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Publicado a: 04/07/2018

“A distância entre Brasil e Portugal deveria encurtar-se mais”: Team rap canarinho prepara embate na Ericeira com show no Musicbox

Publicado a: 04/07/2018

[TEXTO] Núria R. Pinto [FOTO] Direitos Reservados

Mais de 20 anos de carreira. Indiscutivelmente, um dos melhores álbuns que a música – sim, a música e não apenas o rap – brasileira produziu em 2017. Uma das vozes – senão a voz — femininas mais activas no movimento hip hop contemporâneo do outro lado do Atlântico. Livros lançados, milhares de milhas aéreas percorridas e milhões de plays. Não é para ter medo. É para ter respeito. Fióti, DJ Nyack, Rincon Sapiência, Drik Barbosa, Kamau e Rashid devem estar a aterrar em Lisboa pela hora a que esta entrevista começar a ter os primeiros leitores e se tiverem que pagar o excesso de bagagem será certamente pelos argumentos de peso que carregam com eles.

O Musicbox recebe, esta noite, o “Bonde Fantasma”: uma equipa formada pelos quatro membros do Laboratório Fantasma de Emicida e reforçada em palco com a presença de Rashid. Apresentam-se um a um no Cais do Sodré e, 48 horas depois, Rincon Sapiência substitui Fióti no Sumol Summer Fest para fechar o grupo que enfrenta a comitiva portuguesa de Gson, Holly Hood, Papillon, Sir Scratch e DJ Big. Alguns são novos nestas andanças e outros, um pouco mais acostumados ao sotaque menos açucarado que vão encontrar à chegada. No entanto, todos expressam a mesma confiança: chegam prontos para ganhar mas, no final do dia, quem sai vencedor é o público.

O Rimas e Batidas falou com o grupo, ainda antes de deixarem São Paulo.

 



Chegam a Portugal para dois formatos inéditos: uma apresentação conjunta e, dias depois, um espectáculo que põe frente-a-frente duas “equipas” de peso. Como é que surgiu esta ideia?

[Fióti] Depois do sucesso que foi a História do Hip Hop Tuga no Sumol Summer Fest do ano passado, o Luís Montez [organizador do festival] quis voltar a inovar e fazer um show que juntasse rappers portugueses e brasileiros numa “batalha”. A [produtora] Faded convidou a LAB Fantasma para o projecto e, juntos, fizeram a curadoria artística do show, juntando esses artistas que irão representar Brasil e Portugal. Será uma experiência incrível de forma a mostrar 8 MCs gigantes e 2 DJs e aproximando ainda mais o rap feito nos dois países! Estamos trabalhando, também, em uma colaboração inédita entre os artistas que será apresentada pela primeira vez ao vivo no SSF.

[Rincon Sapiência] Eu achei bem interessante muito pela oportunidade de estar participando no festival mas também pelo team que foi montado. O pessoal está trabalhando muito por aí mas nem sempre a gente se cruza, então, vamos ter oportunidade de fazer parte de um projecto interessante! E acho que essa distância deveria se encurtar ainda mais, de Brasil e Portugal…

De que forma se prepararam para estes dois espectáculos?

[Drik Barbosa] Montámos juntos um show onde cada um possa mostrar seu trabalho e, ao mesmo tempo, mostrar a força do rap brasileiro. Temos clássicos e músicas recentes de cada artista e quisemos manter algo equilibrado para optimizar o tempo que teremos, também!

[Kamau] Será um trabalho de time com entrosamento e revezamento entre nós que foi muito bem ensaiado. No show do Musicbox poderemos mostrar um pouco mais e eu contarei bastante com a sintonia que tenho com DJ Nyack e, com certeza chamarei a Drik e o Rashid, pra fazerem algo comigo também!

