Texto de

Publicado a: 03/11/2017

pub

earthgang-review-2

[TEXTO] Rui Correia

Desde 2011 até 2015, os EarthGang lançaram três álbuns, um EP e mais uma série de singles pela Spillage Village – editora/colectivo, que junta EarthGang, J.I.D (um dos rappers sensação de 2017), Hollywood JB e Jordxn Bryant – , mas foi este ano, fruto principalmente do seu crescente reconhecimento, que se juntaram oficialmente à editora de J. Cole, Dreamville Records (Interscope). Nesta nova era, o duo de Atlanta, formado por Doctur Dot e Johnny Venus, editou já dois EPs – Rags e mais recentemente Robots, tendo ainda um terceiro a caminho, intitulado Royalty – numa trilogia que precede o álbum Mirrorland. Num aparte, é curioso perceber o crescente aparecimento de uma conjuntura editorial que oferece maior liberdade criativa aos músicos, algo que é proporcional à crescente noção dos artistas face à sua importância no seio da indústria musical (só com sangue novo, uma velha máquina se regenera…).

O EP Robots poderia ter o título Ro(b)ots, um trocadilho que evoca as memórias das raízes americanas. É isso a que o grupo se propõe: procurar num poço, quase sem luz à vista, sentimentos pessoais profundos, que lhes permite observar, com maior distanciamento, o seu meio, a cultura afro-americana que se perde em regras frias de sobrevivência impostas pelo capital, incrivelmente disfarçadas há muito tempo de uma atitude hedonista. Em termos mais simples, EarthGang tentam agarrar-se à tradição da canção soul, nos seus próprios termos, “Mama asked me for a song, well I’ve been an artist my whole damn life”, tal e qual como remata Johnny Venus na última faixa do EP.

É perceptível numa análise global a este EP (e tendo presente também a audição ao EP Rags), a forte ligação existente entre os dois artistas, que se sabe, vem desde os tempos que eram colegas de escola. A dupla EarthGang tem nesse aspecto, um argumento audaz, sendo audível a diversão que sentem em desafiarem-se musicalmente. A amizade nutrida pelos dois, como as suas qualidades intrínsecas (acima da média) – em termos da robustez dos seus flows, groove e vibe, deliciosamente em correspondência com a temática explorada no EP e a cuidada selecção de beats a acompanhá-los – fazem brilhar neles uma confiança exuberante e uma criatividade camaleónica, a mesma que vestia a pele de uma outra dupla de Atlanta, os Outkast. É provável que surja um novo epicentro de rap em Atlanta de cariz mais racional e tradicional (no sentido de, meritoriamente, reconhecerem os seus antepassados musicais), localizado na música dos EarthGang. A prova derradeira surgirá no próximo álbum.

 


pub

Últimos da categoria: Críticas

RBTV

Últimos artigos