pub
[FOTO] Yo Cliché
“Carapaus” é o single de estreia do EP Cruz Credo de Kristóman — o próximo trabalho do rapper algarvio, mais dedicado às sonoridades trap, que deverá chegar em Fevereiro. Lançado na semana passada, a 11 de Janeiro, o tema começou por ser bem recebido e as habituais punchlines de Kristo por cima de um beat diferente não estranharam os fãs do MC dos Tribruto.
Até começar o bizarro fenómeno de dislikes no YouTube no vídeo realizado por Yo Cliché, dos MGDRV. Não falamos dos habituais dislikes de fãs descontentes ou de curiosos que não gostaram da faixa, mas sim de centenas deles — neste momento, 512 — todos feitos num (muito) curto espaço de tempo, sem aumentar as visualizações de forma proporcional.
Foi o próprio Kristóman que, quando contactado por um amigo, mostrou o que estava a acontecer com um vídeo em directo da sua página de Facebook.
Dois dias depois de ser lançado, a 13 de Janeiro, o single tinha 10 409 visualizações e 14 dislikes — os tais que são normais em qualquer vídeo.
Quando chegou às 11 217 visualizações, já tinha 392 dislikes — embora fosse um aumento de menos de mil visualizações.
“Fazendo uma pesquisa rápida no Google, encontramos uma espécie de ‘mercado negro’ de venda de dislikes. Será interessante a Kimahera recorrer às estatísticas do vídeo em questão e perceber de onde vêm esses dislikes, pois a norma é serem provenientes de países mais ‘exóticos’ em que pessoas reais estão preparadas para dar ao botão”, explica ao Rimas e Batidas o social media manager Pedro Arnaut.
Foi exactamente isso que fez o rapper da Kimahera, que publicou esta segunda-feira, 16 de Janeiro, as estatísticas actualizadas do YouTube. Além de terem sido praticamente feitos ao mesmo tempo, 412 dos dislikes eram provenientes de contas de YouTube na Rússia e 36 da Ucrânia. Apenas 21 tinham origem em Portugal.
“Também nas estatísticas é fácil de perceber se a curva das visualizações e a dos dislikes são proporcionais. O mais certo é que não seja, o que levará à conclusão de que alguém comprou dislikes nesse tal ‘mercado negro’. É possível comprar 500 dislikes (parece-me ser o caso) por 25€”, esclarece Pedro Arnaut.
“Apesar de moralmente não me afectar nos meus objectivos, é triste isto acontecer quando és um artista que apenas está a querer fazer as coisas bem e com qualidade”, diz Kristóman ao Rimas e Batidas. “Não desconfio de quem quer que seja, nem quero procurar saber quem foi, mas penso que este fenómeno não vai ficar por aqui, e é necessário que sempre que aconteça que os artistas façam disto um gozo tão banal que as pessoas que o fazem sintam que não vale a pena continuar com estas cobardias.”
Os números nas plataformas digitais valem o que valem — já debatemos o assunto numa determinada perspectiva comparando os números do rap com a restante música portuguesa — mas a verdade é que são indicadores de sucesso e são usados por promotores de eventos e outros agentes do meio para tomarem ou não decisões que podem passar, por exemplo, pela contratação de um artista para um concerto.
Outro rapper com um caso semelhante, em 2015, foi o portuense Puro L, no single “O Último Mortal”. “Em segundos apareceram 100 e tal dislikes e parou ali porque entretanto também denunciei”, diz o rapper. “É bom sinal e só demonstra que há quem veja potencial no teu trabalho para crescer e o tente matar logo à nascença. É ingrato porque há quem julgue o impacto e qualidade da música pelos likes mas também não sei se me interessa agradar a esse tipo de pessoas. Não chegou a números tão elevados como no caso do Kristo.”
“Eu tou tranquilo/É bola p’ra frente/Ninguém tem o meu estilo, boy/E se tiver, mato sempre/Traz a tua crew de rappers levo-os todos à frente/E em bares sou um islâmico/É shots para toda a gente”
Entretanto, além de “Carapaus”, já se conhece os nomes das outras faixas do EP Cruz Credo de Kristóman, que sucede ao álbum Remédio Santo, editado o ano passado. “Cruz Credo”, “Pão Duro”, “Aquela Pressure” (com a participação de Real Punch, colega de rimas de Tributo), “Pregos” (com RafaStone) e “Pilha” são os outros temas do disco que chega em breve. Por enquanto só há “Carapaus” de corrida.
pub