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Publicado a: 20/04/2017

Chinoiseries pt.3: Onra já serviu a última parte da refeição

Publicado a: 20/04/2017

[TEXTO] Diogo Santos [FOTO] Direitos Reservados

Arnaud Bernard, o produtor e fazedor de beats que vão do espectro do hip hop ao funk, fechou a sua obra mais conceptual há umas semanas. Com a edição de Chinoiseries pt.3, Onra, francês com ascendência vietnamita e nascido na Alemanha, colocou o ponto final num trabalho que arrancou quando, em 2006, regressou da China com a mala cheia de discos de música tradicional daquela região do globo.

A música do produtor sempre respirou ares de todo o lado. Entre França, Alemanha, Vietname, China e até Costa do Marfim, onde viveu com a mãe durante umas temporadas, Arnaud Bernard nunca se envergonhou dos locais de onde veio e, sobretudo, dos locais para onde vai e para onde volta – e aqui, não parecendo, já estamos a falar do hip hop, do r’n’b, do funk, do electro… “Não fui à procura das minhas origens”, disse à Time Out de Kuala Lumpur. Ou seja, a brincadeira com o corta e cola de música tradicional chinesa e hip-hop aconteceu por mero acaso. Onra encontrou muito material quando estava de férias e, depois, em duas semanas concluiu aquela que hoje é a primeira de três partes de Chinoiseries. Estávamos em 2007 e esta edição DIY andava a consumir bits e megabits nos servidores do MySpace. Onde é que isto já lá vai… em 2008, passa pela famosa Red Bull Music Academy e começa, então, a cimentar a sua posição no panorama do hip-hop e dos seus meandros. É, com naturalidade, que se seguem Long Distance (2010), e outros EP e colaborações.

Na última década, Onra deambulou pelas várias fronteiras do hip hop e seus derivados. Ou do funk e seus derivados. Ou do jazz, género que visitou com o amigalhaço Buddy Sativa. Ou do dub/reggae, projecto que tem na gaveta. Ele e a máquina (claro, a MPC da Akai) são inseparáveis. Ora para produzir, ora para cortar, ou para colar e, claro, para actuar ao vivo. Mas Bernard, que também já se entregou aos prazeres dos computadores, continua a cozinhar grande parte das suas ideias na máquina que muito contribuiu para dar músculo ao hip hop dos anos 90. DJ Shadow, está tudo?!

Em 2011, Onra regressa aos sons chineses e vietnamitas, e ao seu projecto meio de outsourcing d’”a música asiática a gostar dela própria”. Trocadilho propositado. No Chinoiseries pt.2 volta a pegar no material que recolhe nas férias e aplica-lhe o mesmo método que havia utilizado quando ainda era só mais um artista de MySpace. Esta segunda parte não foi tão bem recebida. Afinal, o ainda jovem produtor estava a voltar ao “local” onde antes havia sido feliz e, voltando a evocar DJ Shadow, já se sabe que “you can’t go home again”… Onde é que isso já se viu? Não entenderam, então, que a casa de partida serviria para o catapultar para outras experiências sensoriais, ou seja para o Yatha Bhuta Jazz Combo, em duo com o já supracitado Buddy Sativa. Mais tarde, em 2015, regressa ao hip hop e ao r’n’b. Chama para perto de si nomes como Do Or Die ou Black Milk, e baptiza o disco com o título Fundamentals. Quis separar-se dos restantes ao afirmar orgulhosamente que o álbum era todo obra da sua tão querida MPC1000… Mas já estava na altura de mais uma vez fazer as malas.

Regressa à Ásia e, desta vez, à exploração de lojas de discos na Tailândia. Não vai, segundo o próprio, procurar as suas origens. Mas a recolha de material corre tão bem que decide concluir a trilogia. Em Março de 2017, o Chinoiseries pt.3 está pronto e Onra fecha este capítulo. Há até uma edição muito especial com as três partes. Talvez um ponto final. Certamente um ponto de partida. Arnaud Bernard estabeleceu-se como um dos mais interessantes artistas neste nicho cada vez menos particular da electrónica que não vê balizas nem limites. Depois de ter lucrado com as primeiras edições de Chinoiseries, Onra regressou ao Vietname, de onde é originaria a família do seu pai. Doou o dinheiro a um orfanato que havia visitado anteriormente “Poderia ter sido eu. Se os meus antepassados não tivessem escolhido sair… Isto comoveu-me. Vou voltar. Vou recolher discos. Depois regresso a França, faço um álbum e mando o dinheiro todo de volta” – em Onra: a guided tour.

Com tanto carimbo no passaporte e com os seus Indiana Pacers no playoff da NBA, nem Onra saberá para onde ir a seguir. Vai visitar o funk? Ou homenagear o ídolo J Dilla? Volta ao jazz? Tira da gaveta o projecto de dub/reggae? A MPC e a mesa de mistura estão prontas. Há Baguette, Noodles e Kedjenou. E Donuts, muitos.

 


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