pub

Publicado a: 20/10/2016

Frank Ocean: Menos é mais

Publicado a: 20/10/2016

[TEXTO] Rui Miguel Abreu [FOTO] Direitos Reservados

 

Tudo começou em silêncio, ou quase: a espera – longa – pelo sucessor de channel Orange começou a chegar ao fim quando surgiu um misterioso vídeo na Internet que tinha contornos de oblíqua instalação artística: o interior de um armazém, visto pelo que parecia ser a câmara de vigilância, sem nenhum dado acrescido, a alimentar a esperança de que algo fosse acontecer.

Depois surgiu Endless, um vídeo-álbum, de uma única faixa, mas feito de várias canções, em que se via Frank Ocean a construir uma escada em espiral, metáfora para noções contraditórias: por um lado a ascensão, por outro a ideia de que não se sai de lado nenhum, que se segue sempre em volta de um eixo. Subir no mesmo lugar. A julgar pelo que aconteceu depois, essa era uma opção que não interessava a Frank.

Depois a surpresa: o disco que todos já pensávamos que se iria chamar Boys Don’t Cry recebeu afinal de contas o título Blond (ou Blonde…), esse sim a verdadeira consequência do trabalho que continha “Pyramids”. Endless foi, afinal de contas, a chave com que Frank se libertou do cadeado contratual que o ligava à Def Jam. E Blond o seu primeiro gesto de liberdade. Afinal ele queria mesmo sair do lugar. Não necessariamente para cima, mas para o lado. Para outro lado.

Lançamento físico só em quatro pop up shops, com uma luxuosa revista de título Boys Don’t Cry, com ar de catálogo de exposição de arte moderna, com listas, fotos, entrevistas e poemas (Kanye West a assinar odes à McDonalds…), a ser oferecida de borla a uns quantos sortudos (e outros tantos especuladores que não tardaram a valorizar o artefacto no eBay…).  E mais nada. Menos parece mesmo ser mais: Frank ainda não falou, ainda não se explicou, mas a música parece, de certa forma, conter todas as respostas.

Blond é um disco humano, feito de histórias, de emoções e sentimentos, de amor, de perda, de ausência, de crescimento. As canções – “Nikes”, “White Ferrari”, “Siegfried” – soam a exercícios transformativos, a desafios auto-impostos, de alguém que quer crescer artisticamente. Tudo no Frank Ocean 2.0 é subtil: é clara a recusa dele querer embarcar nas mais superficiais marcas de contemporaneidade em termos de produção, Frank parecer querer que as canções valham pelo que têm dentro, não pela forma como estão vestidas. O que não significa que Blond – e Endless já agora – não sejam propostas modernas. Mas num tempo de gestos maximais, de gigantismo, de egos descomunais, Frank Ocean parece ter compreendido uma lição importante: a de que menos pode ser mais.

 


pub

Últimos da categoria: Ensaios

RBTV

Últimos artigos