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Publicado a: 06/03/2018

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jericho review

[TEXTO] Moisés Regalado

“Goin’ Out tipo Elzhi”. Talvez a referência de Regula, que serve de ponto final à posse cutSixteen“, de 2005, tenha alertado os menos experientes ou atentos da cena portuguesa da altura para o nome de um MC que, apesar dos dois EPs e da mixtape já editados, brilhava sobretudo como parte de Slum Village, grupo em que não se cruzou com o fundador J Dilla. E foi precisamente depois de deixar o colectivo, na sequência de Villa Manifesto (2010), que rapidamente se estabeleceu como um dos mais talentosos liricistas em actividade.

Elmatic, álbum de 2011 em que presta tributo à estreia de Nas, ofereceu o melhor de Elzhi a todo o movimento, chegando às múltiplas fronteiras do género para rapidamente as ultrapassar. Fashawn tinha feito o mesmo alguns meses antes (com a mixtape Ode To Illmatic), mas a aclamação do público e as críticas positivas não o catapultaram para as bocas do mundo, como surpreendentemente aconteceu com o seu camarada de Detroit. No entanto, é fácil perceber o sucesso de Elzhi, que conseguiu elevar os conceitos de remake e mixtape a patamares nunca pisados.

 



Nada importa tanto como a sua capacidade ímpar para escrever e concretizar — capítulo em que se mostra fluído como poucos outros. Agora ao lado de Khrysis, carrega novamente a tocha do flow, sem que tenha que o forçar, e da escrita consciente (“Cuffin’ Season”, “Seventeen”) ou activista — “Those who came to see a train wreck, need to get their brain checked, (…) I would entertain if it were a thing”. Faixas como “F.R.I.E.N.D.S.” e “Overthinking” completam o ambiente, acrescentando o tom introspectivo que sempre caracterizou Elzhi.

A tranquilidade com que debita cada rima, apesar dos poucos espaços que deixa para respirar, confirmam-no como digno representante daquilo que é o rap. Se dúvidas houver, só alguém preocupado com o estado da arte diz coisas como “Because every bar is epic (…) it can bring an insomniac out a narcoleptic” ou “Come up with some new rhyme schemes and patterns”, desejo expresso em “To Do List”. Por incrível que pareça, Khrysis, mais-valia em qualquer relação MC/produtor, acabou por limitar o potencial do projecto. Se é verdade que o beatmaker parece incapaz de produzir maus beats, é igualmente notório que a inspiração por si dedicada a Jericho Jackson não deixou ambicionar voos mais altos.

De qualquer forma, longa vida a Khrysis, a Elzhi e à Jamla de 9th Wonder, editora que está totalmente empenhada na edição de bom rap com “alma”. Depois de reunir Khrysis, Nottz ou Hi-Tek na mesma equipa, ao mesmo tempo em que ajuda Rapsody a conquistar o globo, há que louvar uma vez mais o trabalho desenvolvido pelo selo do mítico “maestro” de Little Brother. Enquanto assim for, e enquanto houver rappers com a destreza e mestria de Elzhi, não há motivos para duvidar da saúde desta vertente da cultura.

 


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