[Rashid] No Musicbox a responsabilidade é um pouco maior… A experiência do show também é diferente para o público. É minha primeira vez na Europa então, na minha visão, esses shows têm um tom de introdução ao meu trabalho. Tenho pensado bastante nisso… Já no Sumol Summer Fest, como são várias pessoas no palco, a resposta é dividida e a apresentação se torna mais divertida em novos aspectos, ainda mais nesse formato, com um time de peso do “outro lado”!

[Rincon] No fundo a gente tem se organizado para mostrar o individual e o colectivo de uma forma bem dinâmica. Eu acho que vai ser bem legal.

Já conheciam os MCs que compõem a “equipa contrária” no Sumol Summer Fest ou fizeram uma análise pré-jogo?

[Rashid] [Risos] Eu já conhecia o trabalho de alguns dos caras, principalmente do Gson, Holly Hood e Papillon. Acompanho vários artistas do rap português e sou fã. Gosto muito da técnica, versatilidade e de como o português falado em Portugal permite rimar algumas palavras que no Brasil não rimariam!

[Drik Barbosa] Conhecia um pouco do trabalho do Holly Hood mas fiz “análise” pra conhecer o trabalho dos outros MCs!

[Rincon] Eu acompanho bastantes coisas do que rola em Portugal e em Angola, também, pois sei que muitos angolanos se apresentam em Portugal. Mas confesso que esses artistas eu não conhecia e fiz essa análise para jogo! Acho que, nos países de língua portuguesa a gente tem apresentado uma crescente na linguagem de rap, qualidade das produções, então, gostei bastante da rapaziada… Tem um pouco esse clima de clash! [Risos] Mas o que vai valer mesmo é a conexão! De qualquer a forma a análise foi feita e estamos com o esquema táctico já montado, eu diria! [Risos]

[Kamau] O “jogo” vai ser dos melhores!

 



Para alguns de vocês é a primeira vez que pisam palcos portugueses. Têm noção da forma como o vosso trabalho é recebido aqui?

[Drik Barbosa] Ainda não tenho noção mas estou empolgada para saber como será a receptividade. Espero que seja boa para que possa voltar em breve com um novo projecto…

[Kamau] Tenho uma ideia mas fico muito feliz, principalmente, por estar num país europeu onde me entendem para além da sonoridade. Já estive noutros outros países europeus mas sempre quis chegar a Portugal da melhor maneira. Acho que esta será uma óptima oportunidade!

[Rashid] Na verdade, eu vejo diversos comentários de fãs portugueses nas minhas redes! Fico imensamente feliz em saber que meu som bateu aí, ainda mais sabendo da qualidade dos MCs tugas. Mas não tenho uma noção precisa… Espero me surpreender! [Risos]

O rap brasileiro vem de um ano de ouro com produções de peso, em 2017, aclamadas não só pelo próprio meio como pela crítica musical generalista. O que é que isso significou para vocês em termos das vossas carreiras individuais?

[Rincon] Para mim foi um ano bem especial porque, para além de ter conseguido girar bastante, fazer minha tournée na Europa e girar por quase todo o Brasil, eu vejo meus amigos de trabalho fazendo a mesma coisa. Directos nos aeroportos, encontrando outros artistas de rap, de funk… Música de periferia no geral. Quando a gente vai em bloco é muito melhor. Melhor que você ter uma referência grande é você ter várias.

[Drik Barbosa] É um passo importante para nós que esteja chegando esse reconhecimento… De que o rap pode contribuir tanto para a cultura e entretenimento quanto qualquer outro género musical que temos no Brasil. Fico feliz que estejamos ocupando cada vez mais espaços e que nossa arte e mensagem esteja chegando em cada vez mais pessoas. Isso me motiva a continuar me dedicando à música…

[Rashid] Eu completei 10 anos de carreira e sem dúvida foi o meu melhor ano em termos de produção, lançamento e números nas plataformas. Foi um ano surpreendente e de muito trabalho. Terminei meu livro, lancei 10 músicas com 10 clipes e fiz muitas coisas especiais… Acho que isso é um óptimo sinal não só pro Rashid mas, mais uma vez, para a nossa arte como um todo.

