[TEXTO E FOTOS] Bruno Martins
O Rimas e Batidas foi até ao Village Underground Lisboa para conhecer a nova casa da editora Enchufada. É um lar provisório, é certo – um contentor instalado no auto designado espaço de escritórios para a indústria criativa – mas que vai ser mais do que um sítio “para enviar e-mails”. Aliás: nem estaríamos a falar da Enchufada se não houvesse festa rija nesta estadia de, pelo menos, dois meses, que tem hoje à noite o arranque oficial, e que no dia 18 de Setembro conhece o seu ponto alto: aquelas festas de domingo à tarde que todos gostamos, com música, cerveja e churrasco e que serve também para apresentar Furnas, o novo trabalho de Rastronaut. E a entrada é livre (check-in aqui), por isso o mais provável é que já vos tenhamos prendido a atenção para o resto da entrevista com Branko e Rastronaut.
São estes dois produtores que dão o “pontapé-de-saída” do Global Village Live, evento de streams em directo que podem ser acompanhados todas as quintas-feiras, a partir das 19h30, a partir do novo contentor da Enchufada no Village Underground Lisboa. Branko promete convidados todas a semanas, sem uma agenda muito fechada, mas é claro que por ali poderemos encontrar nomes que fazem parte deste universo da música electrónica global. Comecemos, então, com Branko e Rastronaut que trocam hoje, a partir das 19h30, o envio de e-mails e venda de material na pop-up store da editora que também se encontra neste contentor: os dois produtores vão estar no formato back to back em frente à câmara. Não está previsto que haja festa fora do contentor mas a cafetaria do Village Underground Lisboa não se importará que haja quem queira ir beber uma cerveja na esplanada, ali mesmo ao lado do local onde acontecerá o “live streaming” – façam o favor de entrar.
Vamos começar por perceber o que é que vai acontecer hoje a partir das 19h30 na página de Facebook da Enchufada. Como é que nasce a ideia dos streams Global Village Live?
[Branko] É uma ideia que se foi construindo com a Mariana Duarte Silva, daqui do Village Underground. Ela tinha vontade que nós fizéssemos algumas coisas por aqui e nós também as queríamos fazer, por ser um espaço agradável. Já tínhamos feito o Global Village no Verão em que o Village Underground abriu – em que ocupávamos as sextas-feiras à tarde com DJs. Depois fizemos mais um par de eventos e um outro já este ano. Por isso, um bocado pela circunstância de estarmos em obras nos nossos escritórios, lembramo-nos de vir para aqui. Ao mesmo tempo, percebemos que não podíamos ficar só sossegadinhos no nosso contentor a mandar e-mails.
Isso não faz parte do vosso ADN.
[Branko] Não conseguimos. Começámos logo a ficar nervosos e a pensar no que haveríamos de fazer a seguir. Queremos fazer mais coisas e não só um ou outro evento. Vamos assumir que estamos a celebrar dez anos de existência de Enchufada e vamos dar continuidade a essas celebrações: já fomos aos Bons Sons e a Paredes de Coura sempre com esta chancela dos dez anos de Enchufada – o pós-Verão das comemorações começa agora e terá o auge no dia 18 de Setembro, domingo, em que haverá a festa de lançamento do EP do João – Rastronaut – em que vamos ter um porco, barbecue e vamos andar todos por aqui. É grátis. E é mais uma reunião com aquelas pessoas que nos seguem.
Mas antes disso – e já hoje – vamos ter a primeira experiência de live streaming, em directo do contentor.
[Branko] Os streams vão acontecer na página de Facebook da Enchufada aqui no nosso contentor. A ideia não é as pessoas estarem aqui, mas se estiverem ninguém as vai mandar embora! Têm aí um bar, uma cafetaria que vende umas bebidas e nós estaremos a tocar, com alguns convidados. Isto repete-se todas as quintas-feiras, até Outubro, entre as 19h e as 21h30.
Então quem quiser aparecer para vos ver ao vivo em vez de ser pelos ecrãs dos computadores, tablets ou telemóveis também pode?
[Branko] Pode acontecer… (risos) Se o pessoal aparecer há aí umas imperiais. Mas a música não deve estar cá para fora – não temos nenhum PA a funcionar.
Apesar de ser a partir de um contentor instalado junto ao rio Tejo, em Lisboa, os live streams acabam por ser eventos globais. É natural que sejam vocês os dois a arrancar com a iniciativa, também por passarem mais tempo juntos no escritório?
[Rastronaut] Sim! É uma pausa nos emails para tocar discos! Por ser a primeira sessão fazia sentido ser o reflexo do que acontece nas Hard Ass Sessions, onde somos residentes e acabamos sempre lá para as cinco e tal, seis da manhã, a tocar em “back to back”.
Neste caso, começa bem mais cedo! Uma festa para acompanhar o jantar lá em casa?
