pub

Publicado a: 05/09/2015

Festival Rimas e Batidas: escuridão sensorial

Publicado a: 05/09/2015

[FOTOS] Ricardo Miguel Vieira

 

Está escuro. O breu abate-se entre o público na Sala 2 do S. Jorge e do palco apenas reluz uma ténue e baça luminosidade que vem dos aparatos em manipulação pelos artistas em mais um dia de Festival Rimas e Batidas. Hoje a noite é de electrónica, de graves que nos tremem os ossos, uns com acompanhados de pontadas mais ácidas, outros que nos transportam para ambientes futuristas.

Mas antes da música, o cinema. São 21 horas e na Sala 3 está em projecção Sonic Boom: Artist in Residence, curta realizada por Eduardo Morais (que a nós se juntou nesta estreia) aquando da residência artística de um mestre na leitura e manuseamento de moduladores e dos seus disparos sinusoidais: Pete Kember. O homem que integrou os Spacemen 3, antes de embarcar na aventura a solo enquanto Sonic Boom, passou por Braga em Janeiro e Morais registou os processos de desenho sónico do produtor inglês, em estúdio e no palco, transpondo-os para a tela numa película de 16 minutos que é também um luminoso e fosforescente cruzamento experimental de imagens.

Minutos após a projecção, Shcuro sobe ao palco, as luzes descem por completo e ficamos imersos na escuridão. É por isso mesmo que esta história não é ilustrada a fotografia, não só porque não capta a essência da experiência, mas também porque as lentes não encontram um ponto de foco. O objectivo é fechar os olhos e deambular pelo vazio ao som da atracção rave e techno. “Em estúdio, fui buscar alguns elementos de músicas que já tinha e criei outros elementos live para haver espaço para a improvisação ao vivo para que não se torna repetitivo”, conta depois do set.


[fbvideo link=”https://www.facebook.com/video.php?v=890204211071182&set=vb.782368678521403&type=2&theater” width=”500″ height=”400″ onlyvideo=”1″]


 

Lake Haze, o número dois no alinhamento, seguiu o mesmo pendor rave de aprofundamentos sombrios e graves poderosos. A experiência em sala é semelhante: um amplificado sensorialismo num ambiente semelhante ao de um laboratório. É um ensaio para o público, que tanto se pode entregar à fisicalidade dos ritmos como absorver cada camada de manipulação electrónica. Lake Haze e Shcuro permitem reflectir sobre o passado e presente da cena EDM nacional, que agora vai renovando abordagens e emergindo com novas propostas. “A música electrónica portuguesa tem ganho grande credibilidade, que também já vem de trás, do pessoal mais velho”, diz Lake Haze. “Mas agora com a internet tem-se divulgado mais e tem recebido mais apoio, tanto cá dentro como no estrangeiro, e um festival de música electrónica que apresenta artistas que ainda se encontram numa fase embrionária das suas carreiras é fundamental.”


[fbvideo link=”https://www.facebook.com/video.php?v=890219584402978&set=vb.782368678521403&type=2&theater” width=”500″ height=”400″ onlyvideo=”1″]


 

No backstage, entre conversas com Shcuro e Lake Haze, já ecoam as primeiras pistas de Old Manual. O produtor residente em Londres apresenta uma estética equidistante dos predecessores em palco: uma organicalidade ambiental com desconcertantes expertimentalistas electrónicos, transportando a plateia para uma outra experiência auditiva. “Foi um ambiente diferente do que estou habituado”, afirma. “Normalmente dou concertos menos DJ set, pelo que tenho mais interesse nisto e aqui o ambiente foi o ideal, desde a iluminação, ao espaço, ao som. Sinto que faz mais sentido, chego ali e é aquilo que quero estar a fazer. Peguei um bocado nas várias coisas que tenho criado e desenhei uma teia de ambientes.”


[fbvideo link=”https://www.facebook.com/video.php?v=890299407728329&set=vb.782368678521403&type=2&theater” width=”500″ height=”400″ onlyvideo=”1″]


 

VULTO. e L-ALI em palco na última performance da noite, aquela que abriu espaço à palavra. Às rimas. Escondido por trás de uma máscara luciférica, como já é habitual, L-ALI debitou barras despudoradas, humor refinado, que reflectem uma inata capacidade para entrelaçar mensagens e expressões num intrincado jogo de português. “Foi completamente estonteante, ao rubro”, graceja. “Pessoal a fazer crowdsurfingbué de cenas.” “Ups”, interrompe Mike El Nite, algures na conversa, “fui eu que filmei com uma selfie stick.

 

l_ali_rmvieira

 

Mike El Nite é um dos nomes em agenda para o dia do encerramento do 1º Festival Rimas e Batidas. L-ALI vai juntar-se a ele numa noite em que o S. Jorge será o banghello do hip hop tuga. Acabaram as cervejas. O pessoal desmobilizou. O refill acontece dentro de momentos, na Sala 2 do emblemático espaço cultural de Lisboa.

pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos