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Publicado a: 07/02/2018

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[TEXTO] Moisés Regalado

Se existiam dúvidas sobre o tão especulado regresso de Lil Wayne aos discos, foi no Natal de 2017 que estas se dissiparam (quase) definitivamente. A sexta parte da saga Dedication viu a luz do dia a 25 de Dezembro e trouxe consigo a promessa de uma sequela, que acabaria por ser editada no mês seguinte e serviu de ponto final ao mais recente discurso de Weezy.

O formato mixtape não surpreende quem tem acompanhado a sua carreira, pautada pelo hustle e pela demonstração de skills, entre outros valores indissociáveis da cultura hip hop. Mas nem por isso deixou de se afirmar como um dos principais rostos de uma nova sonoridade, do mumble flow ou do consumo de lean, conquistando sobretudo o apoio das massas jovens. E Lil Wayne parecia destinado a isso mesmo: ser lembrado como alguém que, não convencendo o movimento, ditou tendências para depois se refugiar na sombra do próprio nome.

Foi essa ideia que moldou e acabou por dar vida ao projecto. Dedication 6 e Dedication 6: Reloaded são, antes de mais, manifestos. Provas cabais de que Wayne se quer perpetuar como o liricista que sempre foi, autor de versos e métricas de primeira linha (apesar da entrega e da dicção menos convencionais com que as veste). Mas, mais do que provar esse ponto de vista, o rapper tornou claro o que apenas a distância e o tempo permitem ver. Se em 2008, ano em que Tha Carter III fez parar a comunidade, Lil Wayne parecia um rapper esteticamente distante dos seus pares mais tradicionais, é hoje notório que poucos artistas serão tão representativos da evolução do rap.

 



Na primeira destas mixtapes não há espaço para nada que não seja flow e dicas. A seriedade da proposta e a capacidade de Weezy para a desempenhar ficam desde logo patentes com a escolha do instrumental de “DNA”, single de Kendrick Lamar, para a faixa introdutória. O MC não desiludiu e trouxe consigo uma escrita pautada por trocadilhos (“I got Dracos, Ninos, Automatics, that’s my DNA”), registo que reforçou ao longo das quase três horas que se seguiram. Voltou a Kendrick em “Weezy N Madonna”, revisitando o instrumental de “Loyalty”, mas também passou pela música de Dave East, Lil Uzi Vert, Kodak Black, 6lack, 21 Savage, Lil Pump ou Jay-Z.

O estilo não desilude quem gosta de “barras”. Há pouco espaço para desvios como, por exemplo, refrões orelhudos. Os poucos que se ouvem são claras tentativas de parodiar o original e daí não resultaram momentos assinaláveis. Mas o mesmo não se pode dizer dos flows. Ainda que, na sua maioria, também sejam inspirados nos antecessores, Lil Wayne conseguiu apanhar os tiques essenciais de cada artista e explorou-os praticamente até à exaustão, melhorando quase todos. As excepções foram poucas e uma delas passa pela popular “Rockstar” de Post Malone, que, também aqui, se assume como intocável.

Os interlúdios de Dedication 6: Reloaded, em que o rapper disserta sobre várias questões que lhe surgiram ao longo dos últimos anos, completam aquilo que cada vez mais é explícito na sua música. Os actuais compromissos de Carter Jr. passam, segundo o próprio, pela concretização pessoal e pela evolução da técnica. Caso assim seja, e enquanto o resultado for semelhante ao destas Dedication, os fãs agradecem e não podem pedir muito mais.

 


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