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Publicado a: 21/10/2017

dmso: “a left turn é a materialização do início do meu percurso como produtor”

Publicado a: 21/10/2017


[FOTO] Direitos Reservados

“six day run” é a nova faixa de dmso, tema que podem ouvir em exclusivo no SoundCloud do Rimas e Batidas. No meio caos digital, o produtor não sucumbiu ao “barulho” e emergiu com elegância e determinação. Esta é a sua introdução “a sério”.

First things first: Diogo Moreno é um artista de Castelo Branco que actualmente reside em Lisboa. A sua aventura no hip hop, enquanto dmso, é recente, mas proveitosa. O cunho pessoal que emprega nas suas batidas chamou a atenção do ReB durante o desafio da Novation. Em jeito de desafio, convidámo-lo a produzir um novo instrumental e a resposta surgiu com “six day run”, música que mistura samples de guitarra portuguesa a uma forte batida e uma linha de baixo bem saliente.

O produtor volta a recorrer à herança do repertório musical nacional para nos apresentar esta travessia pelas memórias do fado. No desafio proposto aos produtores nacionais, que o Rimas e Batidas lançou em Maio, dmso vestiu as vozes de TNT e Carlão com um beat inspirado no clássico “Latin’América”, dos Jafumega.

Neste ano de viagem pelos trilhos do hip hop, Diogo Moreno demonstrou uma aprendizagem bastante positiva e isso nota-se ao ritmo de cada edição que surge no seu portefólio digital. Entre Bandcamp, SoundCloud e Youtube, já são vários os singles que assina como dmso. Um trabalho de auto-descoberta em busca daquela que será a sua própria sonoridade e identidade. O seu EP de estreia, a left turn, editado em Julho passado, oferece algumas pistas sobre qual será o caminho que irá percorrer nos próximos tempos. O uso dos samples passa para segundo plano e ficam as linhas melódicas, que compõe no Ableton Live, com o papel principal nas suas orquestrações digitais.

Numa troca de e-mails proveitosa, o Rimas e Batidas foi à procura do que move o produtor:

 



Estreaste-te há um ano no Bandcamp e no SoundCloud. Fala-nos um pouco sobre ti e como é que descobriste esta apetência para a produção.

A música já me acompanha há bastante tempo. A vertente de produção e composição vem desde o secundário, onde tinha aquela típica banda em que tocávamos as malhas que batiam na altura e até alguns originais. Até então o contacto com o hip hop era muito superficial, sendo que a minha “escola” era realmente o rock alternativo. Mais tarde, quando vim para a faculdade, o dia-a-dia de Lisboa e a cultura urbana cultivou o hip hop em mim, de tal forma que voltei novamente a sentir aquela necessidade de me exprimir artisticamente e de dar um pouco de mim ao movimento. E, basicamente, o dmso nasceu há cerca de 1 ano, quando comprei uma MPD218 com o simples intuito de brincar com samples e de satisfazer esse tal bichinho de voltar a fazer música. Inevitavelmente, passado umas semanas comecei logo a produzir as primeiras batidas.

Lançaste algumas faixas mais verdes de início, muito em torno da clássica técnica do corte e costura de samples, algo comum na escola do hip hop. Agora mostras-te com um cunho mais electrónico em que já recorres com mais frequência a outros elementos que tornam os teus temas em algo mais pessoal. Como se deu essa passagem? Que equipamentos/softwares usas?

Sinceramente, o que fez com que eu tomasse esse rumo foi o facto de não me sentir realizado a fazer algo que fosse mais do mesmo ou a fazer algo do qual já se tem feito bastante. Quando produzo, faço com que os meus beats falem por si só, não sendo de todo pensados para que um MC possa cantar por cima. Para isso costumo recorrer muita vez a ambientes cheios de synths/pads espaciais e ao uso de bastantes breaks, usando sempre o Ableton Live como DAW. Outra razão é a que as minhas bases e referências musicais sempre foram géneros mais alternativos que não o hip hop, tendo sempre existido em mim aquela necessidade de fazer algo mais introspectivo e diferente. O objectivo principal sempre foi fazer algo que fizesse sentido para mim, nunca dando muita importância ao facto de se isto ou aquilo estava na “moda”. E a essência da “electrónica” nos meus sons vem precisamente daí, da irreverência do que poderá surgir a seguir e de não colocar barreiras no processo criativo. Isso permite-me explorar várias abordagens musicais. Se eu sentir que um som trap está a puxar para uma vibe mais electrónica no fim, porque não fazê-lo?

Essa acaba por ser uma das marcas do teu EP de estreia. Como surgiu a left turn?

a left turn é a materialização do início do meu percurso como produtor e das minhas ideias num formato com pés e cabeça. Este EP simboliza a minha curva à esquerda por assim dizer (as mais difíceis de se fazerem, à partida), e o meu ponto de viragem, em que me tento desviar um pouco do meu destino e percurso óbvio, que eventualmente passará pela conclusão do meu curso e inserção no mercado de trabalho. É um trabalho que acaba por ser uma viagem ao meu estado de espírito na altura e que tem vários pormenores e referências, às vezes não muito perceptíveis, mas que obviamente para mim fazem todo o sentido.

Surgiste no radar do Rimas e Batidas quando participaste no nosso concurso da Novation. Como foi a experiência de revisitar um tema do TNT com o Carlão? Já tinhas trabalhado com algum MC, em temas originais ou remisturas?

Foi uma experiência muito positiva. Embora na altura não tenha ficado entre os seleccionados, diverti-me imenso com o desafio e tive a oportunidade de pela primeira vez fazer uma remistura com um a cappella num instrumental meu. Ainda não tive oportunidade de trabalhar com MCs, mas lá está, também nunca fiz muita questão para que isso acontecesse. Recentemente tem havido algumas ideias e propostas de alguns MCs, e se tudo correr bem vão então surgir coisas bastante interessantes num futuro próximo.

Agora lançámos-te um desafio mais pessoal, ao qual respondeste com uma particularidade idêntica à tua participação no passatempo: o uso de samples do repertório musical nacional. O que te levou a explorar esse caminho?

Samplar algo é dar uma nova vida e identidade à musica original, é quase como criar arte a partir de arte. E nada me dá mais prazer do que fazer isso com músicas portuguesas, porque, ao mesmo tempo que estou a contribuir com nova música para o espólio nacional, também estou a homenagear também a música portuguesa. Uma das outras razões acaba por ser um dos clichés muito comuns dos produtores, que é a de usar samples únicos e que nunca ninguém ainda usou, e dentro do panorama nacional tens certamente muito mais material “virgem” e sonoridades mais atípicas do que o típico soul, gospel ou blues dos states, por exemplo.  O fado é um exemplo perfeito! Uma sonoridade única do nosso país e que combina muito bem com hip hop e trap.

No mês passado lançaste o single “the waves are not only in the sea”, que sucedeu ao EP que tinhas editado em Julho. O que se segue agora? Que planos reservas, por exemplo, para o ano que se avizinha?

Sem grandes expectativas, o futuro passará pela colaboração com alguns MCs, também eles ainda não muito conhecidos da tuga, mas com os quais me identifico em termos artísticos. Passa também por continuar a lançar projectos a solo, continuando sempre a busca pela sonoridade perfeita. Sinto que ainda tenho muito para crescer, quer a nível técnico como a nível de maturidade musical, mas sinto também que tenho muito para dar. O objectivo é no fundo continuar a produzir e ir abordando cada vez mais novos géneros e sonoridades. Desde que se faça boa musica, é o que interessa, não é?

 


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