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Publicado a: 03/09/2017

Lisb-On – Dia 2: Let the sun shine

Publicado a: 03/09/2017

[TEXTO] Diogo Pereira [FOTOS] Manuel Abelho e Rodrigo Morais

O segundo dia do Lisb-On contou com um notório sabor a África, desde os DJ sets que o abriram até aos concertos dos dois cabeças de cartaz no final da tarde.

Depois de uma apresentação de nada mais nada menos do que João Botelho himself, com direito a voice-over e dança xamânica, a tarde começou bem quente com os ritmos house e licks de piano e sax de Ramboiage, a fazer jus ao seu nome bem idiossincrático.

 


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Seguiu-se Francisco Coelho e o seu cocktail de música africana e brasileira, misturadas com disco e funk, a lembrar William Oneyabor e a servir de prenúncio a Tony Allen. Mixologia por quem sabe. “Jungle music”, cantava a voz em loop, em cima de solos de guitarra aguerridos, com muitos sopros à mistura.

Seguimos para o neo-soul afro-futurista de Amp Fiddler, que entrou em palco trajado de dashiki preto e Afro vermelha. Com uma batida clássica boom bap, licks de Fender Rhodes, scratch e voz melodiosa de soul, levou-nos por momentos de volta aos anos 90, tempos áureos do rap alternativo e de fusão. Se ainda vivêssemos nessa era, faria parte dos Native Tongues com certeza.

Às vezes DJ set, às vezes concerto, o artista começou pelo hip hop tradicional, mas teve momentos de funk, disco, soul e jazz, alcançando todo o espectro da música negra/afro-americana. Cantou, dançou, tocou. Um artista completo. Feel good music do mais melódico e agradável que se ouviu estes dias. E ainda houve tempo para receber Tony Allen em palco com um grande abraço.

 


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Entretanto, as temperaturas começaram a aquecer. Ainda nem eram seis da tarde, e já foi precisa (e muito bem-vinda) a ajuda de uma rapariga a passear pelo meio da multidão com um aspersor de vapor de água portátil para refrescar os ânimos. E viram-se peças de roupa feminina penduradas em ramos de árvore.

O sol começava a descer, e foi tempo de tirar o ramo de flores da frente do palco para melhor vermos a bateria de Tony Allen, que entrou acompanhado de uma clássica formação jazz: órgão, contrabaixo, e dois saxofones, alto e tenor.

Ritmos sincopados, solos bem medidos e improvisos livres de piano e saxofone, com espaço para os músicos respirarem e se fazerem ouvir, num set que oscilou entre um jazz mais tradicional e o afrofunk que o tornou tão conhecido, e que incluiu momentos do seu mais recente projecto, álbum de tributo a Art Blakey & The Jazz Messengers editado pela Blue Note, como “A Night In Tunisia” e “The Drum Thunder Suite”.

 


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Amp Fiddler regressou ao palco para tocar órgão ao lado do pianista Jean-Philippe Dary, numa versão única de “Moanin’” que pareceu tirada da banda sonora de um filme de espionagem dos anos 70. Não foi o mais dançável da noite, mas é de aplaudir o corajoso gesto de incluir jazz tão puro num festival de música electrónica.

Pausa para espreitar o palco Carlsberg onde se dançava e bem ao som de “This Must Be The Place” dos Talking Heads. Cassy preparou a entrada na noite com um set de ritmos deep house, muitas vozes femininas, loops de piano e congas. Mas foi Nina Kraviz a estrela da noite com um longo set de techno veemente que à semelhança de Sven Vath nunca abrandou a intensidade, feito de batidas pujantes, sons industriais, vozes graves e samples viciantes, incluindo aquilo que foi um uso interessante do jingle de The Twilight Zone em loop, enquanto atrás de si era projectado um desabrochar de flores a preto e branco.

Ao longo do set nunca perdeu contacto com o público, apontando-lhe as mãos e recitando os samples vocais com os lábios (“You think you can handle it? You know you want it”). E ainda nos mostrou os seus moves bem idiossincráticos, usando as mãos como um mimo alegre.

 


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A noite fechou com a DJ russa a responder a todo o amor do público lisboeta, que gritava em veneração o seu nome no ar frio da noite (“Nina! Nina!”), subindo a duas colunas nos dois extremos opostos do palco e acenando de volta. E no final, é claro que houve tempo para falar e tirar fotografias com os fãs.

Talvez tivesse sido interessante e oportuno ouvir um set diferente a fechar um dia dedicado à música negra, mas isso não tira mérito e diversão ao Lisb-On, que termina hoje com música de dança non-stop, só para os mais resistentes.

 


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