[Kamau] É tudo isso… A consolidação de nomes que eu pude acompanhar desde o início! E para a minha carreira significa novos desafios pra me manter relevante nesse cenário de alta rotatividade.

 



De que forma olham para a relação entre o rap BR e o mercado europeu? Sentem que pode até ser uma alternativa mais interessante que o mercado norte-americano ou que poderá esgotar-se em Portugal, por condicionantes da língua?

[Kamau] A barreira da língua existe e não podemos negá-la. Mas creio que possamos chegar a mais lugares com nossa música pelo sentimento que ela expressa e pela entrega que temos no palco. Foi assim que aprendi e é isso que aplico sempre no que faço…

[Rincon] As minhas referências passam muito pela Europa no que diz respeito a timbragem de som, mixagem, masterizaçao, moda… Tem uma série de coisas nas quais a Europa me fascina. Eu também bebo muito da fonte africana e a África é muito presente no continente europeu…. Eu diria que, por mais que exista uma afro descendência no Brasil, o continente africano tem uma conexão um pouco mais próxima do europeu. Então eu bebendo de fontes africanas me conecto com a Europa várias vezes, seja Portugal, Inglaterra, França… Claro que tenho vontade de conhecer a América do Norte mas as minhas referências estão mais na Europa e em África mesmo.

[Rashid] Na minha visão, e embora existam costumes e visões de mundo diferentes, acredito que é possível estabelecer uma relação musical entre os países da lusofonia. O idioma será a ponte que permitirá que a gente troque outras coisas que possam enriquecer nossa cultura. Nosso rap, de nós todos, é muito rico em lírica, vivência, conhecimento… Se criarmos esse laço, seremos um grande mercado.

O que podemos esperar da vossa apresentação conjunta no Musicbox? 

[Rashid] 200% de dedicação, primeiramente! (Risos) Estamos preparando coisas especiais. Entre minhas músicas por exemplo, eu tentei inserir pequenos “petiscos” da história da música brasileira. Espero que o pessoal goste!

[Drik Barbosa] No meu show vou apresentar minhas músicas solo que contam com a mistura que faço de rap e r&b. Apresentarei músicas do meu primeiro EP Espelho, lançado esse ano, e versos de colaborações importantes que fiz, até então. Participarei também do show do Kamau cantado a colab que fizemos… Para mim é incrível estar no mesmo palco com eles, pois sou muito fã! Será uma noite linda e importante para nós e para as nossas carreiras.

[Kamau] Muita rima e história na bagagem. Muita energia e entrega no palco. E farei o possível pra que seja o início de uma sólida conexão….

Para mim, enquanto apaixonada pelo rap brasileiro, vai ser uma batalha muito difícil de assistir, a do Sumol Summer Fest… O que acham que vos coloca em vantagem para saírem “vencedores”?

[Rashid] Questão difícil! [Risos] Estamos tentando levar todo o tempero zuca que podemos mas na minha visão, isso nem é uma batalha! Está mais para um grande encontro.

[Rincon] [Risos] Esse lance do vencedor é um pouco lúdico, né? Porque quando se trata de música é uma entrega que a gente faz para o público e quem tem que ganhar é ele! Mas eu boto muita fé no nosso time, pela qualidade histórica… E o momento que a gente vive no Brasil. A gente está vindo de uma temporada quente, né? Eu, particularmente, estou fazendo muitos shows, gravando muito. Então já vou chegar em forma e meus amigos também! Eu vejo que estamos prontos para ganhar esse clash, aí! [Risos]

[Drik Barbosa] Cada um de nós tem muita versatilidade e uma identidade marcante. Temos umas surpresas também na apresentação!

[Kamau] “Jogaremos” longe de casa e sem torcida. Mas, é isso: temos um time de várias características e cada membro desse time é muito versátil… Com certeza sairemos com mais que os “3 pontos”!

 


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