pub

Publicado a: 27/10/2017

Marcelo D2 & SambaDrive no Convento São Francisco: Segundo as leis da física, é impossível isto soar mal

Publicado a: 27/10/2017

[TEXTO] Núria R. Pinto [FOTOS] Wilmore Olivera

Quando Marcelo D2 se juntou ao trio SambaDrive, a ideia, segundo o rapper, passava por actuar em pequenos bares de jazz com uma atmosfera bastante mais intimista, própria de um qualquer clube (dos bons) no fundo de umas escadas; enfim, algo a que o género sempre nos habituou.

Não esperava, certamente, tocar no grande auditório do setecentista Convento São Francisco para uma jovem plateia conimbricense, oriunda de ambos os lados do Atlântico. Não que isso seja uma desvantagem: muito pelo contrário.

Marcelo D2, o baixista Mauro Berman, o baterista Lourenço Monteiro e o pianista Pablo Lapidusas – argentino agora radicado em Portugal – perceberam facilmente que a casa, pela metade, sabia bem ao que ia e desempenhou na perfeição a tarefa de os acolher, apesar da dimensão do espaço. Lá pela terceira faixa, já mais de metade do público havia largado as cadeiras e descido as escadarias para formar aquela que, no final, seria uma grande massa de gente dançante.

 


marcelo-d2-5


Assistir a uma das primeiras apresentações do grupo que, para além desta primeira tour na Europa, ainda não tocou no Brasil, poderia caracterizar-se como uma experiência potencialmente terapêutica. Quase que dá para imaginar: sentadinhos no sofá de casa, bem acomodados, com um bilhete de passagem para o “planeta Hemp” – dependendo das dinâmicas de cada um, é claro – e ir vendo surgir, um a um, Ivan Lins, Marcos Valle, João Nogueira, Baden Powell, Bezerra da Silva e tantos outros, numa espécie de enciclopédia cantada e reinventada da música brasileira. Parece bem? Vai ficar melhor.

Se é certo que a veia sambista sempre se viu pulsar no MC carioca mais do que em qualquer outro, não dá para ignorar que é também à bateria de jazz, à melodia única do Rhodes e à elegância do baixo swingado que devemos o bater de pé. E que, no meio de tudo isto, ainda há um rapper de peito cheio. Um que a dias de fazer 50 anos continua a procurar a batida perfeita, quiçá nunca tenha estado tão perto dela, e a trazer o mesmo peso na voz independentemente dos cinco concertos em cinco dias seguidos pela Europa fora.

 


marcelo-d2-4


“By the laws of physics its impossible for this song not to be good”, lê-se num comentário de uma fã à faixa “Gunshowers” do combo BadBadNotGood/Ghostface Killah. Roubei, descaradamente, para servir de descrição ao que se passou aqui. Pode, em Marcelo D2 & SambaDrive, encontrar-se paralelo com o terreno que os canadianos têm vindo a desbravar nos últimos tempos ou com a colaboração de 2001 que uniu Jay-Z aos The Roots, por exemplo, e juntar-lhe um pouco da paixão de Madlib pela cultura brasileira.

De qualquer modo, em Coimbra, vimos velhotas a sambar na mão de D2, um público maioritariamente jovem a rimar de cor por cima de um trio de jazz cujos nomes o MC teimava em não deixar esquecer e, sobretudo, uma presença madura e, visivelmente, realizada em palco. Tudo isto sem deixarmos o nosso sofá de jazz club setecentista.

 


marcelo-d2-2

marcelo-d2-3

marcelo-d2-1

marcelo-d2-alinhamento

pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos