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Publicado a: 03/03/2018

A noite foi das mulheres (com ou sem celulite e com ou sem “pinto”)

Publicado a: 03/03/2018

[TEXTO] Núria R. Pinto [FOTOS] Inês Costa Monteiro

A primeira apresentação de Linn da Quebrada em Portugal estava esgotada há muito e se é certo que a MC brasileira se apresentava como a verdadeira rainha da noite, o DJ set de Mykki Blanco, em back to back com Jagër, que se fez anteceder, ou aquela que seria uma das raras apresentações do amante de bolos Conan Osiris, também tiveram o seu peso na hora de fazer voar as entradas da ZdB.

O artista norte-americano aqueceu a noite para uma sala já a rebentar pelas costuras, deixando muito pouca gente nos espaços comuns da galeria: para aqueles que chegariam depois das 22 horas, achar que o espectáculo ainda nem sequer tinha começado não seria assim tão improvável. Mykki Blanco apresentou-se em palco como um verdadeiro pote de mel e foi, até perto das 23 horas, distribuindo colheradas de pop, rap e funk açucarados, para uma plateia que não mostrava sinais de querer desgrudar.

 


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“Meus putos, vamos ter que fazer isto rápido que já não temos assim tanto tempo!” Conan Osiris entrava depois da hora marcada — com tempo para distribuir beijos e elogios muito bem recebidos pela plateia, é certo — para um concerto de abertura que soou a tudo menos a isso.

Para os cépticos em relação ao fenómeno por detrás de Adoro Bolos, o mais amado ou mais odiado disco de 2017, surgem-me dois conselhos possíveis: quem não o viu, que vá ver; quem não o contratou, que contrate. O músico do Cacém abriu acapella, por força de um sistema de som que não quis cooperar, e dissipou quaisquer dúvidas que pudessem existir em relação ao seu poderio vocal ao vivo.

O Médio Oriente da “Borrego” mostrou que o calor se faz sentir bem mais a Este que na Califórnia do primeiro em palco. “Não danças um caralho”, afirmava, irónico, em relação a João Moreira, que o acompanha. A verdade é que, cá em baixo, os corpos mostravam-se programados para dançar os ritmos do mundo de Conan como se as suas próprias vidas dependessem disso. Ou isso ou talvez seja a nossa veia árabe a ressacar de outras batidas que, aparentemente, também nos fazem falta. “Celulitite”, a faixa-hino que as mulheres finalmente ouviram ser cantada por um homem do Cacém, foi recebida com euforia e só isso bastava para que merecesse os bolos que alguém lhe ofereceu no final. Também te adoramos, Conan.

 


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Já passava da meia-noite quando a mistura luso-brasileira que preenchia a ZdB recebia eufórica a sua gata borralheira agora coroada. “Não adianta pedir que eu não vou te chupar escondida no banheiro” marcava a entrada de Linn da Quebrada, armada tanto em palavras quanto em atitude — e um dildo a servir de colher — para dar continuidade ao poderio sonoro e de ritmos quentes que nos transportavam agora para sul. É preciso “(Muito +) Talento” para fazer da ZdB um espaço onde o activismo se dança — e muito — e foi exactamente isso que vimos acontecer.

Cantou-se Pajubá praticamente na íntegra e rebolou-se a celulite até ao chão. Homens, mulheres e todos aqueles que são um e outro têm na voz e na figura — incansável — de Linn da Quebrada um novo exemplo para a libertação dos corpos, eu diria. Se essa libertação não se faz a dançar, eu não sei como se faz.

Houve espaço para o funk tradicional — “e se o cu não estiver suando é porque não está bom ainda” –, mas talvez fusão — ou funk de fusão com o pop, o trap e o rap –, seja o termo certo não só para descrever toda a produção sonora de Linn como toda a dinâmica que se viveu na sala. Ou, como dizem os brasileiros, tudo “junto e misturado”. Graças a Deus.

 


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