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Publicado a: 01/04/2016

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Review - Drake - Nothing was the same

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Direitos Reservados

2013, final de Verão. Esta foi a altura em que Aubrey Graham deu um dos passos mais importantes da sua carreira e, ao mesmo tempo, foi precisamente nessa altura que eu passei a gostar e a seguir o seu trabalho. Não foi por birra que não aconteceu antes. Simplesmente os registos anteriores não me chamavam à atenção. A certa altura lembro-me de ouvir o “Started From The Bottom” e também não me entrou à primeira, mas rapidamente o meu ouvido me convidou a carregar no replay diversas vezes para entender do que se tratava. Fosse o que fosse que estivesse para vir a seguir, iria ser grande e, muito provavelmente, já não me passaria ao lado. E, como indica o título do álbum, nada voltou a ser o mesmo.

Aquele sol de início do Outono combinava na perfeição com o álbum que Drake acabara de lançar. No PC, na rádio da faculdade, nas dezenas de quilómetros percorridas de carro diariamente. Este álbum foi uma das minhas grandes companhias até ao final desse ano. Curiosamente, eu, que nunca me tinha ligado à escrita sobre música até então, peguei logo em Nothing Was The Same para escrever sobre ele nas primeiras semanas de vida de um outro projecto que tinha na altura. Foi também um momento importante para mim, saber que a minha opinião poderia ir mais longe do que o meu quarto.

I could go a hour on this beat, nigga

E podias mesmo Drake. “Tuscan Leather” é o tema de abertura de onde salta esta frase logo após o primeiro minuto de som. Aquilo não soava a nada. No bom sentido, claro. Por mais que me tentasse esforçar não conseguia imaginar aquele beat em mais nenhum lado ou, até mesmo, com a voz de outro MC. Esse foi, também, um dos grandes trunfos de Drake. Não ir atrás do óbvio. Tanto que, hoje em dia, até já se ouve dizer frases do género “esse beat soa mesmo a Drake”. É um facto. O homem teve visão para a coisa e nunca deixou um instrumental maltratado. Flow e dicção sempre correctos, hooks de fazer inveja a outros rappers que precisam de convidar alguém de fora que os faça/cante por eles. Mas, voltando ao tema, são seis minutos e seis segundos o tempo de duração da introdução. Já aqui denunciava a importância do número 6 na sua vida, dado este ser um nickname da cidade onde nasceu, em Toronto. E esta poderia mesmo ser uma faixa para durar ainda mais tempo, dados os caminhos que Drake percorre nela, tocando em todos os pontos essenciais para captar a atenção do ouvinte. Melhor tema introdutório não havia.

Furthest Thing“, a malha que entra logo a seguir, foi a que mais tempo mantive na minha cabeça. Desde há uns anos para cá que é muito raro alguém me conseguir surpreender com um tema de amor. As letras começam a soar idênticas, os beats parecem clichés, também eles sempre muito parecidos. O amor sempre foi pintado como algo demasiado perfeito. Segundo Drake, ele acha estar longe da perfeição, tal como todas as outras pessoas que ele conhece. Estamos todos algures entre duas medidas. E quem diz no amor diz em tudo o resto.

Somewhere between psychotic and iconic
Somewhere between I want it and I got it
Somewhere between I’m sober and I’m lifted
Somewhere between a mistress and commitment

É assim que Drake inicia a segunda faixa do álbum. O número 2 também tem relevância aqui. O “estar” entre algo, no meio. Para que isso aconteça precisamos de ter dois parâmetros de comparação – o 0 e o 1, o negativo e o positivo, o mais e o menos. Mas, ao contrário do que muito se comenta, Aubrey Graham não fala só de mulheres e de amor. Fá-lo com regularidade, é verdade, mas faz diferente. De outro ponto de vista. E neste tema basta olhar para a introdução novamente para entender que não é só de amor que se fala durante o tema.

Seguindo em frente, é “Started From The Bottom” que nos aparece. Aqui em três temas já ouvimos um bom bocado de tudo. Introspecção, amor e um banger com uma letra a retratar a realidade, em vez do vulgar egotrip. E ficamos com vontade de ouvir mais. O primeiro single do álbum foi lançado com videoclipe logo no inicio de 2013 e durou… Durou para sempre. É um dos maiores êxitos do hip hop da nova geração, uma malha incontornável desse ano de 2013 e, até mesmo, do presente. Toque ela onde tocar, a que hora for. Não conheço ninguém que a ouça e já se sinta enjoado do tema.

É um álbum com muito material para ser explorado. Voltar a ouvi-lo hoje para escrever é como se o estivesse a ouvir pela primeira vez. E poderíamos ficar horas a falar dele. Destaquei os três primeiros temas porque, curiosamente, são também os meus favoritos. Mas podíamos pegar noutros três, ou até no álbum inteiro. Uma coisa é certa, quando carregamos no play e começamos a escutar não há como dizer que não à sua audição. Por mais pessoas que possam escrever em conjunto com Drake, a verdade é que as letras estão lá, no ponto. Os beats vêm de onde a nossa imaginação ainda não conseguia alcançar na altura. Grandes trabalhos de Noah “40” Shebib, Boi-1da ou Nineteen85. Jhené Aiko também marca presença, ela que, para mim, é já uma das divas do rap game, acrescentando sempre algo de positivo em todas as participações que tem entrado. Jay-Z também dá outro brilho à lista de convidados e é sempre um nome a ter em conta, embora tenha ficado bastantes furos abaixo daquilo que, para mim, é expectável da parte dele.


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