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Publicado a: 10/12/2015

Elite Athlete: “Californian Rites é batucada com sintetizadores”

Publicado a: 10/12/2015

[ENTREVISTA] Luís Afonso [FOTO] Tiago Leça

 

Embora o nome pelo qual atenda não tenha um “significado pertinente”, Elite Athlete, alter-ego do português João de Almeida, chamou a atenção das pistas de dança além-fronteiras, assinando recentemente o seu primeiro EP, Californian Rites, pelo insuspeito selo australiano da Cult Trip. Oriundo de Coimbra, reside atualmente no Porto, após uma fase de emigração em Hamburgo, na Alemanha, para integrar os quadros numa empresa especializada em videojogos. E, paralela e naturalmente, abraçar a produção, num país que é combustível para quem tem a electrónica no corpo. A concepção do seu registo de estreia foi integralmente executada em Hamburgo. Entre o trabalho a fazer videojogos, ocasionais raves, e noites em estúdio com noodles e batidas – e o produtor não se queixa, pelo contrário.


Já produzias quando vivias em Portugal? Ou foi o enorme movimento de música electrónica na Alemanha que despertou a vontade de produzir (ou fazê-lo mais ‘a sério’)?

Já produzia em Portugal há alguns anos, mas nunca de uma forma especialmente consistente em termos de estilo. Isto levou-me, depois, a criar uma série de projectos paralelos, a bem da coerência. Uma das motivações que me fez mandar para Hamburgo foi, para além do emprego, o facto de ser uma cidade com que me identifico a nível musical, por ser a casa da Dial, DJ Koze, Smallville, Lawrence e por puder ir ao Golden Pudel quando me apetecesse. O que a Alemanha me deu, principalmente, foi um conjunto de pessoas à minha volta e uma rotina que favorecia a produção.

Porquê o nome Elite Athlete?

Estive a pensar nesta pergunta e como poderia tentar imprimir algum estilo a isto, mas não dá. O nome surgiu de um jogo que, em 2009, apareceu no Facebook. Funcionava assim: tinhas que ir à Wikipedia carregar em artigos random e escolher certas palavras em certos parágrafos, acho eu. Elite Athlete não tem nenhum significado pertinente, mas por sorte, rima.

O trabalho numa empresa que fabrica videojogos, imaginamo-lo à partida com contornos claustrofóbicos: horas a fio fechado em frente a um ecrã, envolvendo uma suposta realidade à parte, ou várias. Isso influenciou o trabalho?

Sinceramente não. Tive a sorte de trabalhar num sítio muito arejado, com luz, jardins e uma piscina e tudo. O que mais me influencia são as pessoas que me vão contaminando, com quem vou aprendendo e que me vão marcando de uma forma ou outra. Nesse aspecto, as vivências da casa partilhada com alemães que falavam a mesma linguagem musical que eu foi muito mais importante.

A música serviu como um escape/terapia a uma rotina?

Não tive grandes problemas com a rotina, não precisava de escapar dela. O facto de nessa altura não levar trabalho na cabeça para fora do escritório, permitia-me passar nos chineses antes de chegar a casa, pegar numa caixa de noodles e ficar o resto da noite no estúdio a produzir nas calmas. De vez em quando descia até à sala para recolher feedback dos alemães. Havia sempre lá muitos.

Para quem nunca te ouviu nem te conhece: como definirias o que apresentas no EP Californian Rites?

O Californian Rites é um affair de percussão tribal com ambientes a roçar o trance, em velocidades decentemente baixas. Interessava-me criar um ambiente místico, hipnótico e percussivo, mas sem ser demasiado denso. Enquanto que a faixa título leva o seu tempo a envolver quem está na pista, “Pagan Conjurer” entra logo à bruta e a pés juntos. Posso resumir o disco como: “batucada com sintetizadores”.

Como é que surgiu a oportunidade de trabalhar com a Cult Trip?

Fiquei a conhecer a Cult Trip com o lançamento do disco de Grey Sludge. A partir daí foi o processo normal, enviei-lhes uma demo e no dia a seguir estavam a dizer-me que estavam interessados em editar. Eles têm feito um trabalho muito interessante e recomendo que fiquem atentos ao próximo disco que é do Dan White (sob o disfarce de 2200) que foi um dos remisturadores do meu disco e que anteriormente lançou Forbidden Planet. A sério, oiçam esta maravilha.

És assíduo em raves? Em que medida isso influenciou o teu estilo de produção enquanto absorvedor de sonoridades e ambientes?

Sinceramente, não sou um ravalhão por aí além. Claro que há noites que marcam, como XDB no Passos Manuel, que foi muito bonito, mas o que mais molda o meu estilo de produção é a partilha contínua com gente que vai marcando o meu percurso, o consumo alarve de música de muitos espectros diferentes – duas coisas que têm tudo a ver com a Rádio Universidade de Coimbra e que não dá para separar daquilo que sou e do que faço – e experiências marcantes que me dão um boost criativo que tento aproveitar.

Porquê o Porto depois de Hamburgo? Sente-se muito nas pistas em terras do norte?
A voltar para Portugal, tinha decidido que seria para o Porto, que era uma cidade em que eu acreditava que me sentiria bem: não é cara (janta-se à vontade: prato+fino+café por 6€ ou menos), as pessoas são simpáticas e genuínas e há uma boa dinâmica nocturna, com bons espaços. Há muito boa gente a mexer-se bem no que há musica electrónica diz respeito. Não me enganei e fico contente por isso. Já vi gente a sentir e bem em pistas por aqui.



De que forma pretendes demarcar-te dentro da música de dança?

Não tenho nenhuma estratégia ou masterplan. Quero que as pessoas apreciem o que faço, tanto como produtor como DJ, e que se divirtam. Não me interessa assumir uma posição disruptiva, criar uma persona ou algo nesse género. Apetece-me só ser um gajo genuíno que faz música de que gosta e com a qual outras pessoas se identificam. Se isso for o suficiente para me demarcar, óptimo.

Por enquanto, o que pretendes alcançar com este trabalho?

Dava-me jeito aparecer no radar de gente que organiza festas e arranjar mais umas datas para fazer barulho por aí. Podem-me contactar através do meu endereço profissional, respondo sempre.

E no futuro?

Para já, há mais uma faixa minha numa compilação da Extended Records, lançada recentemente. Lá mais para o final do ano tenho a honra de dividir um 12” com o Rompante numa edição da Cubo Records – a nova editora do Plano B. Quero também ver se edito uma K7 com um projecto de synth-ambient-sci-fi cósmico. À parte disso, gostava de arranjar mais material de cozinha, porque estou a aprender finalmente a cozinhar umas coisas e gostava também de voltar a editar vídeos, que foi algo que nos últimos anos deixei um bocadinho de parte, mas que me dá um gozo do caraças. Ir à Islândia passear também era bem jogado. Continuo a alimentar o sonho de me chamarem para substituir o Hélder do Noites Longas (NL) uma noite destas e poder ter a honra de ser eu tocar a “Cuts You Up” do Peter Murphy às cinco da manhã.

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