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Publicado a: 08/09/2016

Global Village Live: De um contentor em streaming para o mundo

Publicado a: 08/09/2016

[TEXTO E FOTOS] Bruno Martins

O Rimas e Batidas foi até ao Village Underground Lisboa para conhecer a nova casa da editora Enchufada. É um lar provisório, é certo – um contentor instalado no auto designado espaço de escritórios para a indústria criativa – mas que vai ser mais do que um sítio “para enviar e-mails”. Aliás: nem estaríamos a falar da Enchufada se não houvesse festa rija nesta estadia de, pelo menos, dois meses, que tem hoje à noite o arranque oficial, e que no dia 18 de Setembro conhece o seu ponto alto: aquelas festas de domingo à tarde que todos gostamos, com música, cerveja e churrasco e que serve também para apresentar Furnas, o novo trabalho de Rastronaut. E a entrada é livre (check-in aqui), por isso o mais provável é que já vos tenhamos prendido a atenção para o resto da entrevista com Branko e Rastronaut.

São estes dois produtores que dão o “pontapé-de-saída” do Global Village Live, evento de streams em directo que podem ser acompanhados todas as quintas-feiras, a partir das 19h30, a partir do novo contentor da Enchufada no Village Underground Lisboa. Branko promete convidados todas a semanas, sem uma agenda muito fechada, mas é claro que por ali poderemos encontrar nomes que fazem parte deste universo da música electrónica global. Comecemos, então, com Branko e Rastronaut que trocam hoje, a partir das 19h30, o envio de e-mails e venda de material na pop-up store da editora que também se encontra neste contentor: os dois produtores vão estar no formato back to back em frente à câmara. Não está previsto que haja festa fora do contentor mas a cafetaria do Village Underground Lisboa não se importará que haja quem queira ir beber uma cerveja na esplanada, ali mesmo ao lado do local onde acontecerá o “live streaming” – façam o favor de entrar.

Vamos começar por perceber o que é que vai acontecer hoje a partir das 19h30 na página de Facebook da Enchufada. Como é que nasce a ideia dos streams Global Village Live?

[Branko] É uma ideia que se foi construindo com a Mariana Duarte Silva, daqui do Village Underground. Ela tinha vontade que nós fizéssemos algumas coisas por aqui e nós também as queríamos fazer, por ser um espaço agradável. Já tínhamos feito o Global Village no Verão em que o Village Underground abriu – em que ocupávamos as sextas-feiras à tarde com DJs. Depois fizemos mais um par de eventos e um outro já este ano. Por isso, um bocado pela circunstância de estarmos em obras nos nossos escritórios, lembramo-nos de vir para aqui. Ao mesmo tempo, percebemos que não podíamos ficar só sossegadinhos no nosso contentor a mandar e-mails.

Isso não faz parte do vosso ADN.

[Branko] Não conseguimos. Começámos logo a ficar nervosos e a pensar no que haveríamos de fazer a seguir. Queremos fazer mais coisas e não só um ou outro evento. Vamos assumir que estamos a celebrar dez anos de existência de Enchufada e vamos dar continuidade a essas celebrações: já fomos aos Bons Sons e a Paredes de Coura sempre com esta chancela dos dez anos de Enchufada – o pós-Verão das comemorações começa agora e terá o auge no dia 18 de Setembro, domingo, em que haverá a festa de lançamento do EP do João – Rastronaut – em que vamos ter um porco, barbecue e vamos andar todos por aqui. É grátis. E é mais uma reunião com aquelas pessoas que nos seguem.

Mas antes disso – e já hoje – vamos ter a primeira experiência de live streaming, em directo do contentor.

[Branko] Os streams vão acontecer na página de Facebook da Enchufada aqui no nosso contentor. A ideia não é as pessoas estarem aqui, mas se estiverem ninguém as vai mandar embora! Têm aí um bar, uma cafetaria que vende umas bebidas e nós estaremos a tocar, com alguns convidados. Isto repete-se todas as quintas-feiras, até Outubro, entre as 19h e as 21h30.

Então quem quiser aparecer para vos ver ao vivo em vez de ser pelos ecrãs dos computadores, tablets ou telemóveis também pode?

[Branko] Pode acontecer… (risos) Se o pessoal aparecer há aí umas imperiais. Mas a música não deve estar cá para fora – não temos nenhum PA a funcionar.

Apesar de ser a partir de um contentor instalado junto ao rio Tejo, em Lisboa, os live streams acabam por ser eventos globais. É natural que sejam vocês os dois a arrancar com a iniciativa, também por passarem mais tempo juntos no escritório?

[Rastronaut] Sim! É uma pausa nos emails para tocar discos! Por ser a primeira sessão fazia sentido ser o reflexo do que acontece nas Hard Ass Sessions, onde somos residentes e acabamos sempre lá para as cinco e tal, seis da manhã, a tocar em “back to back”.

Neste caso, começa bem mais cedo! Uma festa para acompanhar o jantar lá em casa?

[Branko] (Risos) Aqui sim! Na Europa Central é um evento pós-jantar. E nos EUA dá para o pós-almoço ou aquele lanchinho. Nós pensámos em algo para as pessoas ligarem-se ao Facebook e deixarem-se estar entretidas em casa – ou nos EUA no trabalho.

