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Publicado a: 11/08/2018

MEO Sudoeste’18 – Dia 3: a loucura de Desiigner, o “funeral” de Lil Pump e a competência dos rappers portugueses

Publicado a: 11/08/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Direitos Reservados

O terceiro dia da presente edição do MEO Sudoeste foi feito de contrastes. Em representação das cores nacionais, tivemos os veteranos Mundo Segundo & Sam The Kid e os novos protagonistas DOMI e Bispo. Lil Pump e Desiigner representaram a facção norte-americana. Do boom bap ao trap, da juventude à experiência, o rap e as suas derivações honraram um compromisso muito importante: a porta está aberta para quem queira entrar. No entanto, o melhor é ficar atento. Existe sempre alguém que abusa da confiança.

Directamente de Portimão, DOMI actuou na companhia de Tóxico e Supa Dust Man na sua estreia no cartaz do MEO Sudoeste. Depois de assinar pela Universal Music Portugal, o rapper tem lançado temas soltos e todos, excepção para “Voltar”, que saiu há uma semana, angariaram mais de um milhão de visualizações. E o que é que isto significa ao vivo? Muito, no caso de DOMI. As letras estavam decoradas e o autor de “Não Esqueço” mostrou-se bastante competente a rimar, sempre acompanhado por um público que parecia maioritariamente composto por pessoas da sua terra natal. A jogar em casa, portanto.

Antes de sairmos para rumar ao palco principal, o rapper ainda estreou “Origem”, novo tema que provavelmente fará parte do novo EP que, em conversa com o ReB, prometeu lançar até ao final de 2018.

 



Ver a dupla que faz a ligação Gaia-Chelas é como assistir a um jogo All-Star. Já sabemos que vai existir espectáculo e que ali vão estar os melhores jogadores. DJ Guze e DJ Cruzfader protegem sem dificuldades Mundo Segundo e Sam The Kid e tudo acontece sem grandes sobressaltos. A dupla toma conta do palco com facilidade e destreza, tocando temas a solo como “Era Uma Vez”, “1995-12-16”, “O Recado”, “Juventude é Mentalidade”, “Não Percebes”, “Raio de Luz” ou “Poetas de Karaoke”. O público, que é jovem, sabe as faixas de cor, o que significa que o tempo não maculou estas canções.

Em conjunto, mostraram a química habitual em “Brasa” e “Tu Não Sabes”, deixando água na boca para o disco colaborativo que tarda em chegar. Também convidaram o incontornável MAZE para tocar, entre outras coisas, a clássica “Brilhantes Diamantes”. Com uma plateia composta, o duo que une o Porto a Lisboa mostrou que mantém as suas melhores qualidades intactas.

 



A armada nacional encerrou as contas desta terceira jornada com Bispo. O rapper de Algueirão, Mem Martins, fez o bis — o ano passado também actuou no festival –, mas desta vez trouxe um formato novo que teve estreia absoluta na Herdade da Casa Branca. Alexandre (baterista), Frankie Baptista (guitarra), Ivo Magic (baixo), Ivandro (back vocal) e D’Ay, DJ que substituiu Fumaxa, deram outra força e ginga às canções e Deezy e Vado MKA acrescentaram valor a uma actuação que mereceu enchente no palco LG.

 



A Internet abriu as portas para muita coisa: uma delas foi a possibilidade de ver concertos com alta qualidade à distância de um clique. Por essa mesma razão, só quem desconhecia totalmente o trabalho de Desiigner é que poderia ficar admirado com o que se passou. Um exagero andante que caminha nos seus próprios limites — vomitou no meio do palco — e que vive da energia dos outros. Não admira que tenha passado mais de metade do tempo no corredor que divide o público a meio.

O autor de New English é uma caricatura dos rappers da nova geração que estão ligados aos 808s, ao SoundCloud, ao mumble e ao consumo excessivo de drogas. Os exageros nos ad-libs e a voz raramente perceptível, misturado com um ar meio tonto, tornam tudo risível. Com tanto talento à espera de ser apoiado, é difícil perceber a aposta cega de Kanye West e Pusha T em Desiigner.

Dito isto, não há duvidas que tem alguma facilidade em fazer hits, desde a inevitável “Panda” à sinistra “Timmy Turner”, passando pelas pomposas “Outlet e “All Around The The World”, oportunidades não-desperdiçadas pela plateia para os cada vez mais frequentes moshs em concertos de rap.

Quando pediu a uma série de pessoas que subissem ao palco, todos os pedidos foram correspondidos, excepto um. Em vez da rapariga com, vamos traduzir desta maneira, “rabo gordo”, a produção (ou alguém da sua equipa) decidiu colocar no seu lugar uma miúda que não deveria ter mais de 10 anos. Um momento surrealista à Monthy Python que só poderia ser compreendido e abraçado por alguém completamente tresloucado como Desiigner.

No fim, a energia inesgotável do MC de Brooklyn, Nova Iorque, acabou por minimizar a incapacidade de cantar os seus versos na íntegra e o desconhecimento geral do seu trabalho.

 



Contudo, o pior estava para vir. Antes da entrada de Lil Pump, o seu DJ e Desto Dubb (um rapper ainda menos prendado que o cabeça de cartaz) fizeram as honras da casa, ou seja, “queimaram” tempo para encurtar a prestação de Gazzy Garcia. Ouviram-se músicas de Drake, Kendrick Lamar, Pusha T e Travis Scott, nomes que só encontram paralelo com Lil Pump nos números de visualizações e plays porque em termos de talento existe um abismo que os separa.

O balanço final foi este: “Drug Addicts”, “Molly”, “D Rose”, “Gucci Gang”, “Iced Out”, “Boss”, “ESSKEETIT” e uma homenagem a XXXTentacion com “SAD!”. Como já era expectável, rimou em cima da sua voz pré-gravada e a sua interacção com o público resumiu-se a ordens para se abrirem os mosh pits que, pela velocidade a que entrou e saiu do palco, não devem ter sido do seu agrado. “Não viemos aqui para olhar uns para os outros. Isto não é um funeral”, atirou a certa altura o rapper de 17 anos. Os diamantes podem durar para sempre, mas as músicas de Pump têm data de expiração.

Se existe uma lição a retirar das actuações dos nomes internacionais, e colocando os Wet Bed Gang em perspectiva, por exemplo, é que por cá ainda estamos preocupados em dar um espectáculo e percebemos que um palco de um grande festival não é o mesmo que o palco de uma discoteca.

 


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