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Publicado a: 25/09/2017

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[TEXTO] Moisés Regalado

Não há como apresentar J.I.D sem que antes se destaque a política de contratações da Dreamville Records, fundada por J. Cole. Visto que, até à data, o catálogo mais relevante da editora espelhava a clássica divisão geográfica da cena americana, representada por Bas (Nova Iorque) e Cozz (Los Angeles), pode dizer-se que faltava levar a bandeira ao sítio do momento – Atlanta, claro está.

Não fosse esta editora propriedade do rapper e produtor em questão e talvez não houvesse mais a dizer. Na verdade, torna-se fácil dizê-lo depois dos também ATLiens (não esquecer a referência) Earthgang se terem juntado à família Dreamville. Mas não há como negar que, depois de um 2016 sem reforços, os objectivos para a nova época não passariam apenas pela manutenção do estado das coisas.

 



Resumindo: estes jovens estão nos antípodas dos Audio Push, duo californiano que, depois de se ter dado a conhecer à boleia do beatmaker Hit-Boy, recorreu a sonoridades mais convencionais e tradicionais para se estrear em disco. Sem particular sucesso, sendo esse o ponto de partida para a comparação. Porque The Never Story, que sucede ao primeiro EP de J.I.D, Dicaprio, já é um dos álbuns mais interessantes do ano.

A entrega do rapper, um dos seus pontos fortes, evoluiu e está agora ao serviço de mais e melhores temas – ainda que não esteja completamente maturada, o que se compreende tendo em conta que só agora saiu do dito movimento e entrou no mercado. A estética, que parece ser o ponto central desta análise, caminha mais pelo imaginário dos Outkast, caras do panorama sulista durante anos, e não tanto pelo do trap, que “entretanto” teve rumo oposto e passou de nicho a tendência.

 



Mas, ainda que os instrumentais tenham contribuído para um projecto coeso e suficientemente heterogéneo, é inevitável sentir que uma produção de nível superior faria deste um disco especial (que, talvez assim, dificilmente seria julgado pelo tempo como underrated), contribuindo até para que as prestações de J.I.D tivessem o devido relevo. Apesar da boa proposta que é The Never Story e do que ela representa no contexto desta nova vaga da Dreamville, é importante reter que a forma, por si só, e ainda que responda a todos os princípios, não é garantia de êxito artístico ou comercial. E só tendo isso em conta será possível ver explorado todo o potencial de J.I.D. Ele que, afinal, é o protagonista da história.

 


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