O conceito e a visão de globalidade continua a estar bastante presente naquilo que a Enchufada faz.

[Branko] Acabámos de fazer o “Globaile”, de facto. E o que quisemos foi tornar Lisboa no centro do mundo desta nossa cena de música electrónica global. Há várias cidades no mapa pelas mais variadíssimas razões: Berlim pela cena techno, Londres pelo drum ‘n’ bass, dubstep ou o que quer que seja. E Lisboa tem este carácter de ser uma casa perfeita par esta música electrónica global que pode concentrar todas estas cenas que vêm do Brasil, África, América Latina… de ser o ponto de entrada de toda esta informação na Europa. E esses são os artistas que teremos aqui nas próximas semanas nos streams. Não vamos anunciar nomes, porque não queremos que o evento dependa de quem cá vem tocar, mas antes de haver o hábito de ligar a esta rede de artistas que vai estar sempre música dentro desta baliza de que falamos.

 


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“Estaremos a funcionar como escritório e a trabalhar em lançamentos. Temos um EP do King Kong – uma eterna promessa da nossa cena musical – e vêm aí coisas para pôr o pessoal a ranger os dentes. E temos uma surpresa mais para o final do ano: a a edição do concerto de Buraka Som Sistema no Globaile” – Branko


Mesmo sem termos nomes em cartaz, conseguimos ter uma ideia de quem pode passar por cá às quintas-feiras, para os streams, e também para a festa de dia 18. A “família” Enchufada estará cá de certeza – mas quem mais?

[Branko] Ainda não está toda a gente definida. Temos, claro, o Dotorado, teremos o Breyth – é curioso que vamos conhecê-lo nessa altura, ele é angolano e está a passar por cá. Podemos ter convidados surpresa que estejam a tocar na cidade e que possam vir cá parar. Nem queremos estar a planear a longo prazo, porque no fundo isto é um stream de uma hora e meia por semana, durante oito semanas.

Este ano, e na comemoração do 10º aniversário, temos o EP do Rastronaut – dia 16 de Setembro. Já tiveram o EP do Dotorado no início de Agosto. O que haverá mais? Aqui o contentor no Village Underground também vai funcionar como estúdio de criação?

[Branko] Isso não, porque não dá. Mas estaremos a funcionar como escritório e a trabalhar em lançamentos. Temos um EP do King Kong – uma eterna promessa da nossa cena musical – e vêm aí coisas para pôr o pessoal a ranger os dentes. E temos uma surpresa mais para o final do ano: a preparar a edição do concerto de Buraka Som Sistema no Globaile. Foi uma banda que viveu muito do trabalho ao vivo e a forma de fechar estes dez anos de Buraka e dez anos de Enchufada vai ser agarrar nesse formato ao vivo e passar para disco. Nunca levei muito a sério os discos “ao vivo” – como consumidor e editor nunca tive interesse. Mas se aparece num serviço que eu subscrevo, como o Spotify ou Apple Music, já faz mais sentido.

Também vamos ver edição DVD?

[Branko] Nada! Detesto DVD ao vivo. E não queremos que a coisa vai por aí… é uma coisa muito “Netinho”. Mas tem coisas bonitas – por exemplo, aconteceu uma coisa engraçada com o “Kalemba”, que muitos DJ preferiam fazer rip do YouTube, meio fanhoso, em vez de usar a versão original, porque havia uma cena clássica com o Andro a gritar, no início, “eu quero ouvir barulhooo!”, e ouvia-se essa versão em discotecas.

A tua vida acalmou depois do fim do último concerto dos Buraka Som Sistema?

[Branko] Sinto uma possibilidade de encaixe de outros projectos, de outras coisas. Mais tempo para focar mais na editora e naquilo que queremos fazer, estar mais envolvido em tudo incluindo produção. Mas ainda não senti as coisas a abrandar, porque o Globaile foi a 1 de Julho e este foi o primeiro Verão em que estive a tocar o Atlas. Foram 16 festivais que acabaram neste fim-de-semana. Só agora é que começa a acalmar.

E o que é que te dá para fazer? Descansar? Já tens pastas no computador a encher?

[Branko] Tenho uma série de coisas… Estamos a começar a desenvolver um programa de televisão na RTP que à partida vai ser apresentado no início de 2017. Já temos o OK para começar a pegar na câmara, mas hão-de surgir mais informações sobre isso.

Quem estiver a ver o streaming, há-de, com certeza, reparar no trabalho de decoração do vosso contentor. Foi pintado pela artista Kruella D’Enfer, certo? O que lhe pediram?

[Rastronaut] Nós tínhamos uma ideia! Nós conhecemo-la e gostamos muito do trabalho dela. Tínhamos uma ideia mais ou menos abstracta que ela não gostou muito! “Mas se é isso que querem, se calhar não sou a pessoa mais indicada”, respondeu-nos (risos).

[Branko] A nossa ideia era fazer vários “E” na parede… Falámos das nossas cores, o preto e o vermelho…

[Rastronaut] Mas não era o gosto dela. Nem as paletas de cores nem o estilo dela. É a mesma coisa que alguém nos pedir para fazer uma música, mas com ferrinhos e folk tailandês!

 



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