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Publicado a: 24/08/2016

George Clinton: A personificação do funk

Publicado a: 24/08/2016

[ENTREVISTA] Rui Miguel Abreu [FOTO] Direitos Reservados

 

Recuperamos aqui uma entrevista a George Clinton por Rui Miguel Abreu,  publicada originalmente pela revista Blitz, em 2011, a propósito das notícias sobre o lançamento do novo álbum do arquitecto do P-Funk pela Brainfeeder de Flying Lotus. 

 

George Clinton passou por Portugal para concertos na Casa da Música, no Porto, e no Festival MED, em Loulé. Com ele trouxe a mais recente encarnação dos Parliament-Funkadelic, eixo propulsor de muita da modernidade que ainda hoje alimenta a música negra. Desde o doo-wop dos anos 50, à definição dos novos rumos da soul com a Motown e James Brown até à explosão funk dos anos 70 e ao hip hop que o samplou abundantemente nos anos 90, George Clinton já viu muito. E muito tem para contar.

 


A paisagem musical deve ter mudado muito desde os anos 70… ou não, já que começou por dizer que tem estado o dia todo a beber…

Sim, a beber parece mais os anos 60 (risos). As coisas movem-se em círculos. Nunca tinha estado em Portugal e não sei como era aqui, mas o que conheço do mundo permite-me dizer que as coisas são diferentes por um lado, mas também continuam iguais por outro. Não estamos nos anos 60 psicadélicos, nem nos anos 80 ou 90… Isto parece-se mais com os anos 50… E ao vivo temos andado a tocar muitas coisas antigas e algumas que ainda nem gravámos.

Andou sempre à procura do que era novo…

Claro, sempre à procura do que me entusiasmava, mesmo que fosse apenas uma nova abordagem a algo que eu já conhecia, como aconteceu com o hip hop – era uma espécie de reedição dos anos 70 com o funk e dos anos 50 com o doo wop. Só que em vez de «oh darling i love you», como nos anos 50, é «biatch!» (risos). Seja como for, continuas a falar com a tua rapariga e continuas a entreter.

Partindo dessa fundação dos anos 50, foi então acrescentando camadas?

Exacto. Depois veio a Motown e nós tocávamos Motown, mas com o volume no máximo. A Motown foi a primeira companhia a usar o baixo eléctrico…

O grande James Jamerson!

Sim, James Jamerson. Foi ele que deu o nome aos Funk Brothers que acabaram por evoluir para os Funkadelic. Em 61, 62 nós passámos pela Motown. Depois nos anos 70 apareceu o Bootsy Collins e passámos a ser a banda de James Brown, juntamente com o Maceo Parker, Fred Wesley… Depois veio o hip hop, que nos samplou. Por isso eu digo que o hip hop é como os anos 50 e 70 misturados. E agora já estamos em 2011… Incrível, 2011?

Ter os Parliament e os Funkadelic foi uma maneira de funcionar como a Motown, uma espécie de fábrica de música?

Foi exactamente isso. Tínhamos os Parliament e os Funkadelic e depois as cantoras tinham outro projecto. Era tudo uma maneira de lidar com as editoras. O Bootsy também fez umas coisas a solo, as Brides of Funkenstein. Depois o Bootsy trouxe com ele alguns dos músicos do James Brown, o Maceo Parker, o Fred Wesley e o Pee Wee Ellis. Ao todo éramos uns 75 músicos. Uma grande família, que se manteve junta entre 75 e 83. E eu produzia toda a gente. Tínhamos as nossas disputas, como acontece sempre nas famílias, mas mantivemo-nos juntos a fazer uma música que a indústria ia tentando mudar com rótulos novos: urban, R&B… para nós foi sempre funk.

Isso é curioso, a história dos rótulos, porque o James Brown no início da carreira referia-se à sua música como rock and roll.

Éramos todos rock and roll, tudo era rock and roll. Mas quando começaram a impedir os negros de tocar nas rádios rock, mesmo tendo em conta gente como Chuck Berry ou Little Richard ou Muddy Waters, as coisas mudaram. Depois vieram os anos 60 e o rock transformou-se em heavy metal e tudo se separou. Até o rock e a pop ficaram separados na rádio.

Mas a dada altura bandas como os Red Hot Chili Peppers ou os Primal Scream foram bater-lhe à porta. Era o rock a regressar à fonte?

Sim, eles andavam à procura de uma versão funk do rock. O Anthony [Kiedis] e o Flea são parte da família, como o Bootsy. O Flea tinha um grande conhecimento do jazz e do funk. E quando ele veio ter connosco ele disse que queria que os Chili Peppers fossem a primeira banda de funk branco a sério. Eu sempre pensei que uma banda assim viesse da Europa, por causa dos Beatles, dos Stones.  Mas o Flea sabia o que queria, procurou a minha casa no campo, ficou lá um mês, a fazer jams. E eles tornaram-se em algo muito grande. Mas não se esqueceram. Quando ganharam o primeiro Grammy chamaram-nos para irmos tocar com eles o «Give It Away».

Acha que a música representou um papel na eleição de Barack Obama?

Bem, nós sempre dissemos «One nation under a Groove», referíamo-nos a Washington como a «Chocolate City», cantávamos «paint the White House Black». Sabíamos que esse dia haveria de chegar. Demorou um pouco. Mas hoje ele faz discursos e refere sempre «somos uma nação». Eu costumava vê-lo no Soul Train. E podem ir verificar ao YouTube. Ele é de Chicago, como a Oprah que o ajudou muito. Ele é um tipo cool e era necessário alguém como ele para aquele cargo.

 


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