a estabelecer uma nova meta para a sua vida: afirmar-se enquanto rapper e viver disso. Um emprego a tempo inteiro em que consegue demonstrar as suas capacidades.

Seis anos após a decisão de mudar tudo, a qualidade de vida de Natia, pelo que conseguimos perceber, melhora de dia para dia. De porta em porta, vai passando as noites em casa de amigos ou da namorada, entre Los Angeles e Nova Iorque, apenas com uma mala grande em que transporta alguns bens essenciais. Já não precisa de fazer freestyles na rua em troca de comida: o rap trouxe-lhe novas possibilidades económicas.

Para aqueles que navegam nas profundezas do mundo digital, a música de Natia tem estado disponível nos nossos lares através da Internet nos últimos anos. Graças à sua nova família, os Renaissance Family, o rapper conta com uma crew de amigos que o vão ajudando nas mais diversas vertentes que a arte requer: produção, gravação, vídeo e até mesmo outros MCs. Worthless Treasure, a sua primeira mixtape, foi alojada no SoundCloud em 2013. Uma estreia ainda verde mas promissora, notando-se as influências de nomes históricos da cultura como Eminem ou Ghostface Killah e até mesmo a eterna lenda do underground Max B.



A sua popularidade subiu de tom logo no ano seguinte, aquando da edição do EP Newport Diaries. Mais maduro e com uma identidade sónica e lírica cada vez mais vincada, Natia incluiu no trabalho o poderoso “The Wrong Way” — um autêntico hino ao seu estilo de vida alternativo, que chamou a atenção de Earl Sweatshirt — o rapper e produtor partilhou o tema nas suas redes sociais e, obviamente, funcionou como um valioso co-sign.

Não demorou muito até que outros nomes importantes dessem conta do talento do jovem de Inglewood, Califórnia. Como é o caso de Jeff Weiss, o fundador do blog Passion Of The Weiss e da editora P.O.W., que, ao descobrir a música de Natia, se propôs a ajudar o rapper com a edição do seu disco de estreia. Um processo delicado para alguém que não dispõe de ferramentas próprias para trabalhar — Natia não tinha sequer um computador — e que se estendeu por mais de um ano, tendo as gravações sido divididas entre 3 estúdios diferentes. 10K Hours, o resultado final, já está disponível para escuta desde 5 de Setembro deste ano.

Mesmo na ausência das condições mais propícias, Natia tem já seis projectos editados. Rebirth Vol. I, a sua mais recente mixtape, chegou-nos no dia de Natal.


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