[Branko] (Risos) Aqui sim! Na Europa Central é um evento pós-jantar. E nos EUA dá para o pós-almoço ou aquele lanchinho. Nós pensámos em algo para as pessoas ligarem-se ao Facebook e deixarem-se estar entretidas em casa – ou nos EUA no trabalho.
O conceito e a visão de globalidade continua a estar bastante presente naquilo que a Enchufada faz.
[Branko] Acabámos de fazer o “Globaile”, de facto. E o que quisemos foi tornar Lisboa no centro do mundo desta nossa cena de música electrónica global. Há várias cidades no mapa pelas mais variadíssimas razões: Berlim pela cena techno, Londres pelo drum ‘n’ bass, dubstep ou o que quer que seja. E Lisboa tem este carácter de ser uma casa perfeita par esta música electrónica global que pode concentrar todas estas cenas que vêm do Brasil, África, América Latina… de ser o ponto de entrada de toda esta informação na Europa. E esses são os artistas que teremos aqui nas próximas semanas nos streams. Não vamos anunciar nomes, porque não queremos que o evento dependa de quem cá vem tocar, mas antes de haver o hábito de ligar a esta rede de artistas que vai estar sempre música dentro desta baliza de que falamos.
Mesmo sem termos nomes em cartaz, conseguimos ter uma ideia de quem pode passar por cá às quintas-feiras, para os streams, e também para a festa de dia 18. A “família” Enchufada estará cá de certeza – mas quem mais?
[Branko] Ainda não está toda a gente definida. Temos, claro, o Dotorado, teremos o Breyth – é curioso que vamos conhecê-lo nessa altura, ele é angolano e está a passar por cá. Podemos ter convidados surpresa que estejam a tocar na cidade e que possam vir cá parar. Nem queremos estar a planear a longo prazo, porque no fundo isto é um stream de uma hora e meia por semana, durante oito semanas.
Este ano, e na comemoração do 10º aniversário, temos o EP do Rastronaut – dia 16 de Setembro. Já tiveram o EP do Dotorado no início de Agosto. O que haverá mais? Aqui o contentor no Village Underground também vai funcionar como estúdio de criação?
[Branko] Isso não, porque não dá. Mas estaremos a funcionar como escritório e a trabalhar em lançamentos. Temos um EP do King Kong – uma eterna promessa da nossa cena musical – e vêm aí coisas para pôr o pessoal a ranger os dentes. E temos uma surpresa mais para o final do ano: a preparar a edição do concerto de Buraka Som Sistema no Globaile. Foi uma banda que viveu muito do trabalho ao vivo e a forma de fechar estes dez anos de Buraka e dez anos de Enchufada vai ser agarrar nesse formato ao vivo e passar para disco. Nunca levei muito a sério os discos “ao vivo” – como consumidor e editor nunca tive interesse. Mas se aparece num serviço que eu subscrevo, como o Spotify ou Apple Music, já faz mais sentido.
Também vamos ver edição DVD?
[Branko] Nada! Detesto DVD ao vivo. E não queremos que a coisa vai por aí… é uma coisa muito “Netinho”. Mas tem coisas bonitas – por exemplo, aconteceu uma coisa engraçada com o “Kalemba”, que muitos DJ preferiam fazer rip do YouTube, meio fanhoso, em vez de usar a versão original, porque havia uma cena clássica com o Andro a gritar, no início, “eu quero ouvir barulhooo!”, e ouvia-se essa versão em discotecas.
A tua vida acalmou depois do fim do último concerto dos Buraka Som Sistema?
[Branko] Sinto uma possibilidade de encaixe de outros projectos, de outras coisas. Mais tempo para focar mais na editora e naquilo que queremos fazer, estar mais envolvido em tudo incluindo produção. Mas ainda não senti as coisas a abrandar, porque o Globaile foi a 1 de Julho e este foi o primeiro Verão em que estive a tocar o Atlas. Foram 16 festivais que acabaram neste fim-de-semana. Só agora é que começa a acalmar.
E o que é que te dá para fazer? Descansar? Já tens pastas no computador a encher?
[Branko] Tenho uma série de coisas… Estamos a começar a desenvolver um programa de televisão na RTP que à partida vai ser apresentado no início de 2017. Já temos o OK para começar a pegar na câmara, mas hão-de surgir mais informações sobre isso.
Quem estiver a ver o streaming, há-de, com certeza, reparar no trabalho de decoração do vosso contentor. Foi pintado pela artista Kruella D’Enfer, certo? O que lhe pediram?
[Rastronaut] Nós tínhamos uma ideia! Nós conhecemo-la e gostamos muito do trabalho dela. Tínhamos uma ideia mais ou menos abstracta que ela não gostou muito! “Mas se é isso que querem, se calhar não sou a pessoa mais indicada”, respondeu-nos (risos).
[Branko] A nossa ideia era fazer vários “E” na parede… Falámos das nossas cores, o preto e o vermelho…
[Rastronaut] Mas não era o gosto dela. Nem as paletas de cores nem o estilo dela. É a mesma coisa que alguém nos pedir para fazer uma música, mas com ferrinhos e folk tailandês!