[TEXTO] Ayumi Ajax [FOTOS] Hélder White [VÍDEO] Luís Almeida
“Para conheceres Batida tens de ver ao vivo.”
– Foi esta a frase que um amigo me disse no final do ensaio. Em cheio.
Normalmente esta seria a ordem natural das coisas, conhecer realmente algo não é conhecer só uma parte, sobretudo falando sobre o trabalho do Pedro, também conhecido como Batida.
É ao vivo que tudo se une. O Pedro, quem o completa, o que o completa, a música, o vídeo, a dança, as sombras, a luz. Uma só.
Ontem, abriu-nos a porta do seu ensaio geral, no Village Underground em Alcântara, para os shows em nome próprio que levará a salas em Nova Iorque e Washington.
Bora. O pessoal entrou, “…estão muito mais do que seis pessoas.”, repetia ao início enquanto se apresentava, sala simples, escura. No centro um jerrican iluminado e o Pedro.
“Xe!” Uma palavra e duas notas e com esta música deu início ao set dançante cheio de intenções e dinâmicas distintas.
Uma conversa entre duas figuras no escuro que comunicam através das suas linguagens, o Pedro com a música e a palavra, e o Gonçalo com a dança. Um act quase experimental que introduz Batida elemento por elemento.
Opção 2 (Como um show paralelo) – Começar no topo. “Luxo”, com alguma ironia à mistura, ritmo acelerado desde o início, já ninguém está tão atento aos elementos individuais, estamos todos a dançar por dentro. “Luxo” que serve de leve intro para o hit pesado que retrata a guerra em dance track – “Bazuka”
Nada brilha mais que a música.
Os estímulos estão todos lá, seja no vídeo ou nas coreografias, o cérebro está sempre a ser alimentado.
Como é preciso exorcizar os males, há um momento dubby psicadélico com “Ka Heueh” e “Tribalismo” para limpar a mente.
A dançar, agora cada vez mais lentamente foi-nos posta em contexto a importância dos DJs na troca e na mistura. A música “Café” de Matadidi Mário e o filme “Sambizanga” de Sarah Maldoror, trocados e misturados para criar o sofisticado “Pobre e Rico” – (irritante adjetivar como sofisticada uma música chamada “Pobre e Rico”), mas aquilo é groovy de uma maneira muito específica. Cinema angolano meets êxito dos anos 70 meets música de dança de hoje, é isto!
Mas não se termina deitados no tapete, há uma rampa que começa no “Yumbala” e acaba com “Alegria”.
Um build up de agitação e cor! Aquilo que todos queremos! A felicidade de dançar como se aquele comboio fosse durar para sempre e não se fosse tornar profundamente ridículo logo a seguir. A energia entrou em todos os presentes no espaço.
A experiência das batidas fortes a ecoar dos cabelos até aos dedos dos pés, assistir aquela peça meticulosamente pensada para nos fazer sentir curiosidade, força, liberdade, loucura e alegria resultou no melhor show que Batida apresentou até hoje, despido até ao essencial.
Uma luz, o Pedro, e uma lata. Só que não foi um show, foi um ensaio geral, aberto ao público! Os shows são entre Nova Iorque e Washington nas próximas 3 semanas.