[TEXTO] Alexandra Oliveira Matos [FOTOS] Hélder White
Juntaram-se as “duas beiradas do Atlântico”, dizia Rael. Reuniram-se no palco EDP para mais palavra carregada de pensamento e de Língua Franca. A fórmula, sem dedo a apontar no formato físico, estava ali em palco, pela primeira vez, à mercê de um público distraído e, a certa altura, impaciente por voltar a ver Valete. Já lá vamos.
“Génios Invisíveis” abriu a quatro o concerto, seguida por “Ela”. Entre músicas do álbum, os quatro gigantes iam provando valor com temas próprios; Emicida com “Rua Augusta”, Capicua com as suas bem conhecidas “Maria Capaz” e “Vayorken”. “Ideal”, “Modo Voo” e “AFROdite”. Diferentes perspectivas colocaram-nos novamente a ouvir língua portuguesa com variados ritmos. De seguida, Rael abria “Caminho” entre um público que, apesar das palmas e dos braços no ar, já se mostrava impaciente. No meio da audiência ouvia-se muitas pessoas a perguntar “onde é que está o Valete?”. E ele voltou a palco, sobejamente aplaudido e a pedir com licença para cantar “uma das mais antigas”. “Fim da Ditadura” foi entoada de cor pelo público e “RAP Consciente”, depois de Valete pedir que não o deixassem mal, foi gritada enquanto se repetia “se é para morrer, morremos de pé”.
De Língua Franca ainda houve tempo para ouvir “[A]tenção”, “A Chapa é quente”, dos dois brasileiros que colocaram o público a sacudir o corpo ao som da batida funk. E, para fechar, “Amigos”. “O rap é para dizer coisas boas, mas também é ferramenta e megafone”, disse a certa altura Capicua, a maestrina desta ponte transatlântica ali em palco. E se há algo que Língua Franca provou foi que os festivaleiros param, escutam e a língua portuguesa não precisa de legendas seja em que tonalidade for. Do português carregado do Porto, à gíria lisboeta, ao Camões cantado do Brasil, à língua colocada em prática no crioulo de Cabo Verde e tudo o resto a que soa a língua que já não é só deste continente e daquelas ilhas.