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[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Direitos Reservados
Nandele surpreendeu-nos com um EP lançado no inicio do ano pela Kongoloti Records, Argolas Deliciosas. A referência a J Dilla é clara. O nome, a capa e, claro, o som apontam para essa esfera. O produtor moçambicano trouxe com ele o dom da inovação, não só referentemente ao seu país de origem mas na produção do hip hop no geral. É quase como se J Dilla tivesse nascido numa outra data, numa outra circunstância, no seio de uma outra cultura. Nandele desenha os seus beats com auxilio do papel vegetal, de onde retira os traços do já falecido ícone da produção, mas que se aventura em apagar, riscar por cima ou, até mesmo, ignorar alguns dos traçados standard para poder chegar com o seu lápis a outros cantos ainda não explorados. Ainda mais experimental.
No seu novo single, originalmente produzido a meias com Embri0n, Nandele não só explora o som como também a mensagem. Mesmo não havendo voz no tema, esta é uma canção de protesto e de homenagem. Emídio Macie era um taxista moçambicano que residia e trabalhava na África do Sul e, aos 27 anos, foi morto pela policia sul africana que o amarrou a uma carrinha, arrastando-o pela rua até que perdesse a vida. “Este tema é um tributo ao Emídio”, diz-nos Nandele. O caso foi noticiado e há mesmo relato em vídeo do que se passou naquele dia.
Nesta nova versão Nandele toca o tema ao vivo no estúdio acompanhado dos The Mute Band, expandido o original até ao dobro da duração. O resultado final é fruto da química gerada entre o homem e as suas máquinas, aliado a toda a orgânica que a banda convidada acrescenta com os seus instrumentos.
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