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Publicado a: 06/04/2017

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[TEXTO] Amorim Abiassi Ferreira

HNDRXX saiu apenas uma semana após o álbum homónimo. Uma surpresa que, tenho de admitir, foi bem-vinda. Ao ouvir Future, senti-me aborrecido pela quantidade de repetição que todo o projecto trouxe e, mesmo voltando ao disco umas quantas vezes, a minha opinião pouco mudou. De todos os artistas que lançam em grande quantidade, o rapper de Atlanta é talvez um dos mais culpáveis pela diluição de qualidade em prol da quantidade.

A segunda parte da surpresa em relação a HNDRXX, deve-se ao facto que o lado dedicado às baladas, que andava eclipsado desde Honest, voltou a ter espaço para existir. E aqui sim, arrisca-se, avança-se e temos muita coisa que dá vontade voltar a ouvir. Quero eu dizer com isto que o Future que faz bangers é inferior ao que faz canções sentimentais? De todo. Mas há um lado dele que claramente está a borbulhar com ideias, enquanto o outro está apenas a replicar uma fórmula com mudanças mínimas. E entendo a hesitação em arriscar mais: os dois discos lançados no espaço de uma semana foram direitos para o topo do Billboard 200, um feito nunca antes atingindo por um artista. Ou seja, embora o trabalho homónimo seja essencialmente uma repetição de tudo o que ele já explorou criativamente, a sua força comercial continua a garantir que consegue mover unidades — quer arrisque, quer não.

 



Esco e Future encarregam-se da produção executiva e a curadoria das produções é impecável. Os samples vocais nos beats são recorrentes ao longo de todo álbum e há sempre um tom etéreo nos instrumentais. O início do disco, “My Collection”, é forte, ouvindo-se uma corrente constantemente a ser captada pelo microfone enquanto Future fala amargamente sobre Ciara. Há ousadia vocal em “Use Me”, ligeireza em “Fresh Air” e nostalgia no sampling de “SpottieOttieDopaliscious” dos Outkast em “Turn On Me” — tudo músicas que não terão problema em chegar à rádio. E se o disco perde um pouco o fôlego antes de “Turn On Me”, as últimas três músicas fecham-no de forma impecável, da colaboração com Rihanna, “Selfish”, até ao épico de sete minutos que é “Sorry”.

Desde Monster, Future Hendrix tem-se exposto como o expoente máximo do hedonismo. A personagem apresentada nas suas músicas tem sido tão tridimensional que se sente de imediato a diferença num projecto em que volta a dar mais de si. No entanto, é importante não confundir o que estamos a ouvir: entre estas baladas todas, não há um momento em que o cantor se entregue a algo que não seja temporário, até porque o passado continua a atormentá-lo e é por isso que em “Sorry” ele enderece mais uma vez a sua relação com Ciara, dedicando dois versos a falar de más decisões e arrependimentos antes de reincidir no bravado e distanciamento.

 


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