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Publicado a: 21/06/2017

Don L: “Tenho uma certa dificuldade em aceitar o envelhecimento como aceito a morte”

Publicado a: 21/06/2017

[TEXTO] Núria R. Pinto [FOTO] Direitos Reservados

A promessa é de que a 23 de Junho, próxima sexta-feira, um dos mais aguardados trabalhos de Gabriel Rocha, também conhecido por Don L, já possa ser ouvido na íntegra. Embora tenha passado relativamente despercebida em terras lusas, a aclamada mixtape Caro Vapor / Vida e Veneno de Don L, que o rapper brasileiro havia lançado há 4 anos, deixou na boca, e nos ouvidos, um gostinho semi-amargo e uma sede de ouvir muito mais daquela que é uma das maiores promessas da nova geração do hip hop, no país irmão.

 



Produzida por Léo Justi (MC Carol, M.I.A.), o videoclipe para “Laje das Ilusões”, 9ª e última faixa do álbum já em pré-venda, foi realizado pela fotógrafa norte-americana Autumn Sonnichsen. Lançada como single no final da semana passada, a faixa inaugura um novo momento para Don L: começa com Costa a Costa na mixtape Dinheiro, Sexo, Drogas e Violência de Costa a Costa (2007), firma-se com o aclamado Caro Vapor – Vida e Veneno de Don L (2013) e prepara, agora, o lançamento de Roteiro pra Aïnouz, Vol. 3, trabalho em que se esperam parcerias com Terra Preta, Diomedes Chinaski, Nego Gallo e Lay e reúne nomes como o guitarrista Fernando Catatau (Cidadão Instigado), o saxofonista Thiago França (Metá Metá) ou DJ Caique.

“É sobre essa sede de vida e essa sensação de estarmos sempre muito aquém das nossas possibilidades como seres humanos”, confessa à Rolling Stone Brasil. Pela primeira vez a falar para um meio português, Don L deixa algumas ideias em exclusivo para o Rimas e Batidas:

 



Em “Morra Bem, Viva Rápido”, single da primeira mixtape, estavas em recuperação de um acidente de moto que quase te tirou a vida e fazias, de alguma forma, uma ode à força que nos mantém vivos em momentos de desespero. Hoje, em “Laje de Ilusões” (2017), voltas a falar da rapidez da vida, das ilusões de controlo, da “morte da juventude”…

Tenho uma certa dificuldade em aceitar o envelhecimento como aceito a morte. Ultimamente tenho pensado que a gente precisa morrer mais e envelhecer menos, no sentido de aceitar e até provocar mais das pequenas mortes em nós mesmos. Deixar velhas noções morrer e novas experiências serem bem vindas. Acho que tanto individualmente quanto colectivamente, como sociedade.

Este segundo trabalho é, arrisco-me a dizer, um dos trabalhos mais esperados no hip hop brasileiro. Como tens lidados com essa pressão? Consegues senti-la?

É real, mas nenhuma pressão externa é maior que a minha pressão sobre mim mesmo (risos). Esse é o primeiro trabalho que vou chamar de álbum, o outro foi uma mixtape, e isso me traz uma pressão de verdade, porque eu queria que meu primeiro álbum fosse feito com um milhão de dólares de orçamento, o que ainda não foi o caso (risos). Mas eu encontrei um producer novo, muito talentoso, e que entende as minhas brisas, o Deryck Cabrera, que me ajudou a tornar possível contar essa história passando o feeling certo. É uma trilogia em ordem inversa. Você tem que sentir o que eu ‘tô dizendo quando eu rimo o que eu rimo; tem que ver o que eu vi quando eu vi o que eu vejo, quando eu rimo sobre o que eu vi, saca ? E ir além disso. E sentir aquele contexto. E pensar sobre seu lugar no mundo e sua busca. Se eu não puder passar esse sentimento vai ser só mais uma história entre milhares.

Meteste o dedo na ferida na tua participação em “Poetas no Topo 3.1“: machismo, racismo, a situação política no Brasil, a fama vazia… Quem te conhece sabe que não tens medo de apontar o dedo: vem aí um álbum de intervenção? O que podemos esperar?

É, eu tenho esse lance quando pego a caneta p’ra fazer rap, de falar o que estiver no meu coração naquele momento e com esse disco talvez ainda mais que antes. Mas nunca faço isso de maneira vazia, sem ter o foco principal nas ideias. Temos que ser propositivos. Mesmo que em algum momento eu cite pessoas, eu deixo clara a noção de que ali elas são só personagens dentro de um contexto no tempo e espaço, que é maior que elas, maior que eu. Eu algumas vezes nesse disco questiono a mim mesmo e exponho meus caminhos, meus erros e acertos na minha própria busca.

Proponho-te uma troca de bandeirinhas Brasil/Portugal. O que temos mesmo que ouvir? Há algo nacional que te tenha agarrado?

DL – Do Brasil? Kamau. Português, The Free Food Tape do Slow J.

 


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