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Publicado a: 11/08/2017

Criolo n’O Sol da Caparica: A aula de hoje é sobre transformação

Publicado a: 11/08/2017

[TEXTO] Núria R. Pinto [FOTOS] Hélder White

Com dois álbuns lançados recentemente – uma reedição de Ainda Há Tempo e uma ode ao samba em Espiral de Ilusão – a dúvida residia, exactamente, sobre que Criolo iríamos encontrar em cima do palco. A resposta chegou com peso: DJ DanDan e Marco acompanhavam um MC que, aos saltos, entrou com “É o Teste” perante uma plateia que foi crescendo. Seguiram-se “No Sapatinho” e “Até Me Emocionei” antes das primeiras palavras dirigidas ao público.

“Muito amor, muito amor, muito obrigada. Estou aqui homenageando todos os professores, todos os oficineiros, todos os educadores do Brasil e de Portugal que merecem respeito e até hoje não são respeitados.”

 


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Foram 7 anos a trabalhar como educador e mais de 10 a trabalhar com crianças e jovens que ajudaram a sedimentar no MC a certeza de que o único caminho do sucesso é o que junta a educação ao amor pelo crescimento consciente. O rapper terminou o ensino secundário acompanhado pela melhor colega de carteira: a mãe. A própria tem, ainda hoje, um café filosófico no Grajaú, zona sul de São Paulo.

Estava dado o mote para “Duas de Cinco” e se “no meio do caminho da educação havia uma pedra” essa seria, imediatamente, arremessada ao congresso em “Chuva Ácida”. Terminava “Lion Man” quando se começaram a ouvir os primeiros, e inevitáveis, comentários politicos, de dentro e fora do palco. No público, maior que a bandeira brasileira que surgia na primeira fila, só mesmo a faixa, em rosa vivo, estendida por mais de 10 pessoas em que podíamos ler: “Fora Temer.”

Em entrevista antes do concerto, Criolo já expressara ao ReB as suas preocupações com a realidade social e política do país. “Consulta do povo? Acabou o assunto. Vivemos uma gangrena, a democracia já foi enterrada há muito tempo. Vivemos uma gangrena social absurda, uma falta de respeito que agora é escancarada. Antigamente, eles tentavam esconder, mas agora está escancarado e dane-se.”

 


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“Grajauex” dava continuidade a um espectáculo que já se percebera que iria continuar quente em cima do palco e manter-se relativamente morno cá em baixo, apesar da massa de gente. Um público bastante jovem – à espera de Regula, talvez – contrastava com a geração mais velha que se tinha deixado ficar depois do concerto de Mariza. Uma sanduíche demográfica e de géneros que em nada contribuiu para abalar a energia do rapper. No entanto, deixou-nos, certamente, expectantes por vê-lo perante uma plateia e num palco que lhe dessem um ambiente só seu.

“Cada um de vocês é um ponto de luz no planeta, é transformação para o planeta e para o mundo. Música é encontro e nós somos apenas uma trilha sonora para o encontro. A grande mágica acontece quando a juventude se reúne, quando vocês se reúnem e trocam as suas ideias para a melhoria, para um país melhor. Que a gente possa viver com menos desigualdade social, com menos preconceito, chega de preconceito. E se você é a favor da causa faça barulho!”

 


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Fez-se dança, no entanto, para acompanhar “Mariô” e “Samba sambei” e, de seguida, “Pé de Breque” e “Sucrilhos”, temas que serviram para não nos esquecermos de que, para além da lírica e do timbre, é inconfundível a capacidade vocal do homem em cima do palco. Um vozeirão é o termo certo.

“Não Existe Amor em SP” concorria a momento mais importante da noite, mas foi em “Convoque Seu Buda”, faixa final do set na Caparica, que as coisas voltaram a aquecer. A experiência e maturidade adquiridas ao longo dos anos não fazem com que seja mais fácil abandonar o palco, confessava-nos antes do espectáculo: “Eu não quero que acabe nunca esse momento. Eu dedico a minha vida toda a isto. Já são 30 anos dedicando a vida a esse momento: a poder ter a honra de subir num palco.

Espiral de Ilusão não teve lugar num espectáculo que passeou pelos três primeiros trabalhos do MC, sem que isso tivesse chegado a ser um problema, no entanto. Foi, sim, uma valente aula de rap, dada por um professor que sabe muito bem como ocupar o seu lugar no púlpito. A honra é nossa, Criolo!

 


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