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Publicado a: 24/11/2016

Ladybug Mecca dos Digable Planets: “É uma vantagem a Internet tornar o mundo muito mais pequeno”

Publicado a: 24/11/2016

[ENTREVISTA] Rui Miguel Abreu [FOTO] Direitos Reservados

Reachin’ (A New Refutation of Time and Space) e Blowout Comb são a herança deixada pelos Digable Planets ao universo hip hop. Jazz e hip hop numa fusão herdada de A Tribe Called Quest foi a proposta base do grupo composto por três talentosos artistas: Ladybug Mecca, Butterfly – que causou ondas num passado recente com Shabazz Palaces – e Doodlebug. Sem álbum novo, mas com um interesse renovado por um público ávido por devorar o melhor da cultura hip hop, o grupo regressou para uma tour nos Estados Unidos da América e Europa em 2016.

Nas vésperas de actuarem no Vodafone Mexefest, Mary Ann Vieira, a parte feminina dos autores do clássico intemporal “Rebirth of Slick (Cool Like Dat)”, esteve à conversa com Rui Miguel Abreu sobre o que significa este regresso, a recepção da audiência ou a relevância na actualidade das letras escritas em 1993/1994.

 


Algo que sempre me despertou curiosidade: tens um nome bastante português, Vieira. É um nome de descendência cabo-verdiana ou algo parecido?

A minha família é do Brasil. Os meus pais são de lá.

Talvez tenhas algum antepassado que era de Portugal porque o nome é bastante português.

De certeza que sim. Os brasileiros tipicamente vêm de indígenas, africanos, portugueses. Pelo menos na minha família é esse o mix. Também do Médio Oriente…

Obrigado por satisfazeres a minha curiosidade. Tu falas alguma coisa de português?

Sim, por acaso sim. Não falo tanto agora porque os meus pais já morreram há alguns anos, mas tenho viajado frequentemente para o Brasil nos últimos 10 anos e tenho tido oportunidade de falar mais com os meus amigos.

Vai ser útil quando vieres a Lisboa. Podes falar-me sobre a tour? Como é que estão a correr as coisas? Como é que os espectáculos estão a ser recebidos?

Os espectáculos têm corrido muito bem, de verdade. O público tem recebido muito bem. Participam, cantam, reagem… Fazem-nos sentir bem. Nós temos uma banda brutal connosco. Rapazes talentosos e criativos que frequentemente esticam a canção onde nos podemos “perder”. Sentimos mais como uma vibe. É essa a melhor maneira que posso descrevê-lo.

 



As pessoas andam a ouvir novas versões de velhas canções ou vocês respeitam os arranjos originais? Fala-me um pouco sobre isso.

Sim, os arranjos são os mesmos nas canções, mas nós podemos mudar um bocado musicalmente no início ou alterar alguma coisa no final, adicionar um freestyle ou aquilo que sentirmos na altura.

Há alguns dias, tivemos um grande momento de celebração com a chegada do novo álbum dos A Tribe Called Quest. Quando é que vamos ter um momento similar para celebrar o lançamento de um novo álbum dos Digable Planets?

Eu amo os A Tribe Called Quest e tenho ouvido o noov trabalho em streaming sempre que posso, ali e aqui. Eu amo tanto, eu amo-os. Fico bastante feliz que eles tenham lançado este álbum. Quanto a nós, temos falado muito e planeado para começar a fazer algo no novo ano. Temos trabalhado os detalhes de como podemos estar juntos para fazê-lo.

Não sei se tomas notas de letras no iPad, caderno ou iPhone, mas tens trabalhado nesse lado da tua criatividade?

Não tenho trabalhado em nenhum conceito para Digable Planets, porque eu tenho um novo projecto chamado Brookzill!. É um mix de hip hop com música brasileira e é comigo, Prince Paul [produtor dos De La Soul], Don Newkirk e um MC do Brasil, Rodrigo Brandão. Nós temos preparado o nosso espectáculo ao vivo e trabalhado nisso. E quanto a escrever letras, tenho andado focada no meu trabalho a solo. Quando o tempo for o certo, e agora que já tenho isso mente, irá começar naturalmente para os Digable.

 



Existiam muitas letras dos Digable Planets sobre identidade, empowerment, raça… Temos tido ultimamente uns dias estranhos e especiais, quando voltas a essas letras, e agora que têm tocado esse material, pensas que ainda são relevantes no presente? Eu penso que são e que tocam nos assuntos que estão em debate agora. Como é que achas que as letras se relacionam com o actual estado dos Estados Unidos?

Sim, eu diria que acertaste em cheio [risos]. São assuntos que o mundo tem sempre que se preocupar ou lidar com isso. É como se nada tivesse mudado e é bastante mais relevante com a administração que está a chegar. Vai continuar a ser relevante enquanto tivermos certas pessoas que não compreendem que temos o direito de fazermos o que quisermos com o nosso corpo e as nossas vidas.

Quanto ao papel da mulher em particular na cultura hip hop, e do teu ponto de vista, tu que já tens uma perspectiva desde os anos 90 até agora, pensas que tem existido uma evolução ou tudo tem ficado na mesma ou ainda pior para uma mulher no hip hop?

Eu, pessoalmente, conheço mulheres que continuam a criar a sua arte, não importa o que aconteça. É claro que sempre existiu um “clube de rapazes”. Para mim, eu apenas me foco na minha arte e sinto que a Internet tem sido a plataforma que dá a oportunidade de partilhar a arte com o mundo. É uma vantagem a Internet tornar o mundo muito mais pequeno. Num número grande de aspectos, é bem melhor. Tu tens que ser persistente. Tens que fazer o que tu tens que fazer. Nós não podemos deixar os outros definir-nos.

Vocês têm viajado e isso é uma oportunidade para ver a força do hip hop no mundo, que penso ser muito diferente dos anos 90. Achas que esta cultura é um motor para a mudança? A minha visão, pessoalmente, é de que o hip hop foi capaz, em Portugal, de mudar as perspectivas em assuntos como a identidade, raça e dar poder às pessoas depois da revolução. Foi importante para eles como veículo para afirmação. Achas que tem sido uma força transformativa no mundo?

Definitivamente que começou dessa forma, mas começou a tornar-se uma indústria que vale mil milhões. Tu tens pessoas que querem fazer arte pela mudança social mas também tens um influxo de artistas que estão mais preocupados em ter uma marca ou um contrato com uma marca antes de lançarem um álbum e não lançam nenhuma arte. Mudou bastante nessa perspectiva. Alguém como eu que vem da golden era não consegue encarar as coisas de outra maneira. É da maneira que é. Ainda existem artistas que ainda têm algo para dizer com substância, que se preocupam com a comunidade e com o mundo.

Disseste há pouco que andavas a ouvir o novo álbum de ATCQ. Quais são as outras coisas que andas a ouvir ultimamente?

Tenho andado a ouvir Kelsey Lu. Ela toca violoncelo – tem treino clássico – e a voz de um anjo. Ela tem um novo EP chamado Church. Tenho ouvido o novo álbum da Solange Knowles, claro. Descobri um novo artista chamado Young Magic, mas penso que podem ser duas pessoas. Tenho ouvido muito esses três ultimamente.

 


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