pub

Publicado a: 27/11/2017

Jessie Ware: Dos bastidores para os holofotes

Publicado a: 27/11/2017

[TEXTO] Vera Brito [FOTO] Direitos Reservados

Ao terceiro álbum, Glasshouse, editado em Outubro, Jessie Ware já não precisa de dar provas a ninguém do lugar que conquistou no centro do palco, debaixo dos holofotes mais brilhantes. Essa prova foi logo dada com Devotion, disco que, em 2013, apresentou ao mundo uma nova voz na soul, ou na neo-soul, porque a londrina não esconde as suas muitas outras influências musicais, sobretudo as electrónicas, que a projectaram na pop. A sua música consegue chegar a todos, sem que isso lhe custe alma ou elegância.

Das muitas impressões que recolhemos sobre Jessie Ware, inclusive da própria em algumas entrevistas, repete-se a ideia de que o seu sucesso se deve bastante ao facto de não parecer levar-se muito a sério. Mesmo com três discos sólidos (Devotion valeu-lhe uma nomeação para o prestigioso Mercury Prize), Jessie Ware é consciente de que a sua carreira musical, que despontou já algo tarde, pelo menos no que é normal nas engrenagens da máquina da música pop, poderia muito bem nem ter acontecido, não fossem as pessoas certas e alguns acasos felizes.

 



A londrina, que chegou a trabalhar alguns anos como jornalista, entrou no mundo da música pelos bastidores, fazendo backing vocals em diversos projectos, quando finalmente chamou a si as atenções com a colaboração com SBTRKT, no EP Nervous, que lhe valeu o seu primeiro contrato como uma editora discográfica. SBTRKT também foi o responsável pela projecção de Sampha, que Jessie Ware acabaria por conhecer para depois com ele trabalhar na terna “Valentine“, um diálogo de um amor impossível entre dois dos melhores artistas que o Reino Unido viu florescer nesta década.

O amor é aliás o planeta em torno do qual orbitam os álbuns de Jessie Ware, atravessando as várias fases da vida da cantora. Um amor que passou pela inocência de Devotion, aquela oportunidade única que cada artista tem para escrever o seu primeiro álbum, condensando todas as experiências até ali vividas. Um amor que amadureceu em Tough Love e superou as dificuldades de uma relação à distância, a que as longas digressões obrigaram. E um amor que se celebra em Glasshouse, agora ampliado a uma filha, que Jessie Ware carregou no ventre durante as gravações.

 



Mas há muito mais para além das letras das músicas de Jessie Ware a fazer bater corações. Há sobretudo uma voz incrível capaz de nos acelerar o pulso até nas batidas mais lentas, como “Tough Love”, onde esticada até à oitava limite nos leva consigo a lugares impossíveis. Ou como a ferocidade libertadora de “Midnight”, onde a ouvimos por fim usar sem reservas toda a sua capacidade vocal. E sabemos que, atrás de uma grande voz, há quase sempre um exímio produtor, capaz de fazer um cantor se aventurar para longe do que lhe é confortável. As escolhas de Jessie Ware têm sido afortunadas e inteligentes. Dave Okumu, Julio Bashmore, Benny Blanco, BenZel (duo que perdeu até o anonimato da sua inventada biografia romântica de dois jovens japoneses em Nova Iorque, quando surgiu nos créditos de Tough Love), Miguel ou Ed Sheeran são apenas alguns dos nomes mais sonantes numa lista de luxo dos produtores que tiveram mão pesada no sucesso de Jessie Ware.

Aos seus 33 anos parece-nos que a carreira de Jessie Ware ainda mal começou. Poderá nunca ser aquela estrela fulgurante da pop, carregada de brilhos desnecessários, e nem o precisa ser. A sua voz e autenticidade distinguem-se dentro do marasmo musical que tantas vezes é capaz de engolir até os cantores mais talentosos. E sabemos que, enquanto o mundo precisar de canções de amor, contaremos sempre com a londrina.

 


pub

Últimos da categoria: Ensaios

RBTV

Últimos artigos